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Heitor Freire

Das Mulheres Bíblicas III

Ainda Betsabé, mãe de Salomão: ela foi fundamental para que Salomão ascendesse ao trono do povo hebreu. Davi havia lhe prometido isso. Adonias, filho também de Davi, ao perceber a preferência de seu pai por Salomão, começou a organizar  um exército para destroná-lo.
Betsabé então rogou a Davi que determinasse ao sacerdote Sadoc para ungir Salomão como rei, o que foi feito, juntamente com o profeta Natã. Assim, Salomão ascendeu ao trono, sucedendo a seu pai que continuou vivo ainda por um tempo, tendo como companheira na sua velhice, Abisag de Sunam, uma jovem solteira e virgem que cuidou dele até a sua morte.
O rei Salomão foi considerado o mais sábio de todos os homens. Teve setecentas esposas e trezentas concubinas. Talvez por isso também ele tenha sido considerado tão sábio.
A mulher que se destaca nessa época é a rainha de Sabá, Belkiss, cujo reino localizado na região da Etiópia, tinha tradição matrilinear – o poder era passado aos descendentes pela via feminina – e que ao ouvir falar de Salomão quis conhecê-lo e se dirigiu ao seu reino. Foi recebida com toda pompa e circunstância e manteve com ele um relacionamento íntimo e celebrou vários tratados para o seu país.
Na continuidade da história destacamos Judite, hebréia, mulher de rara beleza e de grande coragem, viúva, que se viu na contingência de submeter-se a um grande desafio com risco de sua própria vida para salvar o seu povo da opressão do rei Nabucodonosor, que enviara o seu melhor comandante o príncipe Holofernes, com um exército de 150 mil homens  para submeter o povo hebreu ao seu poder tirânico.
Judite morava na cidade de Betúlia, que foi cercada por Holofernes, cortando-lhe todas as vias de acesso, de suprimento e de água. Ele mandou um ultimato aos habitantes de Betúlia, determinando que a cidade se entregasse, sob pena de submetê-la à mais completa e total destruição, dizimando toda a sua população. Deu um prazo de cinco dias para  a cidade decidir.
O povo entrou em pânico. Os judeus têm o costume de, em situações extremas, vestirem-se de saco, jogando cinzas em suas cabeças, lamentando-se continuamente. Foi então o que fizeram.
Judite, em vez de se lamentar como o povo estava fazendo,  decidiu agir. Orando, obteve orientação espiritual. Convocou os anciãos da cidade, pedindo ao povo que orassem por ela e lhes comunicou que iria ao encontro de Holofernes, para tentar convencê-lo a deixar a cidade livre. Todos consideraram um suicídio, o que ela se propunha a fazer. Mas, como não encontravam outra solução, aceitaram a sua sugestão.
Judite vestiu-se com sua melhor roupa e, acompanhada de sua serva, pediu que abrissem o portão da cidade. E saiu, majestosa, com um porte divino de verdadeira rainha.
Quando os guardas assírios perceberam a sua presença, comunicaram o fato ao comandante, que determinou que ela fosse levada à sua tenda. Quando ela chegou, Holofernes ficou profundamente impressionado com o seu porte, a sua beleza, e a serenidade que  irradiava do seu ser.
Ao ver o príncipe Holofernes, Judite levantou os olhos para o seu rosto, inclinando-se profundamente diante dele até o solo. Perguntou-lhe Holofernes: “Por que deixaste o teu povo e vieste para o nosso meio?”. Respondeu Judite, em longa fala, historiando o comportamento do povo que se afastara de Deus, deixando de cumprir os seus preceitos “E como Deus está irritado com o povo, fui enviada para te anunciar isto”.
Judite foi então introduzida na tenda que lhe foi designada ao lado da de Holofernes. Ela pediu que lhe fosse permitido sair à noite e antes do amanhecer para fazer suas devoções e para adorar seu Deus. O que lhe foi prontamente concedido pelo príncipe assírio, ordenando aos guardas que permitissem a Judite  movimentar-se livremente.
Holofernes apaixonou-se por ela. Ofereceu um banquete aos seus oficiais, convidando Judite por intermédio de seu eunuco Vagao, e  ela aceitou.
Ao vê-la chegar, trajada com todo requinte, Holofernes sentiu o seu coração agitar-se. Beberam todos, embriagando-se, mas Judite se manteve totalmente lúcida. Logo depois os oficiais retiraram-se, deixando-o a sós com ela, Holofernes bêbado a cair, repousou em seu leito.
Nesse momento, Judite orou a Deus, pedindo força e coragem. Tomou a espada de Holofernes e decepou-lhe a cabeça. Com a ajuda de sua serva, colocou-a num saco.
Depois saíram ambas, como de costume, como se fossem para a oração. Atravessaram o acampamento, contornaram o vale e chegaram às portas da cidade.
À sua chegada, o povo todo se reuniu quando ela comunicou-lhes o acontecido e os orientou, que atacassem os assírios, logo ao amanhecer, com bastante alarido. Quando estes, surpresos, buscaram acordar Holofernes, o encontraram degolado, o que causou  confusão e se viram assim sem comando, dispersando-se de forma descontrolada, o que permitiu aos hebreus uma vitória sem precedentes, dadas as condições anteriores.
Assim, Judite se consagrou como uma das grandes mulheres da história de Israel.

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