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Heitor Freire

Dos Tesouros Enterrados

No imaginário do homem da fronteira Brasil-Paraguay há um anseio constante: encontrar parte do ouro do Mariscal Solano Lopez.
Neste tema há uma informação e uma lenda: a informação é que  durante a Guerra de Tríplice Aliança, no momento em que sentiu que a guerra estava caminhando para um desenlace desfavorável para ele, o Mariscal começou a transportar junto com o seu exército, carretas e mais carretas carregadas de ouro. Naquela época, dizia-se que o Paraguay tinha tanto ouro que daria para  se fazer um anel em torno do globo terrestre, tal era a quantidade de ouro acumulado de  que o país dispunha.
A lenda: por onde andou o Mariscal, ordenou que se enterrasse parte do ouro e determinou também que se fizesse o enterro seletivo ao longo da fronteira, beneficiando, assim, uma larga faixa de terras.
No livro História de Mato Grosso do Sul, de autoria do professor Hildebrando Campestrini e Acyr Vaz Guimarães( 5ª edição IHGMS), há uma referência: “os coronéis Sosa e Delvalle, (do exército paraguaio), que, decididos a não acompanhar Lopez, na fuga, se haviam retirado(com carretama, soldados, canhões, civis, dinheiro e relíquias das igrejas paraguaias) para Sete Cerros (1), em terras hoje sul-mato-grossenses”.
Assim, há sempre a esperança de se encontrar parte desse ouro lendário. Mais que esperança, expectativa. Basta saber procurar.
Quando trabalhava no Banco do Brasil, em Ponta Porã, duas vezes, me aventurei a buscar esse “bendito” ouro.
A primeira vez foi quando apareceu no banco um alemão com cara de cientista extraviado, dizendo-se portador de uma máquina inventada por ele que tinha a faculdade de detectar metais enterrados, e que poderia indicar o local do ouro enterrado. A primeira pergunta que lhe fiz foi: “ Se é assim  por que o senhor não vai desenterrá-lo?” Ele disse que não dispunha dos recursos financeiros para  essa operação e estava me oferecendo a possibilidade de uma parceria desde que eu entrasse com o dinheiro. Falei com o meu concunhado, alemão catarinense, também funcionário do banco, e decidimos financiar a busca do “tesouro”. Estabelecemos uma data e lá nos mandamos para a área rural, onde segundo o nosso guia e parceiro se encontrava o tal enterro. Passamos um dia inteiro sob um sol escaldante cavando em “n” lugares que a dita máquina indicava e nada. Lá pelo meio da tarde, nos entreolhamos e chegamos à conclusão de que estávamos sendo objeto de uma aventura do tal “cientista”. E voltamos para a cidade.
A segunda vez envolveu um risco muito grande, do qual, no momento, entusiasmados pela perspectiva de ganhos, não nos demos conta. Aconteceu assim: nós, funcionários do Banco do Brasil, formávamos uma equipe unida e amiga. Um dos colegas mencionou que no quintal da casa do seu sogro, à sombra de uma árvore majestosa, havia um enterro e que ninguém sabia, só ele. E, assim, convidou  seis colegas para desenterrar o ouro com ele. Fizemos um plano de ação, escolhendo cuidadosamente a noite em que invadiríamos o quintal. Na noite aprazada, nos deslocamos juntamente com as nossas mulheres que ficaram numa casa de um colega, ao lado, esperando enquanto os bravos desbravadores se aventuravam na “caça ao tesouro”. Por volta das onze horas da noite, silenciosamente entramos no quintal devidamente equipados com lanternas e  diversas pás de ponta para a realização da “operação”. E assim, começamos a cavar. Cava daqui, cava dali, e nada do tesouro. Lá pelas tantas, já cansados de tanto cavar, chegamos à conclusão de que não havia nada. E voltamos para a casa onde nos aguardavam as nossas já dorminhocas mulheres, que ao serem despertadas e informadas do nosso insucesso, e verificarem o estado das nossas roupas ficaram decepcionadas e revoltadas, pois afinal elas é que iriam lavá-las. Até hoje eu não sei por que o “seu Guaiaca”, sogro do nosso colega não acordou com tanto barulho. E o risco a que me referi antes, é que ele era muito valente.
Como é que o ser humano se deixa envolver com essas situações grotescas?.
Sobre o mesmo assunto há ainda, outras estórias. Uma delas: em seu Manuscrito, O Povoamento do Sul de Mato Grosso (IHGMS), José Ribeiro de Sá Carvalho narra as desventuras de dona Balduina Barbosa de Oliveira, que, na época da guerra, temerosa da situação vivida, enterrou seus tesouros no mato, na região do Esbarrancado. Quando voltou àquele lugar, não conseguiu mais encontrar o seu tesouro enterrado, morrendo amargurada por isso. Após três meses de seu falecimento, “seu filho Macias começou a sonhar com a sua mãe e o enterro. Seguindo a impressão dos sonhos, cavou e desenterrou finalmente  intactos os ditos tesouros”. Menos mal, já que como herdeiro natural, conseguiu assim usufruir dos mesmos, repartindo-os com seus familiares.
(1)    Localização atual: imediações do município de Coronel Sapucaia.

