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Heitor Freire

Os japoneses e as loiras

OS JAPONESES E AS LOIRAS
As loiras sempre chamam mais a atenção dos homens. Por quê? Não sei. Parece que esse mito teve origem num filme dirigido por Howard Hawks (americano, cineasta, produtor e diretor de cinema da era clássica de Hollywood) em 1953: Os homens preferem as loiras.
Existe um boato de que toda mulher, se não é, vai ficar loira, ou quer ser loira, pelo menos uma vez na vida. Talvez seja por isso que muitas mulheres pintam o cabelo de loiro. Será verdade? Qual seria o apelo do cabelo loiro?
Esse assunto apareceu por acaso, quando fiz uma pesquisa sobre a vida em Campo Grande nos anos 40, e verifiquei um dado curioso que se deu no meio da colônia nipônica.
Os japoneses aqui aportaram nos idos do século passado, muito contribuíram e continuam contribuindo com seus descendentes para o desenvolvimento da nossa terra.
Inicialmente eram muito fechados, no que diz respeito ao convívio social. Cultuavam intramuros suas tradições, seus costumes e suas religiões. Integraram-se no trabalho, mas permaneciam fechados para a sociedade em geral. Os casamentos, quando não eram acertados, até à distância, com os cônjuges se conhecendo apenas no dia da cerimônia, se realizavam somente entre eles mesmos.
Até que três jovens, legítimos representantes dos antigos samurais, – decidiram com coragem e ousadia contrariar a tradição, permitindo que o coração falasse mais alto. Eles eram das famílias Mihayra, Katayama e Yamaki, e tomaram a iniciativa de se casar fora dos limites da colônia, e não somente isso, mas com loiras! Foi um escândalo. Abalaram as estruturas.
Naturalmente, hoje o casamento inter-racial é algo corriqueiro, mas naquela época era raro e dava o que falar, Vejamos:
Dessas três famílias, o primeiro a se casar com uma brasileira loira foi  Eissun Miyahira, que se casou com a  Neci. Eissun era proprietário de um hotel na avenida Mato Grosso, perto da estação ferroviária, Hotel Estação, e a Neci tinha um ateliê de costura. Da união de Eissun e Neci nasceram três filhos homens: Cid, o mais velho, famoso tocador de corneta nas fanfarras do Colégio Dom Bosco; o segundo filho se formou em Medicina e foi trabalhar em Rondônia; e o mais novo, Renê, mora no Rio de Janeiro.
Na avenida Afonso Pena, ao lado do cine Alhambra, havia o Bar Alhambra e o Photo Katayama. O bar era uma sociedade entre Hiyoshi Katayama e Eissun Mihayra. Dentro do bar, havia um recanto chamado Casa do Chá, frequentado pela sociedade. Com a dissolução da parceria, o Photo Katayama foi ampliado e passou a se chamar Studio Oriente, especializado em fotografias, profissão do Hiyoshi.
Quando chegou ao Brasil, anos antes, Hiyoshi havia se instalado em São Paulo, e trabalhou como fotógrafo nos parques e jardins, era um autêntico “lambe-lambe”. Foi quando conheceu Katsuio, que trabalhava como babá dos filhos do então governador de São Paulo, Rodrigues Alves (mais tarde presidente da República). Conheceram-se quando ela levava as crianças para brincarem no parque, e se apaixonaram.
Katsuio pediu demissão do emprego e disse ao governador que iria se casar. Indagada  onde iria morar, ela disse que o seu futuro marido queria vir para Mato Grosso, especificamente para Campo Grande. O governador, indignado, disse para a Katsuio que o seu namorado era louco e ela também, pois não sabiam o que era Mato Grosso. Não adiantou, se casaram e vieram para Campo Grande por volta de 1920.
O casal teve seis filhos: Paulo, Roberto, Clarinda, Jorge, Eduardo (que se formou em Medicina) e um sexto que veio a falecer depois de uma viagem ao Japão.
Daisi Mendes, também loira, trabalhava no ateliê de costura de Neci, local onde Roberto Katayama a conheceu e se enamorou dela. E se casaram em 1945. Esse foi o segundo casamento, desta vez entre um nissei (que é como se denominam os descendentes de japoneses da primeira geração nascida no Brasil) com uma brasileira descendente de portugueses, contrariando a opinião do pai dele que naquela época não admitia o casamento entre um japonês e uma brasileira. Para se casar com ela Roberto saiu de casa. Quando nasceu o primeiro filho, Renato, houve a reconciliação da família. Renato era o primeiro filho e primeiro neto, se tornou o xodó do avô.
Desta união nasceram, além de Renato, Sérgio e Eva Maria. Roberto Katayama fundou o Foto Roberto, na Rua Dom Aquino, com a ajuda dos amigos Nicolau Duailibi (padrinho do Renato) e Klaus Sturk.
O terceiro casamento de um japonês com uma loira foi o do dr. Koei Yamaki, médico muito conceituado que atendia preferencialmente a colônia nipônica. Casou-se com Sylvia Vieira de Mello em 1949. Desse casamento nasceram cinco filhos: Eliane Masry, Ricardo Eugênio, Lílian Rose, Hilei Cristina e Gilson Eduardo. Koei e Sylvia ficaram casados até 1962, quando se divorciaram.
A seguir, o dr. Koei casou-se com Terlita de Almeida Garcia, igualmente loira. O casamento durou 15 anos, até o falecimento de Terlita.
Depois o dr. Koei casou-se com Nair Schaedler, também loira. O casamento durou cerca de 30 anos, até o falecimento dele, com 94 anos.
Um fato a ressaltar é que, tanto a Terlita como a Nair, que não tiveram filhos com o dr. Koei, conseguiram manter em harmonia a convivência familiar entre todos.
Assim fica registrada a saga corajosa desses três samurais que fizeram história.
Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.

