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Heitor Freire

Jornada Histórica

JORNADA HISTÓRICA
Na semana passada, no auditório do Comando Militar do Oeste, em Campo Grande, participei do III Seminário de História da Guerra da Tríplice Aliança, e I Jornada Cultural da Retomada de Corumbá, organizado pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército. A Grande Guerra, como é chamada no Paraguai, aqui também conhecida como a Guerra do Paraguai.
As palestras versaram sobre a invasão de Mato Grosso, a expedição de Vicente Barrios (Coronel que comandou a invasão no território brasileiro, começando pela tomada do Forte de Coimbra e depois de Corumbá), a evacuação de Corumbá e a expedição de Francisco Isidoro Resquín (Coronel do exército paraguaio que invadiu o Brasil, alcançando Miranda e Nioaque).
Em todas as guerras não existem vencedores nem vencidos, mas apenas vítimas. Em dezembro deste ano, vai se registrar o centenário da invasão do Forte de Coimbra pelas forças paraguaias. A Guerra da Tríplice Aliança teve em sua epopeia diversas ações heroicas cujo registro nem sempre é observado com a devida importância.
A guerra causou um verdadeiro genocídio no Paraguai, tendo sua população masculina praticamente dizimada. No lado do Brasil, temos a Retirada da Laguna, feito histórico  imortalizado pelas penas do Visconde Taunay que soube, com muita propriedade, narrar todo o ocorrido, tendo atuado na época como tenente do Exército Brasileiro.
Nesta jornada cultural, acabei descobrindo um personagem cuja envergadura o credencia como um dos grandes herois do lado brasileiro da guerra: o tenente João de Oliveira Mello.
Protótipo do militar ideal – forte, corajoso, audacioso, disciplinado, inteligente, destemido, competente –, o tenente Mello estava no Forte de Coimbra quando este foi atacado pelas forças paraguaias. Quando o comandante Portocarrero decidiu pela evacuação do forte, já que não dispunha de mínimas condições de resistência, o tenente Mello foi designado para fazer o rastreamento do teatro da guerra.
Os paraguaios já haviam se retirado, preparando-se para novo ataque no dia seguinte. O tenente Mello fez o reconhecimento da área, recolhendo muitas armas deixadas pelo inimigo e resgatou 18 paraguaios que se encontravam feridos e abandonados, trazendo-os para o forte para serem incorporados à população que se retiraria na noite do dia 28 de dezembro de 1864.
Quando chegaram a Corumbá, o pânico estava instalado entre a população. A notícia de que a força invasora já se encontrava em Albuquerque, a uns 70 quilômetros de Corumbá, levou todos ao desespero.
Foi organizada uma retirada às pressas, com a população e o remanescente do exército se atropelando para evacuar a cidade, um verdadeiro alvoroço. Trataram de fugir no navio Anhambahy, em barcos e escunas. A escuna Jacobina, superlotada, não conseguiu ser rebocada pelo navio. O tenente Mello já se encontrava a salvo no navio Anhambahy, quando percebeu a superlotação da escuna Jacobina, o que dificultava o seu deslocamento. Ele não tinha nada a ver com a escuna e com os que ali se encontravam. Então o tenente Mello, movido pela compaixão, solicitou ao comandante permissão para comandar a escuna o que lhe foi negado. Insistiu mais uma vez e aí o comandante o autorizou.
Ao verificar que a escuna Jacobina não conseguiria deslocar-se tornando-se presa fácil dos inimigos, organizou a retirada a pé, adentrando pelo Pantanal e em alguns batelões até Cuiabá.
Juntamente com ele, estavam o tenente Antônio Paulo Corrêa e o sargento Antônio Baptista da Cunha. Essa caminhada foi registrada no relatório que o tenente Mello apresentou em Cuiabá, contando com riqueza de detalhes o que foi essa epopeia. Relatório este encaminhado ao presidente da Província de Mato Grosso, general Alexandre Albino de Carvalho, e que foi também publicado no livro A História Esquecida da Guerra do Paraguai de professora Maria Teresa Garritano Dourado (UFMS 2014).
O tenente Mello tinha sob seu comando 230 praças, quatro presos, dois guardas de alfândega, um amanuense de polícia e uma população constituída de mulheres, crianças e idosos, num total aproximado de 400 pessoas. A sua marcha foi de quase 500 quilômetros, atravessando o Pantanal em um terreno totalmente adverso. Por duas vezes rompeu o cerco das forças paraguaias, tendo ainda que, ao mesmo tempo, alimentar toda essa população.
Teve também que enfrentar e vencer a sedição do tenente Antônio Paulo Corrêa, que contestou o seu comando. O tenente Mello soube vencer todas as dificuldades com  galhardia e serenidade, sendo, sem dúvida, um dos grandes herois da nossa história. A sua epopeia durou do dia 2 de janeiro até 30 de abril, quando chegou a Cuiabá e foi recebido com grande festa pela população.
Escreveu com sua determinação e coragem uma das mais belas páginas da história universal de amor ao próximo.
Heitor Freire.

