A história da humanidade é contada em ciclos e por intermédio dos grandes espíritos que, de tempos em tempos, encarnam para orientar e servir de exemplo aos homens. De todos os que já passaram por este planeta, o que mais se destacou, foi sem dúvida, Jesus. Tanto que a história do mundo ocidental é dividida, antes e depois do seu nascimento.
Mas como massa humana que se espalha por todo o globo terrestre, entendo que cada um dos habitantes deste planeta, a seu tempo e hora, faz parte da memória. Cada um é ator e protagonista da própria vida. Somos todos testemunhas da história. Neste contexto, a importância do registro da trajetória de cada um, que fica quase sempre, quando fica, adstrito à sua própria família, nos torna participantes ativos, embora anônimos, desse monumental movimento que é a vida.
Jean-Yves Leloup, escritor, PhD em Psicologia Transpessoal, filósofo, sacerdote hesicasta – aquele que dedica-se ao universo interior e à prece – , poeta e notável intérprete das palavras de Cristo, integrante da Igreja Ortodoxa, Â é um defensor ardoroso da união entre ciência e espiritualidade, tema desenvolvido ao longo de sua obra.
E nesta época da páscoa, que quando deixa de ser comemorada de forma festiva com tanta influência da mídia para nos levar a uma reflexão sobre o momento que estamos vivendo, somos chamados por Leloup a um entendimento verdadeiro do seu significado.Ele nos brindou com um poema, Páscoa, que transcrevo abaixo:
“Sede passantes
Este tema da passagem é o tema da Páscoa.
Pessah em hebraico, quer dizer passagem.
A passagem, no rio, de uma margem à outra margem,
a passagem de um pensamento a outro pensamento,
a passagem de um estado de consciência
a outro estado de consciência.
A passagem de um modo de vida
a um outro modo de vida.
Somos passageiros.
A vida é uma ponte e, como diziam os antigos,
não se constrói sua casa sobre uma ponte.
Temos que manter, ao mesmo tempo,
as duas margens do rio, a matéria e o espírito,
o céu e a terra, o masculino e o feminino
e fazer a ponte entre estas nossas diferentes partes,
sabendo que estamos de passagem.
É importante lembrar-se do caráter passageiro de nossa existência,
da impermanência de todas as coisas,
pois o sofrimento geralmente é de querermos fazer durar
o que não foi feito para durar.Â
A grande Páscoa é a passagem desta vida mortal para a vida eterna,
é a abertura do coração humano ao coração divino.
É a passagem da escravidão para a liberdade,
passagem que é simbolizada pela migração dos hebreus,
do Egito para a terra Prometida.
Mas não é preciso temer o Mar Vermelho.
O mar de nossas memórias, de nossos medos, de nossas reações.
Temos que atravessar todas estas ondas,
todas estas tempestades,
para tocar a terra da liberdade,
o espaço da liberdade que existe dentro de nós.Â
Sede passantes.
Creio que esta palavra é verdadeiramente um convite
para continuarmos nosso caminhoa partir do lugar onde algumas vezes paramos.
Observemos o que para a vida em nós,
o que impede o amor e o perdão,
onde se localiza o medo dentro de nós.
É por lá que é preciso passar, é lá o nosso Mar Vermelho.
Mas, ao mesmo tempo, não esqueçamos a luz,
não esqueçamos a liberdade,
a terra que nos foi prometida”.
Disse tudo.
(*) Testemunhas da História.