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Heitor Freire

^Ne’ëryru

ÑE’ĒRYRU
Cultura é o conjunto de manifestações artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais de um povo ou civilização. Uma das atividades literárias mais exigentes, sem dúvida nenhuma, é a do dicionarista, do lexicógrafo. Ele tem que suar muito. No prefácio da segunda edição do Aurélio, o autor cita uns versos de Carlos Drummond de Andrade:
“Lutar com palavras
É a luta mais vã.
Entanto lutamos
Mal rompe a manhã”.
E complementa: “Em nossos casos particulares – o do Poeta e o deste aprendiz de lexicografia – há um diferença (deixem passar a confissão): a luta de Drummond principia ‘mal rompe a manhã’, a do aprendiz ordinariamente, vai até a manhã”.
Os dicionários remontam aos tempos antigos. Acredita-se que o dicionário tenha se originado na Mesopotâmia por volta de 2.600 a.C. Manufaturado em tabletes com escrita cuneiforme, ele informava repertórios de signos, nomes de profissões, divindades e objetos usuais, que funcionavam como dicionários unilíngues.
Os gregos no século I criaram os lexicons para catalogar os usos das palavras da língua grega. Os gregos e os romanos já os utilizavam para esclarecimentos de dúvidas, termos e conceitos. Todavia, não eram organizados em ordem alfabética. Limitavam-se às definições de termos linguísticos ou literários.
Foi somente no fim da Idade Média que houve o surgimento de dicionários e glossários organizados alfabeticamente. Quando as glosas desses manuscritos latinos tornaram-se numerosas, os monges as dispuseram em ordem alfabética para facilitar a localização. Com isso, surgiu uma primeira tentativa de dicionário bilíngue latim-vernáculo, ou seja, do latim e para a língua local da edição. Com o advento da imprensa, no século XV, alavancou-se a difusão e o uso de novos dicionários.
Aterrissando em nosso tempo e lugar, gostaria de apresentá-los ao Dicionário Guarani-Português/Português-Guarani, de autoria de Cecy Fernandes de Assis, um alentado volume de 954 páginas, lançado em 1999.
Cecy nasceu em Iguatemi, cidade ao sul do nosso estado, onde antigamente só se falava em espanhol e guarani. Mas na época da Segunda Guerra Mundial, o então presidente Getúlio Vargas baixou um decreto proibindo que se falasse alemão, italiano, japonês e também as línguas indígenas. Por isso os pais de Cecy tiveram que aprender a falar português. A partir daí que o guarani entrou no DNA da Cecy.
Cecy se casou com Luiz Carlos Pinho de Assis, funcionário do Banco do Brasil, em Ponta Porã. Fomos colegas no banco, nessa época, nos anos 60. Depois eles se mudaram  para Bauru, onde ela se graduou pela faculdade de Filosofia e Letras. Cecy é uma escritora nata, autora de mais de dez livros e muito perseverante.
Ela participou durante quatorze anos do Prêmio Casas de Las Américas em Cuba até que em 1999 conquistou o primeiro lugar, com o livro de Poesias “El Debo Del Es”. O prêmio foi de 3 mil dólares, o que lhe permitiu financiar a primeira edição do seu dicionário. E apesar do desinteresse inicial das editoras, o dicionário vendeu muito bem. A segunda edição já se esgotou e uma terceira está a caminho.
O dicionário da Cecy é, atualmente, parte do material de apoio no curso de guarani da USP. Está à venda no Paraguai, Argentina, Estados Unidos, Alemanha e nas grandes livrarias do Brasil.
As duas primeiras edições foram diagramadas por seu marido, Luiz Carlos. Na terceira edição tomará como base a diagramação do Oxford Portuguese/English Dictionary.
Para melhor entender a estrutura do guarani, a Cecy fez curso de japonês, porque segundo ela essas duas línguas têm a mesma estrutura linguística. Como parte da pesquisa de seu livro ela viajou ao Paraguai, onde fez curso com Bartomeu Melià, etnólogo, e Domingo Adolfo Aguilera Jiménez, hoje presidente da Academia de La Lengua Guarani/Aváñeé Rerekuapeve.
O título deste artigo, ÑE’ĒRYRU, significa dicionário em guarani.
Para melhor ilustrar o que representa a capacidade, competência e dedicação da Cecy, vou usar uma definição de mulher do seu dicionário: “Kuña Rembipe Mombyry” (mulher que brilha de longe).
Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.

