Grande. Grande mesmo: no tamanho, na altura, no peso, mas sobretudo no coração, na alma.
Grande em tudo o que fazia.
Assim era Elias Chafic Ferzeli, meu irmão, meu amigo, meu parceiro, que nos deixou no último dia 6. Ficou uma sensação de vácuo, de vazio. Que, aos poucos, vai sendo preenchido pelas lembranças boas que ele deixou.
Nascido no Líbano, em 1941, em Baalbek, criado em El Karaoun, lugares históricos aqui chegou com seus pais, quando tinha 15 anos.
Exerceu muitas atividades, sempre com todo zelo e dedicação, alcançando êxito em todas elas nos ramos do comércio, imóveis e hoteleiro.
Foi presidente do Clube Libanês e também seu diretor social, contribuindo para torná-lo um local de encontro da sociedade campo-grandense.
Graduado em direito, fortaleceu-se mesmo no ramo imobiliário, com uma visão de futuro como poucos, onde lançou diversos empreendimentos em locais aparentemente sem atrativos e que com o seu toque de Midas se transformaram, com o tempo, em excelentes investimentos, tais como Vila Orsi, Tijuca I e II, Chácaras Moradia do Sol, Jardim Colúmbia, Chácaras dos Poderes, Tayamã Parque e Itanhangá Park, entre outros.
Dedicou sua vida a servir aos outros, mas sem descurar-se de si mesmo.
Encarnou com muita fidelidade o espírito de amizade e de solidariedade do libanês. Cultor da alegria de viver, fez da sua vida um hino ao amor.
Eu vivi muitos episódios com o Elias. Vou relatar alguns.
Quando eu era presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis (1980/1986), compramos do Elias um terreno com 1.500 m² no Itanhangá Park, para construção da sede própria, cujo pagamento foi facilitado ao extremo por ele. Mesmo assim tivemos dificuldades para pagar. Quando a coisa apertou, a saída foi fazer um empréstimo com o sr. Naim Dibo, avalizado por ele, Elias. No primeiro vencimento não pudemos pagar e tivemos que prorrogá-lo. Na prorrogação também não deu. Resumo da ópera: Elias pagou o sr. Naim e o nosso Sindicato levou um tempo enorme para poder cumprir o compromisso com ele. Mas cumprimos.
Na sua segunda administração como presidente do sindicato, Dalton de Souza Lima (1995/1998), propôs a denominação da sede própria com o seu nome, o que foi aprovado por unanimidade em assembléia geral, como lá está: Edifício C.I. Elias Chafic Ferzeli. Uma justa homenagem.
Realizamos muitos negócios juntos, sem documento escrito, tudo na palavra. Lembro-me quando comprei dele um certo número de áreas das Chácaras dos Poderes. Negócio realizado, pagamento efetuado, faltava a escritura. O que ele fez? Foi ao cartório do 1º ofício outorgando-me procuração de todas as chácaras, ou seja, documentalmente passei a dispor de todas as unidades. Assim era ele comigo. Quando ele vendia alguma chácara quem outorgava a escritura era eu. E isso tudo depois de termos levado um tempo enorme para o honrar o pagamento do terreno do sindicato.
Alguns anos depois, Eduardo, seu filho, me ligou perguntando se a procuração poderia ser cancelada e eu lhe disse que bastava lavrar o cancelamento que eu passaria no cartório para assinar, anuindo. Quando ficou pronto, o Joãozinho (João de Oliveira Rodi) me avisou, fui lá e assinei.
Mais um episódio com Elias: grande parte das áreas remanescentes das chácaras dos Nakazato foram vendidas por nós para a Uniderp – negociadas com o prof. Pedro Chaves, então reitor –, onde está construída a universidade. Cada negócio era um parto da montanha: de um lado os proprietários pessoas de uma simplicidade total – mas muito desconfiados, temerosos de dispor de um patrimônio a preço baixo –; de outro, o prof. Pedro Chaves. Quem já tentou negociar com ele, sabe como é difícil; mas depois que decidia, cumpria rigorosamente o negociado. Algumas negociações levaram dois, três anos. O Elias se impacientava, queria desistir, e eu dizia: “Calma que a gente chega lá”. E chegamos. Concluímos todos os negócios.
O escritório do Elias parecia um centro de romaria, tal a diversidade de pessoas que a gente lá encontrava. E ele recebia a todos. Com a mesma atenção e respeito.
Sempre procurando resolver as situações.
Daí o título deste artigo: O GRANDE CONCILIADOR. Foi o que ele fez com maestria durante toda a sua vida.