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Heitor Freire

Rosaria

Já abordei em artigos anteriores a minha convicção a respeito da reencarnação. Não que eu seja espírita.  Essa convicção decorre do meu raciocínio e do meu entendimento. Eu sou filho de Deus. Na realidade, todos nós somos. Só que muitos são desatentos. Tenho como uma das confirmações o meu relacionamento com a Rosaria, minha mulher. Tenho plena certeza, pelo amor que nos une e pelo respeito mútuo: ela já foi minha mulher em muitas encarnações, e pelo carinho, solidariedade e lealdade que me devota, deve também ter sido minha mãe, em outras. Isso para mim é incontestável.
Em 1959, eu, soldado raso, servia na 4ª Companhia Média de Manutenção, unidade da 9ª Região Militar, que naquele ano tinha a seu cargo atender no Círculo Militar por ocasião das festas juninas. Eu fazia o serviço de garçom, quando de repente me vi à frente de uma moça que me causou uma forte impressão espiritual; tentei dirigir-lhe a palavra, mas logo pensei: “Uma moça dessa não vai dar bola para um simples soldado”. Assim, não lhe disse nada.
Ao comentar com a Rosaria essa situação, anos depois de casados, ela me disse que se lembra dessa festa à qual foi acompanhada de seus tios, Castro e Babel. Nessa noite, uma cigana leu a sua mão e lhe disse que o seu futuro marido se encontrava ali, naquele local. Quer dizer, para mim, aquela moça que havia me impressionado na festa só podia ser a Rosaria. O que mais uma vez mostra que nada é por acaso.
Ao nos casarmos em 1963, em Ponta Porã, ela com 19 anos e eu com 23 – então  funcionário do Banco do Brasil –,  iniciamos uma caminhada que só fez nos unir cada vez mais, principalmente em virtude das adversidades enfrentadas.
Em 1968, atrevi-me a atuar como negociante de carros e, sem nenhuma experiência comercial, acabei metendo os pés pelas mãos. Com isso, contraí dívidas que acabaram determinando a minha demissão do banco, e a cujo pagamento levei mais de cinco anos para saldar. Com muito sacrifício e trabalho, isso se tornou a oportunidade para consolidar nosso casamento, devido à imensa solidariedade da Rosaria, sempre ao meu lado.
Após um período em São Paulo, aportamos aqui em Campo Grande (eu de volta), como gerente de vendas de um fundo de investimento, já com três filhas e a quarta, Cynthia, a caminho. Infelizmente ela viria a falecer aos três meses de idade, num acidente de carro. Essa foi mais uma adversidade a nos unir.
A Rosaria é uma mulher muito fértil, também para procriar. Ficou grávida nove vezes: a primeira e a penúltima gravidez foram interrompidas de forma casual. Tivemos então sete filhas.
As situações vividas na vida conjugal, na criação das nossas filhas – aqui nasceram  mais três meninas – consolidaram de forma indelével o nosso casamento.
A Rosaria é uma pessoa que tem uma qualidade muito rara: é dotada de bom senso. Aprendi com ela que ser sensato e fazer o correto juízo das coisas, é dificílimo. Ela não se dá a extremos, não segue fórmulas preestabelecidas e não se impressiona com qualquer novidade. E alia a isso um sentimento de solidariedade para com todos, sem nunca cair no apiedamento.
Através do nosso relacionamento e com a convivência com as nossas meninas eu pude observar e confirmar o quanto, realmente, as mulheres são surpreendentes. No meu caso, se tivesse ouvido a minha mulher em inúmeras circunstâncias, não teria cometido tantos erros quantos cometi.   
Ao nos casarmos, os seus estudos foram interrompidos na 3ª série ginasial. Com a educação das meninas e no próprio trabalho de ensiná-las nas tarefas escolares, ela foi aos poucos readquirindo o gosto pelo estudo. Assim, quando a Thaís, nossa filha caçula, atingiu uma idade mais adequada, Rosaria começou a estudar sozinha. Prestou exames através do antigo artigo 91, madureza, e  completou o curso secundário.
Passou no primeiro vestibular que prestou, classificando-se em 16º lugar, numa turma de 150 alunos. Ela começou, assim, o curso de Serviço Social, onde veio a graduar-se como assistente social, na Fucmat, em 1984.
Nossas seis filhas são: Valéria, graduada em direito, Andréa em artes cênicas, Raquel, publicitária, Alessandra, psicóloga, Flávia, jornalista e Thaís, engenheiro civil. Todas, felizmente, são muito bem casadas. E nos brindaram, por enquanto, com doze netos: quatro meninas e oito meninos.
E desse meio, emerge, majestosa, Rosaria, e se consagra, para mim, como um exemplo vivo de dedicação, solidariedade e amor.
Mulher é realmente um ser divino. Testemunho de um PhD no assunto.
Heitor Freir

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