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Heitor Freire

Nos tempos da R. Dom Aquino – I

Quando voltei a Campo Grande, em 1970, fui morar em uma casa na então Rua Paraná, hoje Eduardo Santos Pereira. Morávamos numa vila de propriedade do Laurentino, cujo sobrenome não me lembro. Eram quatro casas, nos fundos. Eram nossos vizinhos, Sandoval Soares – que iniciava a expansão dos supermercados Soares com seus irmãos, Mário Benjamin Ferreira – funcionário do Banco do Brasil e Milton Miranda Soares – irmão do Marcelo Miranda. O problema que vivíamos ali e que deixava a minha mulher Rosaria insatisfeita, era a constante falta d’água.
Naquela época eu era gerente de vendas da Univest S/A – Fundo de Investimento, e como minha área de atuação era o estado de Mato Grosso, mais o Acre e Rondônia, viajava com muita constância.
Numa dessas viagens, ao voltar para Campo Grande, fui surpreendido com a informação que um colega me passou ainda no aeroporto: Eu tinha mudado de casa. No entanto quando cheguei ao apartamento no edifício Arnaldo Serra, na rua D. Aquino, já fui informando que nós nos mudaríamos novamente o mais breve possível. O certo é que ali ficamos morando por cinco anos maravilhosos.
Na mesma quadra, entre a Calógeras e a rua 14, na esquina com a 14, localizava-se a inesquecível mercearia Califórnia dos irmãos Saliba, que exalava um cheiro permanente, característico, agridoce de frutas sadias. Na rua 14, entre a D. Aquino e a Barão do Rio Branco, outra casa comercial que deixou muitas saudades, a Loja Sul-Americana do Johnny Jallad. Durante algum tempo, adquiríamos marmita fornecida pela Sul-Americana. Comprávamos para duas pessoas: dava para todos nós, eu, a Rosaria, as crianças – na época quatro – mais a Martha que foi durante mais de vinte e cinco anos a grande ajudante e colaboradora da nossa família, contribuindo efetivamente também para a educação das meninas.
Nesse prédio, edifício Arnaldo Serra, perto de tudo, moravam, entre outros, os casais, Hédil Felicio/Dorinha, Carlos Machado/Marlene, Edvaldo Araújo Costa/Divina, Nivaldo (excelente alfaiate) /Maria Auxiliadora, Lucilo (gerente do banco Financial) /Leda. Também morou no prédio com a sua mãe, a Moreli, que na época era namorada do Osvaldinho Arantes.
O Edvaldo, vendedor de grande gabarito, trabalhava comigo na Univest. Era casado com a da. Divina. A diferença de idade entre eles era muito grande. O Edvaldo já sexagenário e a da. Divina, na casa dos 30. Um dia ela estava visitando-nos quando a minha filha Andréa, muito sapeca e esperta, chegou e perguntou-lhe: “O que a senhora acha de uma mulher nova, bonita, casar com um velho?”. Ela respondeu que se a mulher gostasse do marido, tudo estava bem. E acrescentou: “Você conhece alguém nessa situação?”. E a Andréa, contrafeita, rapidamente respondeu: “Nãããããoooo… Eu estava só pensando”. Quando terminou a visita e a da. Divina se retirava, a Andréa que estava só esperando isso, disse-lhe: “Olha, não vai contar, hein?”, entregando-se totalmente.
Outro colega, corretor de imóveis, Darlan Leite Soares, por ser meu amigo pessoal e colega na Construtora Skhema – da qual eu era gerente de vendas –, de vez em quando aparecia lá no nosso apartamento. Uma vez, precisamos sair à noite para visitar um casal amigo, e como não tínhamos com quem deixar as crianças, eu pedi ao Darlan e ele aceitou tomar conta das crianças enquanto saíamos. Na época, tínhamos cinco filhas, a Flávia, a menor, com pouco mais de um ano, saiu conosco. Quando voltamos, encontramos o Darlan, desmaiado na sala, com meio litro de uísque esvaziado, e as gurias reinando muito à vontade. Ao acordá-lo, ele ainda meio zonzo, disse que elas queriam comer umas esfihas e ele descera, por duas vezes com elas até o Haiti – uma das melhores lanchonetes da história da nossa cidade, implantada pelo William Duailibi –, que ficava na mesma quadra e comprou uma quantidade suficiente para alimentá-las. Não foi muito suficiente porque teve que voltar mais uma vez. Não que as crianças comessem muito, o que valia para elas era a sensação de liberdade de pedir algo e ser atendidas. Ficou na história.

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