Sem dúvida, os tempos que estamos vivendo estão provocando mudança em nosso comportamento. Algumas para melhor compreensão da vida, e outras, no extremo oposto, para endurecer a comunicação entre nós. A comunicação na era da Covid-19 entrou em uma frequência de franqueza rude como eu nunca tinha visto.
As pessoas estão exasperadas, talvez por força da tensão reinante. Mas a franqueza rude não ajuda nada, pelo contrário. Ela é filha dileta da arrogância, que pretende se sobrepor a tudo que não seja o seu interesse imediato.
A franqueza rude é produto do ego. O ego, o grande inimigo que devemos vencer e subjugar, sem dar-lhe descanso, se acha o dono da verdade. E, dessa forma, age constantemente para inflar o peito e dizer-se o tal. O ego é resistente, e como nos conhece melhor do que ninguém, sabe muito bem a hora de atacar. Ele é insidioso, ameaçador e traiçoeiro.
E ele age num ponto chave: o relacionamento. Eis a grande arena onde devemos exercer a nossa performance. É ali que devemos interpretar o nosso papel maior, o de filhos de Deus e irmãos de todos. É uma tarefa difícil e exigente, mas não tem outro jeito. Não adianta fazer de conta. Viver até uma lesma vive, mas conviver exige refinamento, uma verdadeira arte: a do bem viver.
A franqueza rude estabelece dissidência em todas as partes. Gera atritos intermináveis, que podem começar na reação a uma simples pergunta. O conflito nasce na resposta. Se não houver mudança de comportamento, a tendência é alastrar a franqueza rude cada vez mais.
De nada adianta rezar, meditar e estudar se deixarmos espaço para a ação do ego. Ele acaba com qualquer relacionamento, seja conjugal, familiar, profissional, social, religioso. Tem gente que parece que já nasceu de mal com a vida.
Quando a franqueza rude vem aliada ao poder da autoridade então, assume sua mais devastadora ação. É muito comum assistirmos os chefes tripudiando sobre seus subordinados que, muitas vezes, ou quase sempre, para não perder o emprego, se sujeitam às arbitrariedades que sofrem calando-se, mas guardando uma mágoa que vai crescendo com o tempo, até que um dia explode.
E quando se trata de um religioso, então, essa atitude é inadmissível. As pessoas estressadas não sabem responder perguntas. Uma pergunta simples gera uma série de impropérios. Pode ser apenas uma pergunta, mas, pela tensão dominante, acaba provocando discussões inúteis. E os por quês?
Como fui um cara muito arrogante, sei bem do que estou falando. Mas como a gente aprende pelo amor ou pela dor, o que não aprendi pelo amor, tive que aprender pela dor. Mas, felizmente, aprendi e continuo aprendendo.
A franqueza rude contraria uma das mais sábias, amorosas e verdadeiras leis: a do amor. De um modo geral, deste lado do planeta, boa parte das pessoas se diz cristã. Mas que cristão é esse, que não cumpre o mais elementar dos ensinamentos de Jesus?
Assim, meus amigos, vamos aproveitar a oportunidade que a Covid-19 está a nos proporcionar – por mais paradoxal que possa parecer – para exercitarmos a mais perfeita atitude que Jesus nos ensinou: a prática do amor.
“Se você acredita que franqueza rude pode ajudar alguém, observe o que acontece com a planta em que você atira água fervente”. (André Luiz).
Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.