Cultura é o conjunto de manifestações artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais de um povo ou civilização. Uma das atividades literárias mais exigentes, sem dúvida nenhuma, é a do dicionarista, do lexicógrafo. Ele tem que suar muito. No prefácio da segunda edição do Aurélio, o autor cita uns versos de Carlos Drummond de Andrade:

“Lutar com palavras

É a luta mais vã.E

ntanto lutamos

Mal rompe a manhã”.

E complementa: “Em nossos casos particulares – o do Poeta e o deste aprendiz de lexicografia – há um diferença (deixem passar a confissão): a luta de Drummond principia ‘mal rompe a manhã’, a do aprendiz ordinariamente, vai até a manhã”.

Os dicionários remontam aos tempos antigos. Acredita-se que o dicionário tenha se originado na Mesopotâmia por volta de 2.600 a.C. Manufaturado em tabletes com escrita cuneiforme, ele informava repertórios de signos, nomes de profissões, divindades e objetos usuais, que funcionavam como dicionários unilíngues. 

Os gregos no século I criaram os lexicons para catalogar os usos das palavras da língua grega. Os gregos e os romanos já os utilizavam para esclarecimentos de dúvidas, termos e conceitos. Todavia, não eram organizados em ordem alfabética. Limitavam-se às definições de termos linguísticos ou literários. 

Foi somente no fim da Idade Média que houve o surgimento de dicionários e glossários organizados alfabeticamente. Quando as glosas desses manuscritos latinos tornaram-se numerosas, os monges as dispuseram em ordem alfabética para facilitar a localização. Com isso, surgiu uma primeira tentativa de dicionário bilíngue latim-vernáculo, ou seja, do latim e para a língua local da edição. Com o advento da imprensa, no século XV, alavancou-se a difusão e o uso de novos dicionários. 

Aterrissando em nosso tempo e lugar, gostaria de apresentá-los ao Dicionário Guarani-Português/Português-Guarani, de autoria de Cecy Fernandes de Assis, um alentado volume de 954 páginas, lançado em 1999.

Cecy nasceu em Iguatemi, cidade ao sul do nosso estado, onde antigamente só se falava em espanhol e guarani. Mas na época da Segunda Guerra Mundial, o então presidente Getúlio Vargas baixou um decreto proibindo que se falasse alemão, italiano, japonês e também as línguas indígenas. Por isso os pais de Cecy tiveram que aprender a falar português. A partir daí que o guarani entrou no DNA da Cecy.

Cecy se casou com Luiz Carlos Pinho de Assis, funcionário do Banco do Brasil, em Ponta Porã. Fomos colegas no banco, nessa época, nos anos 60. Depois eles se mudaram  para Bauru, onde ela se graduou pela faculdade de Filosofia e Letras. Cecy é uma escritora nata, autora de mais de dez livros e muito perseverante. 

Ela participou durante quatorze anos do Prêmio Casas de Las Américas em Cuba até que em 1999 conquistou o primeiro lugar, com o livro de Poesias “El Debo Del Es”. O prêmio foi de 3 mil dólares, o que lhe permitiu financiar a primeira edição do seu dicionário. E apesar do desinteresse inicial das editoras, o dicionário vendeu muito bem. A segunda edição já se esgotou e uma terceira está a caminho. 

O dicionário da Cecy é, atualmente, parte do material de apoio no curso de guarani da USP. Está à venda no Paraguai, Argentina, Estados Unidos, Alemanha e nas grandes livrarias do Brasil. 

As duas primeiras edições foram diagramadas por seu marido, Luiz Carlos. Na terceira edição tomará como base a diagramação do Oxford Portuguese/English Dictionary.

Para melhor entender a estrutura do guarani, a Cecy fez curso de japonês, porque segundo ela essas duas línguas têm a mesma estrutura linguística. Como parte da pesquisa de seu livro ela viajou ao Paraguai, onde fez curso com Bartomeu Melià, etnólogo, e Domingo Adolfo Aguilera Jiménez, hoje presidente da Academia de La Lengua Guarani/Aváñeé Rerekuapeve. 

O título deste artigo, ÑE’ĒRYRU, significa dicionário em guarani.

Para melhor ilustrar o que representa a capacidade, competência e dedicação da Cecy, vou usar uma definição de mulher do seu dicionário: “Kuña Rembipe Mombyry” (mulher que brilha de longe).

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