A maioria de nós, seres humanos, vive preocupada com o dia de amanhã. Trabalhamos de sol a sol para constituir um patrimônio para amparar nossa velhice e prover nossa família, mas muitas vezes, isso pode se tornar objeto de disputa, de desavenças familiares, provocando um efeito contrário ao que pretendíamos. Na verdade, a melhor herança que podemos deixar e que se perpetua no tempo, é o exemplo, que se registra na mente e no coração dos familiares, onde a ferrugem não corrói nem a traça rói.
Essa preocupação que causa aflição e angústia decorre do desconhecimento básico do que somos verdadeiramente: seres divinos e eternos, filhos de um Pai maravilhoso que SEMPRE provê tudo a tempo e hora. E que nos dotou do mais importante atributo, a fé.
A história é plena de acontecimentos que vêm em socorro desta tese, dos quais o mais marcante, sem dúvida, é o da travessia do deserto pelo povo hebreu conduzido por Moisés. Durante 40 anos peregrinaram pelo deserto do Saara. Eram 600 mil pessoas, homens, mulheres, crianças, velhos, enfim, de todas as idades, caminhando, caminhando, caminhando sem parar. E por conseqüência, sem tempo para parar, plantar, colher e usufruir.
Pois Deus alimentou esse povo todos os dias, com o maná, alimento que caía do céu e era recolhido em baldes por cada um para o seu alimento diário. Vinha na dose certa. Quando alguém mais guloso tentava recolher uma porção maior, via desaparecer milagrosamente o que pretendia obter.
Ainda segundo a Bíblia, o maná era enviado diariamente e não podia ser armazenado para outro dia. Também não era fornecido aos sábados; por isto Deus enviava uma quantidade maior às sextas-feiras, e neste caso o maná podia ser guardado para o sábado sem se deteriorar.
O judeu é realmente um ser especial. Ele tem uma convicção tão profunda que, quando colocada em xeque, se confirma e acaba marcando a vida deles de forma indelével. Além do episódio da travessia do deserto, tem uma história narrada num dos livros do rabino Nilton Bonder que registra o que acabo de afirmar.
Conta ele que numa cidadezinha do interior de um país europeu, vivia um judeu. Aconteceu que uma mulher foi estuprada e morta, o que causou uma profunda comoção em todo o vilarejo. A revolta foi muito grande e alguém disse que o estuprador só podia ser o judeu. Que se viu de imediato preso e processado pelo crime que não cometera.
De nada valeram suas juras e provas de que não estava no local do fato, apesar de que, comprovadamente, ele estivesse noutro lugar no momento do crime. Quando foi marcada a data do julgamento, pediu ao juiz que autorizasse a visita de um rabino morador de outra cidade para obter uma orientação espiritual, o que lhe foi concedido.
O rabino chegou, inteirou-se do fato e da revolta popular, e recomendou ao acusado: “Você só tem uma escapatória, confiar na sua fé e na sua cabeça de judeu”. E foi embora. Essa orientação provocou uma grande paz de espírito no réu.
No dia do julgamento, a população toda se acotovelava na sala do tribunal para acompanhar o desfecho do caso. O juiz disse ao réu: “Todos sabem que os judeus têm uma grande fé em seu Deus. Então eu vou lhe dar uma chance, você vai selar a sua sorte. Eu vou escrever em dois papéis: num ‘culpado’ e noutro ‘inocente’. O que você retirar será a sua sentença”. Mas o juiz escreveu “culpado” nos dois papéis, e o judeu percebeu isso.
Nesse momento o réu fez uma rápida e profunda reflexão e se dirigiu até a mesa do juiz. Pegou um dos papéis e o engoliu, o que causou um rebuliço no tribunal. Então ele disse ao juiz: “Eu engoli a minha sentença, então o papel que ficou é o contrário da sentença”. O juiz se viu obrigado a mostrar o papel que dizia “culpado”. Assim, nessa situação extrema, num momento em que tudo conspirava contra ele, o judeu manteve sua fé até o fim e se viu absolvido. Nunca descobriram o verdadeiro culpado.
Eu tenho uma grande admiração pelos judeus e também pelos árabes, com quem tenho uma verdadeira afinidade. Tenho certeza de que já encarnei nessas duas etnias.