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Heitor Freire

Sua Majestade, o Outono!

De repente, não mais que de repente, devagarito no más, ele foi chegando, como quem não quer nada, mas traz tudo, sua majestade, o outono. A estação do amor e do desapego.

É a minha estação. Eu nasci no outono. Daí a minha profunda identificação com esta estação maravilhosa. Também no outono, nasceram três das minhas filhas: Flávia, Thaís e Raquel. Eu me casei também no outono, há 58 anos – sem dúvida, o acontecimento mais importante da minha encarnação. Assim, tenho uma identificação mental e espiritual com esta estação que me inspira e me estimula. Quando chega o outono, eu sempre sinto um novo renascer.

A chegada do outono se dá pelo fenômeno astronômico do equinócio, pelo qual o período diurno permanece igual ao noturno, com a temperatura mais amena.

O outono é a estação mais espiritualizada do planeta e está no ar, de novo e sempre, trazendo em seu bojo a dimensão da transitoriedade, da renovação, da transformação, do desapego, do esvaziamento, para o preenchimento pelo novo: o outono chegou!

É uma estação tão marcante que renova e embeleza tudo. É a estação do silêncio, que resplandece em sua plenitude, é o momento do recolhimento, da meditação, da reflexão. É a chegada da serenidade. Saber esperar é uma virtude. Aceitar sem questionar, que cada coisa tem seu tempo certo para acontecer … é ter fé!

O outono nos leva à meditação serena e silenciosa, quando também aprendemos que cada um deve viver sua vida de forma natural, sem permitir influências externas e deve ser vivida sempre de uma nova maneira. Aprendemos, ao mesmo tempo, que cada um vive em função do outro. Ninguém vive para si mesmo. Aquele que se fecha no seu invólucro íntimo acaba se isolando do todo e perdendo a grande oportunidade que a vida nos proporciona, o crescimento interior pela convivência com o outro.

Terminado o verão com sua agitação inerente, nos encaminhamos para o recolhimento do outono, passando por uma transição natural, num momento próprio para encontrarmos serenidade e prazer, a fim enfrentarmos os obstáculos e os problemas da vida.

Quando chega o outono, com a harmonia de um céu cristalino, advém uma lição de sabedoria, a pessoal e intransferível responsabilidade de cada um, de buscar e aproveitar  a inefável experiência da vida. Esse momento nos proporciona a oportunidade de um encontro íntimo, convidando e estimulando nossa espiritualidade para um encaminhamento único em busca do bem.

Já se percebe a presença do espírito da fé, da gratidão, da perseverança e da solidariedade, indispensáveis para este momento.

Precisamos seguir em frente, encarar todos os obstáculos com consciência – mesmo porque não há outro jeito –, e assim fazer de nossas vidas um hino de amor e de gratidão a Deus, cumprindo os ensinamentos que Jesus nos proporcionou de forma simples, clara e verdadeira.

Vamos unir a espiritualidade e o recolhimento do outono com os momentos que estamos vivendo.

Quando toda essa angústia, dor, e sofrimento passarem – e isso acontecerá –, utilizemos os momentos vividos como lição perene de aprendizado e de elevação espiritual.

O outono tem um poderoso simbolismo, pois se trata da estação do ano em que o verão acabou de ficar para trás, e inicia-se um período de introspecção. Nessa época, assim como as árvores deixam suas folhas caírem, nós também somos influenciados a deixar para trás o que já não nos serve mais, o que já está terminado, para que assim possamos criar um espaço em nossas vidas para florescermos novamente.

Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.

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