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Heitor Freire

Sístole e Diástole

Fluxo e refluxo. Vai-e-vem. Moto-contínuo. Contração e expansão.
Em tudo há um movimento constante, permanente. Entre os sete princípios do Kaybalión – livro que contém os sete princípios herméticos enunciados por Hermes Trismegisto (O Três Vezes Grande: Rei, Sacerdote e Juiz) –  está o ritmo, que engloba o sistema de movimento que envolve tudo e a todos. Nada é estático. E há também o princípio da vibração. Tudo vibra. Tudo tem som. Perceptível ou não. Mas tem.
E isso diz respeito ao sistema que rege o universo. Deus está no movimento. E como tal, a partir do momento em que entendemos isso, passamos a ter uma visão panorâmica da vida: Deus está presente sempre. Nada é imutável. Heráclito dizia que a única coisa imutável no universo é a mudança. Lavoisier disse a mesma coisa, de outra forma: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Ou seja, dessa dinâmica surge o conhecimento que nos permite confirmar o que acontece, como acontece, por que acontece.
Esse movimento permanente, imutável, constante, com o mesmo ritmo nos envolve e  se manifesta da mesma forma em todo o universo, chegando-se assim à conclusão da infinita igualdade a que somos submetidos, sem exceção. E que nos dá também a verdadeira dimensão da inesgotável sabedoria de Deus.
A comprovação da infinita igualdade se dá quando Deus fala a Moisés, como registrado no livro Deuteronômio, e lhe diz que Ele não colocou o seu mandamento no céu, para que o homem não dissesse que não poderia alcançá-lo, pois não tem como subir até lá; que não o colocou no além-mar para que o homem não dissesse que não dispõe de barco para navegar; mas Ele o colocou no coração do homem, indistintamente, igualando-nos a todos, e assim, todos têm acesso para conhecê-lo e cumpri-lo. Ou seja, não tem desculpa. Cabe a cada um dispor-se a encontrá-lo, entendê-lo  e a praticá-lo.  
A partir daí entende-se claramente que não há necessidade de intermediário para se ter acesso a Deus. Não há necessidade de santo protetor, de igrejas, de intercessor, ou de fórmulas pré-estabelecidas. Cada um pode dirigir-se diretamente a Ele, através da sua própria ação, palavra ou pensamento.
E ao divulgarmos este tema, estamos também cumprindo a Lei de Uso – outra lei codificada por Hermes Trismegisto – que diz: “O conhecimento e a riqueza devem circular”. Assim quem atingir o conhecimento e a riqueza, deve concorrer para a sua circulação para que todos, indistintamente,  possam beneficiar-se da sua utilização.
A partir do momento em que se compreende que Deus está presente, percebemos que não há nada escondido. Aliás, Jesus disse isso com todas as letras. Assim, todos os nossos atos, todos os nossos pensamentos e todas as nossas palavras estão registrados, não havendo como negar-se qualquer atitude que tenhamos tomado. Nada vai ser explicado, pois a explicação torna-se desnecessária. O fato está ali, registrado. Isso nos desnuda de forma muito comprometedora, e longe de nos condenar, nos liberta.
Ao mesmo tempo este conhecimento nos leva a mudar completamente o nosso comportamento, pois nos mostra que cada ato deve ser necessariamente avaliado, evitando atitudes automáticas e impensadas, enriquecendo a nossa encarnação, pois passaremos a agir conscientemente.       
O ser humano é um ser em construção: ele não nasce pronto e acabado. Vai se desenvolvendo à medida em que vai aplicando o conhecimento, confirmando-o para sua continuidade. Conforme vai sendo educado, se aperfeiçoa e evolui crescendo mental e espiritualmente. Dessa forma elimina dos seus atos o interesse, a arrogância, a dominação, a pressa, a preguiça. Daí a importância da célebre frase no frontispício do Tempo de Apolo, na ilha de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”, inscrita há mais de dois mil anos.
E reside aí a grandeza da sabedoria de Deus, que torna o ser humano co-autor da Sua obra, permitindo que cada um possa contribuir com sua própria inteligência, com seu discernimento, possibilitando a todos o trabalho de sua construção interior, que é infinita.
“Se compreendes, as coisas são como são. Se não compreendes, as coisas são como são”.

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