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Heitor Freire

Do Instituto III

O Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, em 2004, através de uma alteração em seu estatuto, acrescentou em sua competência o desenvolvimento institucional – aquele que visa definir as necessidades do presente, identificando as causas históricas, mediatas e imediatas para promover o progresso social, político e econômico do nosso estado –  que acabou gerando uma nova alternativa em suas atividades.
“O estado de Mato Grosso do Sul, foi criado por razões históricas, geográficas, culturais, entre outras. E principalmente porque naquela década, no novo desenho do Brasil, aparecia como produtor estratégico de carne e grãos. A instalação da nova unidade federativa provocou uma onda de euforia e de esperanças; no entanto, não se desenvolveu plenamente, como se esperava. Por quê? Como se apresenta o cenário atual? Que direções podemos tomar?”. Com essa proposta,  e cumprindo a nova disposição estatutária, o IHGMS promoveu o I Seminário de Desenvolvimento Institucional, em 2006, no período de 8 a 10 de junho.
Nos contatos iniciais contamos com a preciosa assessoria do promoter e colunista social Djalma Loubet, que foi também o mestre de cerimônias do evento, realizado no Teatro do Prosa.
A abertura foi feita pelo coronel Ozires Silva, que já havia sido presidente da Embraer –  e o grande impulsionador da nossa nascente indústria aeronáutica –, presidente da Petrobrás, ministro das Minas e Energia, enfim uma estrela de primeira grandeza no cenário nacional. E que nos deixou um legado de humildade e simplicidade. Na sua conferência, narrou um fato ocorrido em Campo Grande, quando aqui veio para divulgar o Bandeirantes, que era na época o carro-chefe da Embraer. Ao fazer um vôo de demonstração, com o avião pilotado por ele – coronel-aviador com uma excelente performance como piloto –, cometeu um erro: ao aterrissar esqueceu de baixar o trem de pouso e acabou pousando de barriga –  um fato inusitado que foi, inclusive, notícia  nacional e que, apesar da frustração (e do susto), não comprometeu o desempenho de vendas dessa aeronave.
A programação do seminário foi bem ampla, contendo uma visão de todas as atividades do estado: os aspectos históricos da construção de Mato Grosso do Sul, (professor Hildebrando Campestrini), a conquista histórica  (Ruben Figueiró), passando pelo meio ambiente (Alcides Faria), turismo (Vera Tylde de Castro Pinto), agricultura (Famasul – Leôncio de Brito Filho), indústria (Fiems – Roberto Wolff), comércio e serviços (Marisa Mujica), comércio exterior (João Campos), cultura (Humberto Espíndola), políticas públicas (prof. Paulo Cabral) e, no encerramento, educação (novamente o prof. Campestrini).
O segundo seminário, em 2007, de 13 a 15 de agosto,  teve como tema, a comemoração do Jubileu de Brilhante –  75 anos –  da Revolução Constitucionalista de 1932, em que o sul do nosso estado teve uma atuação muito importante, com a implantação do estado de Maracaju, decretado por Vespasiano Martins,  que assumiu o governo estadual. Com a deflagração do movimento revolucionário, o general Bertholdo Klinger – comandante da 9ª Região Militar – assumiu o comando supremo das forças revolucionárias, deslocando-se de trem para São Paulo, pois o avião que veio buscá-lo teve uma pane em Baurú e lá ficou. A nossa participação foi marcante devido às tropas que daqui se deslocaram para São Paulo, e também pelo fato de ser o único estado solidário com São Paulo, pois Minas Gerais que havia aderido no início, na hora decisiva, acabou recuando mineiramente.
Para preservação da memória, o Instituto programou dois eventos: o primeiro no dia 11 de julho de 2007, no Templo da Loja Maçônica Oriente Maracaju –  local histórico onde foi instalado o governo do estado, em 11 de julho de 1932 – com a participação do governador do estado André Puccinelli,  do presidente da Assembléia Legislativa, do comandante do Comando Militar do Oeste, do comandante da Base Aérea, do prefeito, e outras importantes autoridades, quando também foi inaugurado um marco alusivo a esse fato, na entrada do Templo. Nessa solenidade esteve presente o capitão Gino Struffaldi, presidente da Sociedade de Veteranos de 32 – MMDC, de São Paulo, que veio especialmente para essa comemoração, e homenageou as autoridades presentes ao evento com a Medalha Constitucionalista.
O segundo evento, II Sedims, do dia 13 a 15 de agosto aconteceu no Teatro do Prosa. Nessa ocasião,  foi empossado o presidente de honra do Instituto, governador André Puccinelli, seguida de uma palestra do professor Campestrini, sobre a Revolução Constitucionalista. Na oportunidade também foi agraciado com uma placa comemorativa o Comando da Polícia Militar, por sua participação naquela Revolução.
Na seqüência,  palestras de: Wilson Barbosa Martins – genro de  Vespasiano Martins –  que por ter presenciado o  movimento deu o seu testemunho; de Vera Tylde de Castro Pinto e Vera Maria Machado Pereira, que  apresentaram um vídeo com o histórico  da Liga sul-mato-grossense de estudantes criada em 1932, no Rio de Janeiro e da Liga sul-mato-grossense, lançada em 1977, em nossa capital; do professor Francisco Mineiro Júnior que  abordou a reorganização do Exército Brasileiro; e para encerrar houve uma mesa redonda, com o tema “Do estado de Maracaju ao estado de Mato Grosso do Sul” mediada pelo professor Campestrini e com a participação dos professores Idara Duncan, Paulo Cabral e Valmir Batista Corrêa.
Estes eventos demonstram de forma cristalina o trabalho do  Instituto Histórico e Geográfico de MS,  voltado para a preservação da memória do nosso estado, apresentando sempre as possíveis alternativas.