Na semana passada, no auditório do Comando Militar do Oeste, em Campo Grande, participei do III Seminário de História da Guerra da Tríplice Aliança, e I Jornada Cultural da Retomada de Corumbá, organizado pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército. A Grande Guerra, como é chamada no Paraguai, aqui também conhecida como a Guerra do Paraguai.

As palestras versaram sobre a invasão de Mato Grosso, a expedição de Vicente Barrios (Coronel que comandou a invasão no território brasileiro, começando pela tomada do Forte de Coimbra e depois de Corumbá), a evacuação de Corumbá e a expedição de Francisco Isidoro Resquín (Coronel do exército paraguaio que invadiu o Brasil, alcançando Miranda e Nioaque).

“Em todas as guerras não existem vencedores nem vencidos, mas apenas vítimas”. Em dezembro deste ano, vai se registrar o sesquicentenário da invasão do Forte de Coimbra pelas forças paraguaias. A Guerra da Tríplice Aliança teve em sua epopeia diversas ações heroicas cujo registro nem sempre é observado com a devida importância.

A guerra causou um verdadeiro genocídio no Paraguai, tendo sua população masculina praticamente dizimada. No lado do Brasil, temos a Retirada da Laguna, feito histórico  imortalizado pelas penas do Visconde Taunay que soube, com muita propriedade, narrar todo o ocorrido, tendo atuado na época como tenente do Exército Brasileiro.

Nesta jornada cultural, acabei descobrindo um personagem cuja envergadura o credencia como um dos grandes herois do lado brasileiro da guerra: o tenente João de Oliveira Mello.  

Protótipo do militar ideal – forte, corajoso, audacioso, disciplinado, inteligente, destemido, competente –, o tenente Mello estava no Forte de Coimbra quando este foi atacado pelas forças paraguaias. Quando o comandante Portocarrero decidiu pela evacuação do forte, já que não dispunha de mínimas condições de resistência, o tenente Mello foi designado para fazer o rastreamento do teatro da guerra. Os paraguaios já haviam se retirado, preparando-se para novo ataque no dia seguinte. O tenente Mello fez o reconhecimento da área, recolhendo muitas armas deixadas pelo inimigo e resgatou 18 paraguaios que se encontravam feridos e abandonados, trazendo-os para o forte para serem incorporados à população que se retiraria na noite do dia 28 de dezembro de 1864.

Quando chegaram a Corumbá, o pânico estava instalado entre a população. A notícia de que a força invasora já se encontrava em Albuquerque, a uns 70 quilômetros de Corumbá, levou todos ao desespero.

Foi organizada uma retirada às pressas, com a população e o remanescente do exército se atropelando para evacuar a cidade, um verdadeiro alvoroço. Trataram de fugir no navio Anhambahy, em barcos e escunas.

A escuna Jacobina, superlotada, não conseguiu ser rebocada pelo navio. O tenente Mello já se encontrava a salvo no navio Anhambahy, quando percebeu a superlotação da escuna Jacobina, o que dificultava o seu deslocamento. Ele não tinha nada a ver com a escuna e com os que ali se encontravam. Então o tenente Mello, movido pela compaixão, solicitou ao comandante permissão para comandar a escuna o que lhe foi negado. Insistiu mais uma vez e aí o comandante o autorizou.

Ao verificar que a escuna Jacobina não conseguiria deslocar-se tornando-se presa fácil dos inimigos, organizou a retirada a pé, adentrando pelo Pantanal e em alguns batelões até Cuiabá.

Juntamente com ele, estavam o tenente Antônio Paulo Corrêa e o sargento Antônio Baptista da Cunha. Essa caminhada foi registrada no relatório que o tenente Mello apresentou em Cuiabá, contando com riqueza de detalhes o que foi essa epopeia. Relatório este encaminhado ao presidente da Província de Mato Grosso, general Alexandre Albino de Carvalho, e que foi também publicado no livro A História Esquecida da Guerra do Paraguai de professora Maria Teresa Garritano Dourado (UFMS 2014).

O tenente Mello tinha sob seu comando 230 praças, quatro presos, dois guardas de alfândega, um amanuense de polícia e uma população constituída de mulheres, crianças e idosos, num total aproximado de 400 pessoas. A sua marcha foi de quase 500 quilômetros, atravessando o Pantanal em um terreno totalmente adverso. Por duas vezes rompeu o cerco das forças paraguaias, tendo ainda que, ao mesmo tempo, alimentar toda essa população. 

Teve também que enfrentar e vencer a sedição do tenente Antônio Paulo Corrêa, que contestou o seu comando. O tenente Mello soube vencer todas as dificuldades com  galhardia e serenidade, sendo, sem dúvida, um dos grandes herois da nossa história. A sua epopeia durou do dia 2 de janeiro até 30 de abril, quando chegou a Cuiabá e foi recebido com grande festa pela população.

Escreveu com sua determinação e coragem uma das mais belas páginas da história universal de amor ao próximo.

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