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Heitor Freire

De Quem É A Culpa?

Fim de ano, momento de fazer um balanço do que se fez, do que se sonhou, do que poderia ter sido feito, enfim, fazer uma reflexão geral sobre o ano que passou. E este, particularmente foi totalmente atípico.

A Covid-19 deixou um rastro de dor, sofrimento, mortes, de confronto com a realidade da vida, provocando uma sacudida muito forte em muita gente. Muitos se questionam o porquê de tantas viradas, sentindo-se vítimas de um acontecimento inesperado, cobrando até a Deus por tanta injustiça – numa análise superficial e de exclusão de responsabilidade –, esquecendo-se de que nada acontece por acaso. E que tudo acontece porque existe uma causa anterior, que se completa com a colheita do que se plantou.

Mas, paralelamente a tudo isso, há um mal permanente, silencioso, com a conivência e omissão de muitos, que assola a humanidade há muito tempo e que poucas vezes tem seus números reais divulgados: o uso de drogas químicas e de dependência do álcool, que crescem assustadoramente. É uma epidemia presente e permanente. E que deve merecer um olhar das nossas autoridades, da sociedade e principalmente dos pais. 

Segundo dados da internet, existem, no Brasil, 3,5 milhões de dependentes químicos permanentes. Atentem para o número: 3,5 milhões. Essas pessoas são vítimas diretas do tráfico de drogas. Por outro lado, morreram, em nosso país, vitimadas pela Covid 19, mais de 600 mil pessoas. Ou seja, esse é um mal crônico na sociedade, que não vem sendo tratado com o devido cuidado. 

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com várias outras instituições, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e a Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, realizaram o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela população brasileira, entre maio de outubro de 2015.

Este é o mais completo levantamento sobre drogas já realizado em território nacional.

A substância ilícita mais consumida no Brasil é a maconha: 7,7% dos brasileiros de 12 a 65 anos (em torno de 14 milhões) já a usaram ao menos uma vez na vida. Em segundo lugar, fica a cocaína em pó: 3,1% (mais ou menos 6 milhões) já consumiram a substância. 

Aproximadamente 1,4 milhão de pessoas entre 12 e 65 anos relataram ter feito uso de crack e similares alguma vez na vida, o que corresponde a 0,7% da população. Os usuários de crack compõem uma população majoritariamente marginalizada, que vive em situação de rua. Como se sabe, o crack é a mais barata das drogas, daí o motivo. Desse modo, é importante reforçar que o levantamento corrobora o grave problema de saúde pública que é o uso do crack no Brasil. 

Isso tudo sem considerar o consumo de álcool, uma droga amplamente legalizada e aceita na sociedade, cujos dados são ainda mais alarmantes. Mas o álcool não está relacionado com as substâncias ilícitas, cuja aquisição decorre diretamente do tráfico de drogas. 

Cerca de 275 milhões de pessoas usaram drogas no mundo no último ano, enquanto mais de 36 milhões sofreram de transtornos associados ao uso de drogas, de acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas 2021. O documento foi divulgado em 24 de junho de 2021pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

“A menor percepção dos riscos do uso de drogas tem sido associada a maiores taxas de consumo de drogas. As descobertas do Relatório Mundial sobre Drogas 2021 do UNODC destacam a necessidade de fechar a lacuna entre percepção e realidade para educar os jovens e salvaguardar a saúde pública”, disse a diretora-executiva do UNODC, Ghada Waly.

A situação é dramática. Urge que se tomem medidas urgentes e inadiáveis para enfrentar esse mal permanente que está corroendo a sociedade e matando nossa juventude, tornando-a dependente e prisioneira desse círculo vicioso criminoso.

O filme Tropa de Elite foi fundo na causa: quem financia o tráfico é a classe média. Embora ilegal, o tráfico de drogas não infringe outro tipo de lei – a do mercado. Se não houvesse comprador, não haveria venda.

O dito crime organizado não é uma expressão casual, eles são organizados mesmo, defendem seu mercado com unhas e dentes, não perdoando os que infringirem suas regras, eles matam e pronto.

A classe média, que é muito rápida no gatilho para criticar tudo e todos, é quem financia essas organizações. A única forma do tráfico ganhar dinheiro é com a venda da droga. Então é preciso atacar o mal em sua origem, voltando o dedo acusador para o próprio umbigo.

Não dá para deixar para depois. Nem fazer de conta que não é com a gente.

Vamos acordar, meus amigos.

Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.

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