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Heitor Freire

Do novo horário da justiça estadual

Considera-se administrador público todo aquele cuja gestão e decisões afetam a vida de uma população, de uma cidade, de um estado ou de um país, através de seus atos. O serviço público deve obedecer a um critério que  resulte em benefício dessa população e não o contrário.
Vou referir-me a uma medida tomada pelo pleno do Tribunal de Justiça do Estado: a nossa população foi surpreendida dias atrás com a informação de uma mudança no horário de atendimento da Justiça Estadual – Resolução nº 568/2010. Pela nova regra o expediente ao público  a partir do dia 1º de setembro, passará a ser somente das 12 às 19 horas. No modelo ainda vigente, há dois turnos de funcionários, um que  trabalha pela manhã e outro à tarde. Com o novo horário, atenderão uma turma das 12:00 às 18:00 e a outra, das 13:00 às 19:00, no mesmo local, com os mesmos equipamentos e com as mesmas cadeiras e mesas. Estou sendo detalhista, para mostrar o absurdo da situação: haverá então um turno comum, das 13:00 às 18:00, em que se acotovelarão todos os funcionários ao mesmo tempo. A partir do dia 1º, teremos um contingente com o dobro de funcionários que se atrapalharão num espaço dimensionado para a metade deles, com mesas, cadeiras e computadores insuficientes. Ou seja, não vai funcionar.
Seria oportuno, talvez, que um dirigente do Tribunal esclarecesse publicamente à população o motivo  e os supostos benefícios desta decisão que, a meu ver, parecem disparatados. A alegação de que vai representar uma economia de gastos não procede, uma vez que não  haverá diminuição de funcionários, nem de jornada de trabalho. O atendimento à população e aos advogados vai ficar complicado, pois o período será comprimido no horário reduzido.
É interessante de observar-se que  o artigo 1º da resolução estabelece que a medida é tomada em caráter experimental e temporário, mas, no seu artigo 7º, já prevê a sua possível prorrogação. Ou seja, pretende ser mais uma decisão daquelas que se apresenta provisória e acaba sendo permanente.
A OAB – Ordem dos Advogados do Brasil seccional de Mato Grosso do Sul já se posicionou contra essa iniciativa, no que foi secundada pela FIEMS – Federação  das Indústrias de Mato Grosso do Sul, FECOMÉRCIO – Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de MS, FAMASUL – Federação da Agricultura e Pecuária de MS, FAEMS – Federação das Associações Empresariais de MS e CDL – Câmara dos Dirigentes Lojistas de MS, que são as entidades mais representativas do empresariado do estado. E até agora, os nossos nobres desembargadores não se sensibilizaram para a inconveniência  dessa decisão.
Esta resolução é  mais uma tentativa teimosa para implantar esse horário. Teimosa porque já se tentou por meio de um projeto de lei enviado à Assembléia Legislativa que o rejeitou por ser manifestamente  inconstitucional. A inconstitucionalidade da medida prevalece: a constituição estadual estabelece que o horário de funcionamento do Poder Judiciário é das 08:00 às 18:00 horas. Enquanto não se mudar esse dispositivo constitucional não há como mudar-se o seu horário de funcionamento.
Agora, para tentar impedir a vigência dessa resolução, a OAB do nosso estado, por meio do Conselho Federal, entrou no Supremo Tribunal Federal com uma ADIN – Ação Direta de Inconstitucionalidade –, que foi distribuída após parecer favorável da Comissão Nacional de Estudos Constitucionais do Conselho Federal da Ordem. Ou seja, com total respaldo do Conselho Federal da  OAB.
Essa resolução foi aprovada pelo pleno do Tribunal de Justiça, cuja decisão embora não tenha sido unânime foi aprovada pela sua quase totalidade. E os nossos desembargadores, imagina-se, espera-se, presume-se, são os melhores conhecedores do direito e da legislação. E como tal, guardiões da lei e da constituição. Sendo, ipso facto, cumpridores conscientes do seu ordenamento.
No meio forense circula desde há muito tempo um comentário: os juízes pensam que são “deus”; os desembargadores, têm certeza. Só pode então ser esta certeza que os leva a pretender se colocarem acima do bem e do mal.
No livro dos Provérbios, que faz parte dos livros sapienciais da Bíblia Sagrada, o rei Salomão, ensina que as pessoas sábias quando contestadas se sentem gratificadas, aceitando a contestação exatamente, por saberem que não são donas da verdade e as insensatas, se revoltam, sem avaliar o que  estão fazendo.
Vamos observar o que vai acontecer.

