Na Bíblia Sagrada, as mulheres têm papel destacado. Como, aliás, em toda a história da humanidade. Mulher é sempre fundamental.
Desde o princípio, a mulher exerceu um papel que transcende à sua própria existência. Por exemplo, Eva, a primeira de todas, segundo a Bíblia. Sem entrar no mérito das suas ações, é indiscutível sua importância que marcou a história do mundo. Adão a chamou de Eva, por ser a mãe de todos os viventes.
Eva deu a Adão a maçã da “árvore proibida” que ao ser comida, abriu-lhes os olhos. O fruto era da árvore do conhecimento, e ao se verem nus, usaram folhas de parreira com que cobriram suas nudezes. Mas em que e por que a nudez do ser humano é causa de constrangimento e de pecado? Não há aí uma contradição e uma base para que a Igreja encontrasse uma maneira de criar um dogma para penalizar a todos? Tanto que a Bíblia, quando se refere à genitália feminina trata-a como “suas vergonhas”. Bom, essa é uma pergunta que deixamos no ar, pois o nosso assunto hoje é a mulher bíblica.
A segunda mulher a ter uma influência destacada é Sara, mulher de Abrahão. Esta, já de idade avançada e sem ter procriado, oferece sua escrava Agar, para que o seu marido pudesse ter uma descendência. Dessa relação nasce Ismael, pai da raça árabe e também dos doze filhos que deram nome às doze tribos árabes. Assim, da descendência do mesmo Abrahão nasceram os árabes e mais tarde, os hebreus – adversários históricos desde aqueles tempos até hoje.
Quando Agar se sentiu dona da situação, passou a menosprezar Sara, que cobrou uma definição de Abrahão. Ele afastou a escrava e apoiou a esposa.
Quando Agar se viu abandonada, orou a Javé, o qual mandou um Anjo para ampará-la e dizer-lhe que da sua descendência nasceria uma raça, a árabe. Daí a sua importância na História.
Quanto a Sara, foi mãe de Isaac – fruto de uma gravidez milagrosa, pois Abrahão já contava com cem anos e ela com noventa –, que veio a ser o embrião dos hebreus.
Na sequência da cronologia bíblica, surge Rebeca, mulher de Isaac e mãe dos gêmeos Esaú e Jacó. A importância de Rebeca vem desde a procura de Isaac por uma esposa até encontrá-la e também da sua participação em episódios de fundamental relevância: a ajuda a Jacó para enganar Isaac já de idade avançada a conceder-lhe a bênção da primogenitura – ato irrevogável –. Esaú ao descobrir a trama, revoltou-se e mais uma vez Rebeca ajudou seu filho preferido a escapar da ira do irmão mais velho.
Na fuga, Jacó dirige-se ao país onde vive Labão, irmão de sua mãe. Lá chegando buscou trabalho que lhe foi ofertado por Labão. Este tinha duas filhas: Lia e Raquel.
Jacó enamorou-se de Raquel e pediu a Labão a mão dessa filha em casamento. Labão concordou, desde que o pretendente trabalhasse para ele por sete anos. Jacó concordou.
Passados os sete anos, Jacó exigiu o cumprimento do tratado. Preparou-se a festa do casamento. As noivas naquela época usavam um véu que cobria todo o rosto. Após a comemoração, quando Jacó se preparava para as núpcias conjugais, ao levantar o véu se viu frente a frente com Lia, que era a irmã mais velha de Raquel.
Ante esta situação Jacó se revoltou e foi tomar satisfações com Labão, que, tranquilamente lhe disse que havia uma tradição que determinava: “a filha menor só poderia se casar quando a mais velha já estivesse casada. Termine esta semana de núpcias e eu lhe darei também a outra em troca do serviço que você me fará durante outros sete anos”. E assim foi. Jacó aceitou, casou-se com a sua amada e cumpriu mais sete anos de trabalho. Este episódio está também imortalizado num belo poema de Camões.
Lia tinha como serva Zelfa, e a de Raquel se chamava Bala. A vida das filhas de Labão sempre foi de confronto e ciúmes. Lia procriava e Raquel não. Como passou a se sentir desprezada, Raquel ofereceu sua serva Bala a Jacó :“una-se a ela para que ela dê à luz sobre os meus joelhos. Assim terei filhos por meio dela”. Jacó, então, teve dois filhos com a serva de Raquel. Estava inaugurada a barriga de aluguel.
Quando Lia deixou de procriar, para não perder a primazia também ofereceu a Jacó sua serva Zelfa – que também lhe deu dois filhos – e Jacó deve ter-se sentido envaidecido por dispor das criadas com anuência e beneplácito de suas esposas.
Raquel mais tarde daria à luz José e Benjamin.
As mulheres bíblicas cuja saga continuaremos a relatar aos nossos leitores são maravilhosas, lindas, conscientes, dedicadas, capazes, submetendo-se ao sacrifício, se fosse necessário, corajosas sem medo de morrer pelo seu povo, como vamos verificar com a participação de cada uma na história do povo hebreu. Aqui cabe um esclarecimento: hebreu é o descendente de Abraham; israelita é quem nasceu em Israel e judeu é quem professa a religião judaica.