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Heitor Freire

Mãe

Mulher é um tema recorrente e abrangente na minha vida, na minha família, nos meus escritos. E mulher como mãe mais ainda; se Deus não tivesse criado a mulher nenhum de nós existiria. É através da maternidade que a mulher se realiza física e espiritualmente.
Sou um ser privilegiado por ter convivido e conviver com mulheres e mães extraordinárias. Eis alguns exemplos:
A minha avó Joaquina, depois de desfrutar por quase toda a sua vida de uma grande riqueza, passou a conviver com dificuldades financeiras na sua velhice, mas sempre foi altaneira e alegre. Eu a visitava regularmente quando morava em Ponta Porã, para tomar um café e  perguntava: “Vó, o que há de novo?” E ela sempre respondia: “De novo, só eu”. Com noventa anos.
A vovó Isabel, avó da  minha mulher, Rosaria, paraguaia, mãe de uma prole numerosa, teve uma perna amputada por causa de uma ferida mal curada, e viveu ainda muitos anos depois disso, sem nunca perder a alegria de viver.
Minha mãe, Dorila, filha de um homem muito rico, casada com um homem também muito rico, viu, de repente sua vida mudar do vinho para a água, quando, em 1947, com a revolução colorada no Paraguay, meu pai perdeu tudo o que tinha e viemos para Campo Grande, com a família já constituída por seis filhos. Aqui, ele alugou um espaço no Bar Bom Jardim e recomeçou sua – nossa – vida, fritando pastéis e tocando uma engraxataria. Minha mãe, apesar de convidada pelo meu avô, nunca aceitou deixar o seu marido. E enfrentou todas as adversidades que a vida lhe oferecia, de cara limpa, com alegria, sem nunca reclamar.
A minha sogra, Armanda, mãe de três filhas, se viu abandonada pelo marido e foi à luta. Tinha um caminhão com o qual comandava o transporte de mercadorias de Ponta Porã para Campo Grande e vice-versa. Em 1965, teve seu caminhão apreendido pelo Exército, sob a acusação de contrabando,  em plena ditadura militar. Não teve qualquer medo em se dirigir ao general-comandante da 9ª Região Militar para exigir a devolução do caminhão, pois a acusação era falsa. E, depois de recebê-lo de volta, ao perceber que o tanque de combustível estava vazio, voltou a encarar o general, exigindo que enchessem o tanque que estava cheio quando foi apreendido. E foi prontamente atendida.
Minha mulher Rosaria sobre quem me manifestei recentemente, mãe de sete filhas, frutos do nosso amor.
Observo também as minhas filhas, todas mães, se havendo com todo amor, critério e consciência no trato diário com seus filhos.  

Estes exemplos acima narrados e por mim vivenciados se multiplicam ao infinito  com o que acontece com as mulheres em todo o mundo, em todos os lugares, em todas as raças.
Encanta-me ver as jovens, às vezes ainda quase meninas, carregando os seus filhos, produtos de uma relação, circunstancial por vezes, e que resultou numa gravidez não desejada, mas assumindo o seu papel de mãe, com uma firmeza nos rostos que mostra claramente a consciência e a determinação de um compromisso assumido com seus filhos.
Essa coragem o homem não tem. Quando se vê ante um resultado de sua inconseqüência, de imediato, procura fugir às suas responsabilidades, alegando as mais estapafúrdias desculpas: “Veja bem… (aliás, já constatei que todas as vezes que se usa esta expressão, é sintoma de uma explicação que caracteriza uma fuga ou uma tentativa de esconder algo – o nosso presidente é useiro e vezeiro na sua utilização – o que revela para quem observa a identificação com um comportamento duvidoso), eu pensei, olha,  eu não sabia, eu não sou culpado (a campeã das expressões de fuga). Vejam o exemplo de Adão.
A mulher não: encara, assumindo todas as conseqüências e desdobramentos de seus atos.  E na condição  de mãe, se diviniza, atinge os píncaros da sua realização. E como é interessante observar que o amor pelos filhos não as leva a agir de forma a relevar os atos destes, ao contrário, dentro do seu compromisso de mãe está o de, acima de tudo, educar. Mãe não dá refresco.
Assim, quando se aproxima o Dia das Mães, nada mais significativo do que homenageá-las com um reconhecimento público, com uma manifestação sincera de admiração, de respeito, de amor, de alegria: mãe é fundamental.

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