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Heitor Freire

Da velhice

O ser humano nasce, cresce, se desenvolve, envelhece e morre. Certo? Errado.
A composição da encarnação de cada um é muito complexa: temos espírito, mente e corpo constituído de milhares de células – que se renovam constantemente até o desencarne –, motivo pelo qual o envelhecimento tido e havido como inevitável é uma falácia.
O que acontece é que o ser humano não se conhece, e por isso, acaba incorrendo em erro de conhecimento e de avaliação do que é na realidade. Há dois elementos que são fundamentais na vida: o ar e a água. E o ser humano não sabe utilizá-los de forma inteligente e verdadeira. Respira de qualquer jeito. E não se alimenta da água como deveria.
O que se observa é que todos vivem muito apressados, correndo, sem parar, sem entender o tempo e sem utilizá-lo de forma coerente e satisfatória. E como diz o povo: “Apressado come cru”.
A maioria das pessoas procura a sua realização financeira, para a qual dedica a grande maioria dos seus atos e pensamentos, e quando “chega lá”, sente uma grande frustração porque nessa caminhada acabou esquecendo de amar, de ser, atropelando tudo  na busca insensata pelo ter.  
Agora mesmo observamos o comportamento dos políticos na corrida desenfreada pelas eleições: descumprem compromissos assumidos, elegem prioridades que só são válidas se os levarem ao cimo e assim, agem de forma totalmente egoísta, focam toda a sua atenção e todos os seus atos no objetivo eleitoral, não medindo consequências para obter a vitória.
Falta uma ação consciente e verdadeira. Falta o conhecimento de si mesmo. “ Conhece-te a ti mesmo”, já enunciava o frontispício do Templo de Apolo na ilha de Delfos. Que foi também a base do ensinamento de Sócrates.
O que acontece é que o que não se usa se deteriora. Ou se é mal-usado, não realiza, não cumpre a sua finalidade. Vindo quase sempre a causar prejuízos quando poderia proporcionar benefícios. É o caso específico da respiração.
Quando bem orientada e consciente a respiração é fonte permanente de ativação das células, proporcionando um bem-estar permanente, estimulando a mente, educando o corpo, elevando o espírito. Pela respiração recebemos a energia vital, processando a oxigenação do sangue, que por sua vez, fornecerá a todas as células do organismo o alimento necessário a suas funções.
A água, que constitui a maior parte do nosso planeta e também do nosso corpo, muitas vezes é relegada a um plano secundário, deixando de proporcionar ao ser humano a fonte de renovação e elevação, parte da sua ação transformadora. Os idosos, às vezes, se esquecem de beber água, o que acaba causando perda de memória e de discernimento. A recomendação é que se tome, no mínimo, um litro de água por dia. Eu tomo mais um pouco.
A sequência da existência humana em nosso planeta, enunciada no primeiro parágrafo deste artigo,  não é uma equação matemática que vai se desenvolver de uma forma automática.
Pelo contrário, quando a encarnação é desenvolvida de forma consciente e ativa, acaba proporcionando uma verdadeira revolução em nós mesmos.
De acordo com os ancestrais de diferentes partes de nosso mundo, nosso corpo sente e pensa.  
Por exemplo, nas tribos australianas, quando uma pessoa se fere ou adoece, a tribo se reúne ao redor do enfermo e canta pedindo perdão à ferida ou parte afetada. E esta começa naturalmente a dar sinais de melhora causando curas milagrosas.
O mesmo acontece nas assombrosas curas dos kahunas ou médicos magos havaianos. Eles entram em oração direta com a parte afetada pedindo-lhe perdão. Esse ato de oração envolve os magos, o paciente e todas as vidas durante as quais eles possam ter se encontrado e se envolvido com essa pessoa. E também causam curas consideradas prodigiosas.
No conhecimento ancestral inca, tudo é reciprocidade; quando alguém adoece ou se enche de energia pesada ou hucha, por ter atitudes egoístas, não deixa fluir o sami ou energia leve. Por isso nas curas se pede para aquela parte do corpo se harmonizar com pachamama – o tempo que cura as dores –  permitindo que o bloqueio se reequilibre. E a pessoa se cura.
No caso dos indios Lakota (que significa sentimento amigável, unidos, aliados), na América do Norte, eles falam com o corpo para informar-lhe que existe uma medicina que vai curá-lo. E naturalmente as pessoas se curam. Touro Sentado foi um chefe Lakota.
A sabedoria do corpo é um bom ponto de acesso às dimensões ocultas da vida: é totalmente invisível, mas inegável. Os investigadores médicos começaram a aceitar este fato em meados dos anos oitenta. Há dez anos parecia absurdo falar de inteligência nos intestinos.
Sabia-se que o revestimento do trato digestivo possui milhares de terminações nervosas, mas que eram consideradas simples extensões do sistema nervoso, um meio para manter a insossa tarefa de extrair substâncias nutritivas da alimentação.
Hoje sabemos que, depois de tudo, os intestinos não são tão insossos. Estas células nervosas que se estendem pelo trato digestivo formam um fino sistema que reage a acontecimentos externos: um comentário perturbador no trabalho, um perigo iminente, a morte de um familiar.
Ou seja,  à medida que desenvolvermos o nosso autoconhecimento iremos descobrindo um potencial inimaginável em nosso corpo, e que irá gradativamente libertar-nos de todos os dogmas, medos, receios. Depende de cada um.

