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Heitor Freire

Galeria São José

A Galeria São José, fica na Rua 14 de Julho – coração da cidade, fica no Edifício Irmãos Salomão, construído onde era antigamente a alfaiataria Cury, a Rádio Difusora e o Salão Cristal, que foi do meu pai durante um tempo. Esse era um dos pontos preferidos dos campo-grandenses na década de 70. Na calçada da frente funcionava a loja do saudoso Gabura, o mais tradicional de todos os locais de encontro da nossa capital.

Na Galeria, do lado direito de quem entrava, estava o Mini Lanches, de propriedade de William Duailibi, recentemente falecido. Foi pulando por cima de seu balcão que o William, certa vez, deu um carreirão num dos seus clientes que jocosamente lhe perguntava com freqüência, de onde havia tirado os cabelos para o seu implante capilar. William era mesmo uma figura peculiar. No Mini Lanches, uma das suas grandes fontes de receita era o suco de laranja. À noite, depois de fechar a lanchonete, o William, agradecido sempre beijava a máquina de espremer laranja. Depois que o  William passou a se dedicar exclusivamente ao ramo de buffet e de comissária da Vasp, mudando-se dali, o espaço foi ocupado pelo Arnaldo Molina com sua loja de roupas masculinas. Hoje ele está com sua loja e fábrica de confecção de uniformes na rua 13 de Maio.

Do outro lado da Galeria, ficava a Kaleche, loja do Luiz Alberto Naglis, que foi meu colega no Externato São José da severa professora dona Simpliciana Corrêa. Lá se reuniam todas as tardes os seus amigos Edson Contar e os recém formados advogados, Remolo Leteriello e Abrão Razuk. No fim de ano, para incrementar as vendas, o Luiz oferecia a seus clientes como brinde, uma garrafa de vinho. Tinha tradição, já que era filho do Jamil Naglis dono do Palace Royal, a loja mais antiga de Campo Grande. Só vendia roupas finas.

Na sobreloja, havia diversos escritórios: um deles era o dos administradores do edifício, Humberto Canale Júnior e Clodoaldo Hugueney Sobrinho. O Clodoaldo, também meu colega do Externato São José, me cedeu uma sala contígua à do seu escritório, onde funcionava a empresa que eu representava. Todas as tardes, logo depois do almoço, recebíamos a visita cordial do dr. Carlos Hugueney Filho, pai do Clodoaldo, já aposentado da sua banca de advocacia – uma das mais concorridas de Campo Grande – que nos brindava com suas ricas histórias da nossa cidade.

Na sobreloja, havia dois consultórios de cirurgiões dentistas: o do dr. Edroim Reverdito e o do dr. Jayme Valadares Novaes. Este também funcionário do Banco do Brasil era o dentista da nossa família. A minha filha Andréa chamava o Jayme de “dentista” Jayme e não de “dr. Jayme”. Não adiantava a gente falar que não era assim. Ela argumentava: “Ele não é dentista? Não se chama Jayme?”. O Jayme era tão competente que me colocou uma prótese, em 1971 que eu uso até hoje. Ele tinha um costume: todas as vezes que a gente abria a boca ele dizia: “dá licença”. Uma vez um colega do Banco – trabalhamos juntos em Ponta Porã – Reinaldo Melânio Peralta, já trabalhando na agência de Campo Grande,  cujo comportamento é um tanto informal, de tanto ouvir o Jayme pedir licença, foi logo dizendo: “A partir de agora você já está autorizado, não precisa mais pedir licença”. Inicialmente isso deixou o Jayme constrangido, mas logo entendeu a linguagem do Peralta.   

 

 

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