Dias atrás, participei de uma reunião na qual uma das palestrantes apresentou os conceitos de autoridade e poder. Ficou muito claro que são duas situações diferentes e até antagônicas. Autoridade não emana necessariamente do poder. Enquanto o poder exercido autoritariamente constrange e humilha.
Qual é a diferença? Max Weber, um dos fundadores dessa área de estudo, diz que o poder é a capacidade de alguém obrigar, em nome de sua posição ou força, os outros a obedecerem à sua vontade, mesmo que eles preferissem não fazê-lo. Autoridade é a habilidade de levar os outros, de boa vontade, a obedecerem o seu comando.
O poder normalmente age pela imposição, deteriorando os relacionamentos e gerando situações desagradáveis.
Quando o homem subiu um degrau e olhou seu semelhante de uma posição mais elevada, despertou em seu interior a força do ego, pois passou a olhar os outros com sentimento de superioridade, sentindo-se melhor e mais importante. O ego é o principal elemento de alimentação do poder.
É evidente que o poder funciona, só que seus efeitos são, na maioria das vezes, prejudiciais ou negativos porque resultam da imposição dos interesses ou da vontade de quem detém o poder.
O poder por si só gera medo, desconfiança e abre espaço para sabotagem, causando insegurança, desconforto, paralisando talentos.
É muito claro que a liderança não se impõe, ela se conquista. Daí surge a grande diferença entre autoridade e poder. A autoridade desperta confiança, solidariedade, estimula os liderados a participar do trabalho decisório, motiva todos a contribuir.
No panorama mundial sempre prevaleceu o poder, com a imposição da vontade do detentor eventual do poder ou do sistema vigente que busca a satisfação dos seus interesses sem considerar o bem estar das pessoas ou do povo. Abraham Lincoln dizia que para conhecer verdadeiramente um homem, bastava dar-lhe poder.
A autoridade, como tal, decorre naturalmente da consciência que se manifesta pela atenção com os subordinados, estimulando o espírito de corpo.
A autoridade requer um alto grau de sensibilidade, oferecendo apoio e incentivo às pessoas para que superem os problemas. O verdadeiro líder está sempre voltado para o bem estar de todos. Dando liberdade para que expressem suas opiniões, aceitando críticas e ouvindo sugestões para a melhoria do trabalho. Opta pelo exemplo, pela coerência dos atos com as palavras, e influencia as pessoas positivamente. Esta é uma arte que poucos dominam.
Como exemplo maior de autoridade podemos citar Jesus Cristo, que com sua mensagem deixou um testemunho coerente entre suas pregações e ações, influenciando de modo decisivo a história da humanidade, que passou a ser contada antes e depois do seu nascimento.
Outro exemplo marcante é o de Mahatma Gandhi que, sem disparar um único tiro, liderou uma revolução pacífica na Índia contra o poderoso império britânico, libertando seu povo.
Um dos exemplos mais cruéis de mau uso do poder, contudo, foi o exercido na mesma época por Adolph Hitler na Alemanha nazista.
Aliás, Gandhi chegou a escrever duas cartas de apelo a Hitler, uma antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, e outra um ano depois. Essas cartas não chegaram ao destino, interceptadas pelo governo colonial da Índia. E nelas vemos a diferença do conceito de poder nessas duas figuras tão importantes para o século XX e tão antagônicas.
Na primeira, enviada em 1939, antes de Hitler invadir a Polônia, Gandhi escreveu: “É bastante claro que você é hoje a única pessoa no mundo que pode evitar uma guerra que pode reduzir a humanidade a um estado selvagem. Você ouvirá o apelo de alguém que deliberadamente evitou o método de guerra, com considerável sucesso?”
Na segunda mensagem, em 1940, já com a guerra em andamento, Gandhi foi mais fundo – e lembremos que ambos tinham o mesmo adversário em comum, a Inglaterra. A carta começa assim:
“Caro amigo, o fato de eu me dirigir a você como amigo não é uma formalidade. Eu não possuo inimigos”, e prossegue: “Não acredito que você seja o monstro descrito por seus oponentes, mas seus atos são monstruosos e inadequados para a dignidade humana.”
E mais adiante: “Nós resistimos ao imperialismo britânico não menos do que ao nazismo. Nossa resistência a isso não significa dano ao povo britânico. Procuramos convertê-los, não derrotá-los no campo de batalha. A nossa é uma revolta desarmada contra o domínio britânico. Nossos governantes podem ter nossas terras e corpos, mas não nossas almas.”
E, hoje, passados mais de 80 anos, sabemos quem foi derrotado e quem saiu vitorioso, mesmo que Gandhi tenha pagado com a própria vida.
Nestes tempos de tantas e rápidas mudanças, torna-se mais do que necessária uma mudança de atitude para que possamos efetivamente contribuir para a evolução e o bem de todos, abdicando do poder e exercendo a autoridade, que emana do amor.
Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.