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Heitor Freire

Dos Atrasos Oficiais

O exercício do poder é o meio mais eficaz para se avaliar o comportamento do ser humano. Dê-lhe  poder e ele se mostrará. É impressionante a verdade desta afirmação. Basta analisarmos o comportamento dos nossos homens públicos que não são só os governantes, mas todos aqueles cujas decisões implicam em influência na população.
Quando se vêem numa posição de comando, geralmente perdem a humildade aparente e se tornam arrogantes, prepotentes, autoritários, soberbos, ou seja, mostram a sua face verdadeira. Passam a ser o “rei da cocada preta”, não respeitam a mais ninguém, atropelando a todos e principalmente a lei.
Esse é o comportamento que se observa, por exemplo, no nosso presidente. É muito comum, na imprensa nacional, a notícia sobre os atrasos cometidos pelo presidente Lula em seus compromissos oficiais.  Já são tão comuns que deixaram de ser mencionados. Algumas de suas atitudes inadequadas, por serem reincidentes, já não provocam tanta repercussão. Mas ele se superou em seu discurso na África do Sul, quando se referiu à copa de 2014, comentando –  na qualidade de presidente da República – o que os turistas poderiam sofrer no Rio de Janeiro, com assaltos e outros dissabores provenientes de uma falta de ação do poder público em sua obrigação de proteger não só os turistas, mas também os próprios cidadãos daquela cidade que já foi maravilhosa, como se isso fosse corriqueiro e não pudesse ser mudado. Essa matraca precisa parar.
Aqui em nosso estado, se verifica o comportamento de atraso a compromissos públicos, da parte de algumas autoridades do executivo. Para qualquer evento programado, o normal é um atraso de uma hora no mínimo, o que acaba criando um clima de revolta e de insatisfação entre os presentes.
Qual será a causa desse comportamento reiterado? Cada autoridade tem o seu próprio cerimonial, que, naturalmente, consulta preliminarmente a agenda do  chefe, e o informa de cada evento, do local, do horário, etc. Assim não há como se alegar  falta de informação. Nem desconhecimento da realização do compromisso, para o qual sua presença é, muitas vezes, indispensável.
O protocolo que regula o conjunto de formalidades a serem observadas em cerimônias públicas determina claramente o horário de abertura de um evento público como marco inicial de uma solenidade para a qual são convidadas as pessoas escolhidas pelo cerimonial ou pela circunstância do evento.
E essa prática tem outro efeito colateral: os subordinados ao ver o exemplo dos chefes acabam se achando no direito de proceder da mesma maneira. E assim esse comportamento acaba gerando um efeito cascata, que é profundamente prejudicial pelo mau exemplo que transmite.
Nas assessorias dessas autoridades, falta, talvez,  um auxiliar competente, consciente e corajoso, para alertá-los da falta que cometem com os cidadãos. Afinal, tempo é uma questão de preferência e de administração.
Sinto-me muito à vontade ao tratar deste tema, por dois motivos:  primeiro, por ser eleitor,  e em conseqüência fiscal dos atos das autoridades públicas, acompanhando de perto as movimentações de cada um e também por desejar que este estado de coisas tenha um fim; e  segundo, porque em todos os cargos que exerci – e não foram poucos – nunca cheguei atrasado. Em alguns casos  a cerimônia  só começaria quando eu chegasse. A esses compromissos sempre primei por chegar com bastante antecedência.  
Lembro-me do comportamento de Wilson Barbosa Martins, quando governador do nosso estado. Ele sempre chegava antes da hora. Eu mesmo presenciei isso algumas vezes. Durante a realização de um congresso de corretores de imóveis em nossa capital, cuja abertura e palestra magna seria proferida por ele, chegou com 10 minutos de antecedência. Eu que era o presidente do sindicato e do congresso, cheguei antes ainda e assim pude recepcioná-lo da forma protocolar.
Lembro-me também de uma outra autoridade –  esta de uma entidade filosófica –  que, alertado por seus assessores sobre o horário previsto marcado para uma reunião sob a sua presidência, alegou irônica e desrespeitosamente: “Não tem problema, a reunião só terá  início quando eu chegar” – demonstrando assim total inaptidão para o exercício do elevado cargo que exercia, com evidente menosprezo aos seus pares.
O meu objetivo é que o  comportamento das nossas autoridades maiores mude   nesse quesito por uma questão de respeito ao próprio cargo que ocupam  e também aos cidadãos do nosso estado.