As loiras sempre chamam mais a atenção dos homens. Por quê? Não sei. Parece que esse mito teve origem num filme dirigido por Howard Hawks (americano, cineasta, produtor e diretor de cinema da era clássica de Hollywood) em 1953: Os homens preferem as loiras. 

Existe um boato de que toda mulher, se não é, vai ficar loira, ou quer ser loira, pelo menos uma vez na vida. Talvez seja por isso que muitas mulheres pintam o cabelo de loiro. Será verdade? Qual seria o apelo do cabelo loiro?

Esse assunto apareceu por acaso, quando fiz uma pesquisa sobre a vida em Campo Grande nos anos 40, e verifiquei um dado curioso que se deu no meio da colônia nipônica.

Os japoneses aqui aportaram nos idos do século passado, muito contribuíram e continuam contribuindo com seus descendentes para o desenvolvimento da nossa terra.

Inicialmente eram muito fechados, no que diz respeito ao convívio social. Cultuavam intramuros suas tradições, seus costumes e suas religiões. Integraram-se no trabalho, mas permaneciam fechados para a sociedade em geral. Os casamentos, quando não eram acertados, até à distância, com os cônjuges se conhecendo apenas no dia da cerimônia, se realizavam somente entre eles mesmos.

Até que três jovens, legítimos representantes dos antigos samurais, – decidiram com coragem e ousadia contrariar a tradição, permitindo que o coração falasse mais alto. Eles eram das famílias Mihayra, Katayama e Yamaki, e tomaram a iniciativa de se casar fora dos limites da colônia, e não somente isso, mas com loiras! Foi um escândalo. Abalaram as estruturas.

