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Heitor Freire

Na fila

A partir do momento em que passei a me dedicar ao hábito de escrever, fui identificando em mim um senso de observação acurado, prestando mais atenção ao que acontece ao meu redor e passei a registrar alguns fatos que anteriormente me passavam despercebidos.
A responsabilidade decorrente do ato de escrever, aliada ao interesse de proporcionar aos leitores uma visão clara do que pretendo me leva, naturalmente, a um cuidado quanto aos temas e à forma de expressar o meu entendimento, pois o ato de escrever é uma arte que exige atenção especial, porque, para mim, cada artigo é uma obra a que dedico o meu tempo e o meu conhecimento.

Assim, cada texto merece uma formalidade, um molde, como se fosse uma escultura, com a busca cuidadosa das palavras para proporcionar ao leitor maior clareza de entendimento. Valho-me com frequência do Dicionário Analógico da Língua Portuguesa de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo.
Dentro do nosso comportamento habitual – fruto da minha observação –, há uma situação a que todos nós nos subordinamos, mas para a qual muitas vezes não damos atenção: agimos automaticamente porque certas coisas estão tão entronizadas em nosso cotidiano que já nos acostumamos a elas. Refiro-me às filas. Hoje e sempre há fila para tudo: para os bancos, para os caixas, lotéricas, supermercados, ônibus, consultas, enfim para todas as nossas atividades lá está ela, impávida: sua majestade, a fila. Que nos proporciona a todos também uma oportunidade de exercitarmos em primeiro lugar a educação e em segundo a paciência, e por último e não menos importante, a civilidade.
O comportamento das pessoas nas filas também nos permite um aprendizado: às vezes, arrogante, às vezes autoritário, às vezes na simplicidade, na humildade, sendo sempre um fator de crescimento espiritual. Existe uma teoria de que a fila vizinha anda mais rápido do que aquela em que nós estamos. Se mudarmos de fila, a anterior vai andar mais rápido. É sempre assim. Por quê? Não sei.
Há também as filas preferenciais para idosos e para deficientes físicos. Eu sempre fico observando, porque embora às vezes a fila preferencial esteja menor do que a convencional, nem sempre é a melhor decisão usá-la, porque alguns idosos já sem o que fazer são utilizados pelos parentes para pagar todo e qualquer tipo de compromisso. Assim, quando abrem a bolsa, começam a tirar carnês infinitos de pagamento das mais diversas modalidades, cansando os que estavam com a esperança de um atendimento mais rápido.
A questão das filas é tão importante que mereceu um estudo técnico-científico do professor Luciano Cajado Costa, professor-substituto da Universidade Federal do Maranhão, do curso de Ciência da Computação, com o título de “Teoria das Filas e Simulação”. O texto é longo: mais de 90 páginas, através das quais ele formula a teoria e a embasa em fórmulas matemáticas da mais alta complexidade de difícil entendimento para um leigo como eu.
Para que se tenha uma ideia do quanto é intricada a questão, transcrevo a seguir algumas de suas considerações, evidentemente sem chegar às suas formulações matemáticas:
“Todas as pessoas já passaram pelo aborrecimento de ter que esperar em filas (algumas conclusões chegam à obviedade do óbvio). As formações de filas ocorrem porque a procura pelo serviço é maior do que a capacidade do sistema de atender a esta procura. Dessa forma, a Teoria das Filas tenta através de análises matemáticas detalhadas encontrar um ponto de equilíbrio que satisfaça o cliente e seja viável economicamente para o provedor do serviço.
“Na maioria dos casos, seis características básicas de processos de filas fornecem uma descrição adequada de um sistema de filas: (1) padrão de chegada dos clientes, (2) padrão de serviço dos servidores, (3) disciplina de filas, (4) capacidade do sistema, (5) número de canais de serviço e (6) número de estágio de serviços.
“Nos processos de filas comuns, os processos de chegadas são estocásticos, (viram só? È isso que dá querer mexer com cientistas), ou seja, desenvolvem-se no tempo e no espaço conforme leis de probabilidade. Assim, é necessário conhecer a distribuição de probabilidade descrevendo os tempos entre as sucessivas chegadas dos clientes (tempos de interchegada).
“Um fator final que pode ser considerado apesar do padrão de chegada é a maneira no qual o padrão muda com o tempo. Um padrão de chegada que não muda com o tempo (ou seja, que a distribuição de probabilidade descrevendo o processo de chegada é independente do tempo) é chamado padrão de chegada estacionário. Um que não é independente do tempo é chamado não-estacionário”.
Como podem perceber, caros leitores, a questão da fila não é tão simples quanto parecia para um simples escrevedor. Para finalizar, há uma fila da qual ninguém escapa: a fila da morte. Desde que nascemos, entramos nela e não sabemos quando nem como vamos sair, mas que vamos sair isso vamos, mais cedo ou mais tarde. Faz parte.

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