A nossa população está assistindo estarrecida a essa verdadeira guerra urbana que está acontecendo no Rio de Janeiro.
Além da violência crescente que nos oprime – pois mesmo quem não reside no Rio está sentindo a pressão, até por solidariedade – aumentando cada vez mais, assistimos também estupefatos ao total despreparo das nossas autoridades.
É impressionante como não resistem às luzes das câmeras de televisão. Começa com a atitude irresponsável do governador do Rio, Sérgio Cabral. Este senhor revelou há poucos dias que a Marinha iria entrar no combate efetivo ao crime. Essa informação é reservada, confidencial, quase secreta. Mas sua excelência não governa nem a sua própria língua e acaba informando a todos qual é a estratégia que está sendo adotada, dando condições aos bandidos para se organizarem e traçarem também as suas estratégias de defesa.
Assistimos também a um coronel da PM, chefe de relações públicas, todo paramentado com colete à prova de balas, etc., para dar uma entrevista à Rede Globo, informando que o estado dispõe de um efetivo de 18.000 homens e que estavam prontos para invadir o morro do Alemão. Só faltou marcar a hora. E mandar um beijinho para sua mãezinha: “Oi mãe, estou na Globo”.
Imaginem leitores, o que aconteceria com as tropas aliadas quando desembarcaram na Normandia para invadir o continente europeu, se o general Eisenhower – comandante- em-chefe das forças aliadas – resolvesse dar uma entrevista à rádio BBC, – dando vazão ao seu ego – para dizer o que se estava preparando para a ofensiva que acabou libertando a Europa.
Pois é a mesma situação absurda que estamos assistindo com as autoridades maiores do Rio dando entrevistas a torto e a direito. É impressionante como não resistem a um microfone.
Todo um aparato preparado para atacar os bandidos saindo pelo ralo e colocando em perigo maior os nossos corajosos soldados.
A situação do tráfico envolve duas pontas: a primeira, a organização de venda e de estímulo ao consumo de drogas, e a segunda, os usuários. O que observamos é que todo o combate se restringe unicamente ao tráfico em si. E quanto aos usuários? Além da imensa dedicação de uma plêiade de pessoas que por meio de entidades associativas procuram conscientizar a nossa população do perigo que representa o uso de drogas, nada mais se faz.
Há setores do governo que também se dedicam a fazer um trabalho de resgate, procurando tirar os usuários das garras das drogas.
Mas só isso não basta. Se bastasse, não estaríamos assistindo a um aumento cada vez maior de usuários. É preciso também penalizar o usuário. Pois é ele, a rigor, quem financia o mercado do tráfico.
E como a droga se dissemina? Por intermédio de um comércio que envolve fornecedores e usuários. E é um comércio mesmo.
Os governos procuram, cada um a seu modo, efetuar uma ofensiva que procure inibir os traficantes para a continuidade do comércio da droga, por meio de uma ação policial permanente, mas que está se mostrando ineficiente. Por quê? Porque atua somente no combate direto ao tráfico, na ponta da sua comercialização e não na sua fonte de alimentação que é onde se encontra o elemento de incremento do negócio, o usuário.
O tráfico é um comércio, e como tal, só prospera na medida em que, na outra ponta tem consumidores frequentes. No momento em que faltarem usuários, não haverá mais tráfico nem circulação de drogas.
É preciso uma ação inteligente, consciente, audaciosa, corajosa, envolvendo toda a sociedade, família, organizações civis, escolas, conselhos tutelares, etc. para desencadear uma campanha de conscientização da nossa juventude, mostrando que, ao mesmo tempo em que todos condenam o tráfico de drogas, nossos filhos e filhas, podem ser também usuários, e elementos alimentadores dessa continuidade.
A pergunta a ser feita aos consumidores de drogas é esta: Como vocês se sentem sendo os parceiros dos traficantes, os sócios e co-responsáveis por essa situação? Pois essa é a verdadeira posição dos usuários: parceiros, sócios, dos traficantes, financiadores do tráfico. Vamos continuar assim? Não dá para continuar “rodeando o toco”. Temos que enfrentar o problema de frente.
Não podemos deixar de aplaudir a ação firme e decidida das autoridades que, nesta oportunidade, conseguiram marcar um ponto a favor da sociedade brasileira.
Esse mal só será extirpado se atuarmos na fonte, ou seja, no usuário. Vamos fazer o trabalho, cada um, começando pela sua própria família e pelos amigos.
E ao mesmo tempo exigir das nossas autoridades uma legislação que puna o usuário.
PS: Trechos deste artigo já foram publicados aqui, sob o título “Das Drogas”, em janeiro deste ano.