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Heitor Freire

Do Hexa

Estamos todos vivendo ainda a ressaca da derrota da seleção  brasileira para a Holanda. A paixão do brasileiro pelo futebol leva a extremos, exatamente por ser paixão. A paixão cega as pessoas, e como  cega, leva a atos impensados e irrefletidos.
É bom aproveitar a oportunidade do momento vivido para tentarmos entender e aprender a agir de forma equilibrada.
Vimos o Felipe Melo,  no jogo final,. em poucos minutos passar da glória para a execração pública. Como é fugaz o momento de consagração numa atividade como o futebol. O que vai ficar para a história é o ato do gol contra e a imagem da sua expulsão. Poucos vão lembrar o momento do passe excepcional para o gol do Robinho.
Faltou à nossa seleção um líder dentro de campo e comando de fora dele. Quando disputamos a final, em 1958, na Suécia, contra a seleção da casa, o primeiro gol foi marcado por eles. Aí, nesse momento, se manifestou de uma forma grandiosa a personalidade do líder: Didi foi calmamente até o fundo da rede, pegou a bola, e a colocou embaixo do braço e seguiu conduzindo-a, calmamente caminhando majestosamente, de cabeça erguida,  até o centro do campo. Enquanto caminhava ia dizendo aos seus companheiros: “Calma, que o jogo está apenas começando e nós somos capazes de ganhar este jogo”. A tranqüilidade que ele conseguiu transmitir aos seus companheiros foi fundamental para a vitória final, Brasil 5 x 2 Suécia. Esse foi o  nosso primeiro título mundial em Copa do Mundo.
Durante o jogo da derrota brasileira na semana passada, observamos um comportamento muito nervoso do nosso técnico: Dunga começou a esbravejar e a golpear a coluna da cobertura do local onde se encontrava, transmitindo intranqüilidade e desequilíbrio  muito grandes aos nossos jogadores. Faltou um Didi. Os jogadores ficaram nervosos, e o próprio Kaká – figura até então de temperamento dócil em geral – ao  perder um gol, parece ter sido contaminado pela truculência do técnico e se manifestou com uma imprecação quase audível.
Observo também que faltou empenho maior dos jogadores. Em muitas oportunidades eles esperavam a bola chegar a seus pés, faltou a fome de bola. O Neném Prancha, filósofo do futebol,  já falecido, dizia sempre: “O jogador tem que ir na bola, como se fosse a um prato de comida, com muita vontade”. Gentil Cardoso, um técnico que tinha um ensinamento filosófico muito próprio, dizia também: “Quem pede, recebe. Quem se desloca tem preferência”. Isso na década de 50. Seria oportuno que o futuro técnico da seleção procurasse entender e aplicar esse ensinamento.
Entendo que o Dunga, assim como todos os brasileiros – mas equivocadamente e por vias tortas –, queria ganhar a Copa; ele escolheu livremente o seu elenco, defendia a sua escalação e os jogadores convocados, demonstrando assim um espírito de corpo, de unidade. Foi coerente.