Naturalmente, hoje o casamento inter-racial é algo corriqueiro, mas naquela época era raro e dava o que falar, Vejamos:

Dessas três famílias, o primeiro a se casar com uma brasileira loira foi  Eissun Miyahira, que se casou com a  Neci. Eissun era proprietário de um hotel na avenida Mato Grosso, perto da estação ferroviária, Hotel Estação, e a Neci tinha um ateliê de costura. Da união de Eissun e Neci nasceram três filhos homens: Cid, o mais velho, famoso tocador de corneta nas fanfarras do Colégio Dom Bosco; o segundo filho se formou em Medicina e foi trabalhar em Rondônia; e o mais novo, Renê, mora no Rio de Janeiro. 

Na avenida Afonso Pena, ao lado do cine Alhambra, havia o Bar Alhambra e o Photo Katayama. O bar era uma sociedade entre Hiyoshi Katayama e Eissun Mihayra. Dentro do bar, havia um recanto chamado Casa do Chá, frequentado pela sociedade. Com a dissolução da parceria, o Photo Katayama foi ampliado e passou a se chamar Studio Oriente, especializado em fotografias, profissão do Hiyoshi. 

Quando chegou ao Brasil, anos antes, Hiyoshi havia se instalado em São Paulo, e trabalhou como fotógrafo nos parques e jardins, era um autêntico “lambe-lambe”. Foi quando conheceu Katsuio, que trabalhava como babá dos filhos do então governador de São Paulo, Rodrigues Alves (mais tarde presidente da República). Conheceram-se quando ela levava as crianças para brincarem no parque, e se apaixonaram. Katsuio pediu demissão do emprego e disse ao governador que iria se casar. Indagada  onde iria morar, ela disse que o seu futuro marido queria vir para Mato Grosso, especificamente para Campo Grande. O governador, indignado, disse para a Katsuio que o seu namorado era louco e ela também, pois não sabiam o que era Mato Grosso. Não adiantou, se casaram e vieram para Campo Grande por volta de 1920. 

O casal teve seis filhos: Paulo, Roberto, Clarinda, Jorge, Eduardo (que se formou em Medicina) e um sexto que veio a falecer depois de uma viagem ao Japão.

Daisi Mendes, também loira, trabalhava no ateliê de costura de Neci, local onde Roberto Katayama a conheceu e se enamorou dela. E se casaram em 1945. Esse foi o segundo casamento, desta vez entre um nissei (que é como se denominam os descendentes de japoneses da primeira geração nascida no Brasil) com uma brasileira descendente de portugueses, contrariando a opinião do pai dele que naquela época não admitia o casamento entre um japonês e uma brasileira. Para se casar com ela Roberto saiu de casa. Quando nasceu o primeiro filho, Renato, houve a reconciliação da família. Renato era o primeiro filho e primeiro neto, se tornou o xodó do avô.

Desta união nasceram, além de Renato, Sérgio e Eva Maria. Roberto Katayama fundou o Foto Roberto, na Rua Dom Aquino, com a ajuda dos amigos Nicolau Duailibi (padrinho do Renato) e Klaus Sturk.  

O terceiro casamento de um japonês com uma loira foi o do dr. Koei Yamaki, médico muito conceituado que atendia preferencialmente a colônia nipônica. Casou-se com Sylvia Vieira de Mello em 1949. Desse casamento nasceram cinco filhos: Eliane Masry, Ricardo Eugênio, Lílian Rose, Hilei Cristina e Gilson Eduardo. Koei e Sylvia ficaram casados até 1962, quando se divorciaram. 

A seguir, o dr. Koei casou-se com Terlita de Almeida Garcia, igualmente loira. O casamento durou 15 anos, até o falecimento de Terlita.

Depois o dr. Koei casou-se com Nair Schaedler, também loira. O casamento durou cerca de 30 anos, até o falecimento dele, com 94 anos.Um fato a ressaltar é que, tanto a Terlita como a Nair, que não tiveram filhos com o dr. Koei, conseguiram manter em harmonia a convivência familiar entre todos.

Assim fica registrada a saga corajosa desses três samurais que fizeram história.

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