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Heitor Freire

Da Lógica Formal e Simbólica

Hoje, vou adentrar um terreno em que pontifica com muita competência a educadora Ângela Maria Costa. O ensino em nosso país claudica, em minha opinião,  porque não se preocupa em transmitir um conhecimento que permita aos alunos informações precisas a respeito da constituição do ser humano: corpo, mente e espírito –  limitando-se ao ensino das matérias da grade escolar e  de forma, posso dizer automática, pois não há inovação no conteúdo. É preciso sacudir essa mesmice.
A Grande Loja Maçônica do Estado de Mato Grosso do Sul, através de seu Grão-Mestre,  Izaías Gomes Ferro (1979/1982), ampliou socialmente a ação da Maçonaria com uma visão humanista na área da educação. Criou-se então por sua iniciativa a Funlec-Fundação Lowtons de Educação e Cultura, entidade que se propunha a administrar o setor educacional, incorporando uma escola  já criada, Raúl Sans de Matos. Hoje  existem mais cinco escolas da Funlec em várias regiões do nosso estado. Em Campo Grande, há também o ensino superior.
A esta iniciativa, eu, embora iniciante na vida maçônica, logo me associei, por ser um  entusiasta da educação.
De 1991  a 1994 e de 1997 a 2000 fui  chanceler da Funlec; de 1994 a 1997, vice-presidente. Ou seja, num período de nove anos, exerci um cargo de direção que me permitia propor e acompanhar de perto a vida dessa instituição modelar no ensino em nosso estado.
Tendo sempre um entendimento de que a educação, necessariamente, deveria ter uma abrangência maior, que não se limitasse unicamente ao ensino formal, desenvolvi um estudo através do qual foi criada uma disciplina que foi denominada CIÊNCIA DA VIDA. A proposta  era proporcionar algo mais, um plus, que distinguiria a instituição das demais.
A CIÊNCIA DA VIDA tinha uma proposta ousada, pretendia proporcionar aos alunos um conhecimento extra-curricular, voltada para despertá-los para a natureza intrínseca do ser humano, com uma característica que a diferenciava das matérias específicas, que são disciplinas com temas particulares e predeterminados.
Nosso objetivo era transmitir uma ciência universal, não só na horizontalidade, mas principalmente na profundidade e na verticalidade, com um conhecimento  da totalidade do ser, a partir dos seus princípios e fundamentos, para chegar ao seu sentido íntimo vital, com um viés de evolução constante, com o objetivo de chegar à sua verdade ontológica, ou seja, proporcionando aos alunos o auto-conhecimento.
Em outras palavras, a idéia era proporcionar o conhecimento a respeito do funcionamento da mente, da sua utilização como ferramenta para realização pessoal, do uso do pensamento como energia criadora e da imaginação como fonte geradora de meios de conscientização e de libertação.
A finalidade  era algo muito novo para os professores e  corpo pedagógico da Funlec de então e por isso teve inicialmente uma resistência muito grande. Pacientemente dediquei-me a procurar motivar os professores e fazê-los  entender o que se propunha.
Como era uma demanda do Chanceler houve uma aceitação forçada, mas com uma resistência subterrânea, oculta, mas persistente, demolidora. O que se constata hoje  na educação é a prevalência dos chamados “especialistas”, dando toda ênfase à administração escolar em detrimento da educação, que foi relegada a um terceiro ou quarto plano.
Como é difícil fazer com que as pessoas aceitem um caminho novo, com que saiam daquilo que está determinado, que trilhem novos caminhos. Enfim, não deu certo da forma como foi proposta, embora a Instituição continue galhardamente a sua trajetória. Foi criada em seu lugar a matéria Princípios Filosóficos que, a seu modo, também representa uma diferenciação.
Hoje o presidente da Funlec, dr. Mafuci Kadri,  está imprimindo uma grande evolução pedagógica e administrativa. O Chanceler atual é  o dr. Jordão Abreu da Silva Júnior.
Numa conversa recente com o dr. Moysés do Amaral, diretor regional do IHGMS, em Corumbá, falávamos sobre a  situação  da educação em nosso país. Nessa ocasião, ele  falou a respeito do ensino no país vizinho, a Bolívia. Informando-nos que lá se ensina nos colégios secundários Lógica Formal  e Simbólica, apresentando-nos um livro sobre esse tema de autoria do professor de Filosofia Juvenal Canedo Chavez,  que em 1988 já estava em sua vigésima edição.
A abordagem do livro começa com uma introdução ao estudo da filosofia, passando pelo pensar (conteúdo e forma dos pensamentos), teoria do juízo, princípios lógicos, teoria da razão, silogismo, concluindo com a dialética, tendo assim um conteúdo bastante amplo e diversificado.
Meus leitores, senti uma “santa” inveja ao constatar que na Bolívia há uma visão educacional abrangente e de certa forma semelhante à que tentei implantar na Funlec e que não consegui. Talvez eu tenha falhado na formulação da proposta, não sei, o fato é que  não deu certo. Não sob a forma da proposta original.  E ao mesmo tempo, que alegria de ver que no país vizinho – apesar de todas as dificuldades que enfrenta – o conhecimento prolifera.

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