Há uma tendência em nosso povo de torcer contra a seleção, não consigo entender o porquê. Tenho respeito pelo Dunga, pelo seu trabalho, pela sua dedicação. Espero que o torcedor brasileiro também o respeite. É preciso destacar a sua coragem, disciplina e garra. Ele determinou um comportamento rigoroso para os seus jogadores e não fez concessões ao clamor popular nem se intimidou com as críticas.  Quando a rede Globo tentou, em vão, uma entrevista exclusiva com os jogadores, se fez presente o espírito hostil do Dunga, não permitindo o contato do time com a imprensa, mesmo contra a determinação do presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
Há no imaginário do cidadão latino-americano, e principalmente do brasileiro, a procura de um fator de fora para justificar o sucesso e a derrota. Assim se atribui a alguém ou a algo uma influência determinante do resultado. Com isso cria-se uma imagem de pé-frio, de pé-quente, ou de ações mágicas.  E essa é justamente  a graça do jogo. É o que alimenta o pensamento místico do torcedor. Futebol não é uma ciência exata – apesar de os alemães estarem aí para confirmarem a exceção à regra. Não nos esqueçamos de que futebol, em sua essência, é diversão, entretenimento. Superstição tem tudo a ver com futebol. Quem não gosta de usar a mesma camisa que “deu sorte” quando surge mais uma decisão de campeonato? É suor, é sangue, é emoção, e nervos à flor da pele. Sem isso, não seriamos como disse Nelson Rodrigues uma “pátria em chuteiras”. Grande parte do encanto que uma partida exerce na torcida reside nessa miscelânea de pensamentos mágicos, de trágicas coincidências, de boa dose de acontecimentos sobrenaturais, de promessas, fantasias, de catarse pública no seu mais alto grau. Nem todo o teatro grego reunido conseguiu isso.
Gostaria de ter visto a seleção brasileira sendo recebida de forma carinhosa pelo nosso povo, pelo presidente que lhe  ofereceu uma despedida e deveria lhe proporcionar uma acolhida de reconhecimento pela dedicação, apesar de tudo.
Destaca-se, de qualquer forma, o profundo sentimento de brasilidade que  nos envolveu, desde as crianças criando um sentimento de amor pela seleção, que no final e sempre, representam o nosso país.
Enfim a luta continua, a busca pelo hexa não terminou. A próxima copa será no nosso país. Vamos nos preparar para ganhar dentro do campo com fatores endógenos. Talvez com uma pitada da metodologia alemã e generosas doses de ginga e bom-humor, cheguemos lá.
A classificação do Uruguai na última sexta-feira serviu para lavar a alma de todo um continente. O minuto final da prorrogação parecia uma tragédia de Shakespeare, pura ficção, um roteiro inimaginável que o dramaturgo mais talentoso do mundo jamais ousaria escrever. Puro espetáculo. Isso, sim, é futebol.

