Nos primórdios da difusão do cristianismo havia uma pureza de sentimento e de ação que elevava a um grau de alta espiritualidade o trabalho desenvolvido pelos primeiros cristãos. Essa pureza foi o fator da disseminação muito rápida da doutrina cristã, e representava a semente que Jesus deixou plantada.
Nos primórdios da difusão do cristianismo havia uma pureza de sentimento e de ação que elevava a um grau de alta espiritualidade o trabalho desenvolvido pelos primeiros cristãos. Essa pureza foi o fator da disseminação muito rápida da doutrina cristã, e representava a semente que Jesus deixou plantada.
Com o passar dos tempos, os poderosos de então – reis, imperadores – tiveram suas atenções voltadas para essa nova forma de ser e de agir preconizada pelo cristianismo nascente, ganhando muitos adeptos para essa nova doutrina e que passou a ser um meio de conscientização das pessoas proporcionando-lhes uma liberdade no agir e no pensar, e uma independência dos governos reinantes.
Constantino I, imperador de Roma no século IV, inicialmente procurou combater o cristianismo de todas as formas, mas logo percebeu que a força que inspirava o movimento era tão profunda e verdadeira que, orientado pelo espírito que mais tarde inspiraria O Princípe, de Maquiavel, decidiu se unir aos seus antigos opositores – subvertendo e corrompendo a pureza destes – para obter o domínio também sobre o movimento cristão. Tanto é assim, que, no ano de 325, Constantino I convocou – ele mesmo – um concílio, o Concílio de Nicéia. Foram oferecidas aos bispos as comodidades da mordomia imperial – livre transporte e alojamento – para encorajar a maior audiência possível. Compareceram 310 bispos.
A partir daí, gradativamente a Igreja começou a ser submetida ao império da vontade de Constantino.No tempo e na história, se observa que a Igreja se afastou da pureza de sentimento que inicialmente, inspirou e guiou os cristãos e seus dirigentes máximos.Um fato marcante dessa distorção aconteceu com os cátaros, um povo pacífico que vivia no sul da França e norte da Espanha, que seguiam religiosamente os ensinamentos de Jesus: não tinham hierarquia religiosa, acreditavam na reencarnação, não havia entre eles propriedade privada, tudo era de todos, trabalhavam em cooperação total. Com o tempo e a influência que passaram a exercer, no século XII, a partir de 1140, os cátaros tiveram a sua extinção decretada pela Igreja imperial, que não admitia que ninguém ousasse se contrapor aos seus desígnios, mandando uma força-tarefa de trinta mil homens fortemente armados, contra um povo ordeiro, que foi totalmente dizimado, num verdadeiro genocídio.
Sou de formação católica. Fui crismado aos 28 anos e aos 33 participei de um cursilho da cristandade. A história da Igreja sempre mereceu de mim um estudo acurado, portanto posso dizer que conheço relativamente bem a Igreja e por isso me atrevo a escrever este artigo. Embora tenha essa formação inicial, aos poucos, ao constatar a grande hipocrisia que norteia a ação da Igreja Católica, fui me afastando dela. Hoje não tenho mais nenhum resquício daquilo que recebi inicialmente.
Pretendendo modernizar os seus ritos, a Igreja cometeu outro grande erro: quebrou a sua egrégora quando mudou o sistema de celebração da santa missa: colocando o sacerdote de frente para o público. O ritual obedecia a um ordenamento próprio – cabia e cabe aos assistentes, acompanhar a celebração, assistindo-a – porque a missa não é um espetáculo teatral, é uma celebração religiosa.
A Igreja só vai começar a atingir a plenitude da sua missão, no meu entendimento, quando aceitar a reencarnação e eliminar o celibato clerical e os dogmas. A reencarnação foi excluída dos ensinamentos da Igreja durante a realização do II Concílio de Constantinopla quando Teodora, mulher do imperador Justiniano, pretendendo purgar os seus pecados e isentar-se de uma futura reencarnação probatória, agiu como o avestruz, determinando e conseguindo que a reencarnação fosse expurgada.Assim, constatamos: a Igreja Católica continua causando uma influência negativa na vida das pessoas por sua forma impositiva e obrigatória de determinar o comportamento de todos.
Veja-se, por exemplo, a questão do celibato clerical, que é uma determinação anti natural, que contraria totalmente a natureza do homem e também a da mulher, no caso das ordens clericais femininas. E contradiz ainda o mandamento bíblico: “crescei e multiplicai-vos”.A única denominação religiosa do mundo que exige o celibato de seus ministros é a Igreja Católica.
O celibato foi instituído aos poucos; foi defendido em força pelo Quarto Concílio de Latrão (1215) e pelo Concílio de Trento (1545/1563) foi tornado obrigatório.Segundo a revista católica La Civilta Católica, desde o Concílio Vaticano II (1962/1965), perto de sessenta mil padres deixaram a Igreja.Os casos profundamente dramáticos do crescente tema da pedofilia têm como causa principal o celibato. A pedofilia na Igreja transformou-se em um problema sistêmico. O sacerdote católico se vê premido pela exigência da sua condição sexual e não tendo como lhe dar vazão, acaba praticando atitudes tanto heterossexuais quanto homossexuais e os padres se vêem na contingência de um dilema existencial: obedecer ao que sua natureza exige e impõe ou submeter-se a uma disciplina rigorosa, castradora, anuladora?
E pelo andar da carruagem, a situação continuará sendo regida pela incompreensão e pela rigidez de um sistema ultrapassado e opressor.