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Heitor Freire

Do Instituto II

Complementando nosso artigo anterior: para ter uma abrangência estadual, o Instituto Histórico e Geográfico, criou seis diretorias regionais assim distribuídas, com os seus respectivos diretores: na região norte, em Coxim, tendo como titular, o dr. Irajá Pereira Messias; na região sul, com sede em Ponta Porã,  professor Nivalcir Almeida; na região leste, em Paranaiba, Antônio Lemos de Freitas; na região oeste, em Corumbá, dr. Moysés Reis Amaral; na região noroeste, em Rochedo, dr. José Corrêa Barbosa, e na região sudoeste, em Nioaque, Paulo José Corrêa. Assim está estruturado para expandir as suas atividades por todo o nosso estado.  
A experiência como associado do Instituto Histórico e Geográfico e mais ainda, como membro de sua diretoria, é para mim, extremamente enriquecedora e gratificante. O convívio com os nossos confrades, me deu uma perspectiva nova e estimulante como o   despertar em mim da vontade de escrever, no limiar dos meus setenta anos – agora já completados .Sou testemunha da influência que a intimidade e a convivência com a cultura e  o saber proporcionam.
No Instituto convivo, por exemplo,  com o professor João Pereira da Rosa, bisneto do fundador de Campo Grande, José Antônio Pereira, médico que dedicou sua vida à educação. João foi diretor do Instituto de Ciências Biológicas – embrião da nossa universidade federal – implantada por ele mesmo como universidade estadual e da qual foi  reitor por dois mandatos. Não contente com isso, em 1985, assumiu a direção da Fundação Tia Olívia e lá está até hoje, dirigindo a escola mantida pela Fundação. O  Instituto Histórico e Geográfico vai lançar brevemente o seu livro de memórias.
Convivo com um varão da estirpe do dr. Wilson Barbosa Martins, sempre presente em nossas reuniões, ativo, participativo; como governador do estado já foi por duas vezes presidente de honra do Instituto. O seu livro Memória: Janela da História recentemente lançado, foi editado pelo IHG.
Convivo com o dr. Francisco Leal de Queiróz, testemunha ocular da fase republicana e democrática da nossa história. Deputado no  antigo estado do Mato Grosso, por três legislaturas, prefeito de Três Lagoas; suplente de senador; secretário de estado nos governos Pedrossian (Mato Grosso)  e em nosso estado, nos governos Ramez Tebet, Marcelo Miranda e  Wilson Barbosa Martins; secretário representante do nosso estado em Brasília; procurador-geral do Tribunal de Contas. Eu não conheço nenhum homem público com desempenho em tantos e tão variados cargos. Vivo insistindo com ele para escrever a sua experiência. Pretendo convencê-lo um dia.
Convivo com o professor Valmir Batista Corrêa – diretor do nosso conselho editorial –  e sua mulher, professora Lúcia Salsa Corrêa, profissionais de destaque no mundo acadêmico, os quais como associados emprestam sua cultura e conhecimento para o trabalho do nosso Instituto.
Convivo com a Ledir Pedrosa, nossa diretora financeira, desempenhando o seu cargo com zelo e dedicação, contribuindo para a estabilidade financeira da instituição. Convivo com o Marcelo Bluma, nosso diretor financeiro adjunto, vereador à  Câmara Municipal de Campo Grande.
Convivo com a Vera Maria Machado Pereira –  filha do nosso fundador e primeiro presidente, Paulo Coelho Machado –, que contribui com a sua inteligência e experiência como diretora executiva adjunta, sempre anotando tudo e complementando o trabalho da nossa diretora executiva, Vera Tylde de Castro Pinto.
Vera Tylde, com quem convivo desde a primeira diretoria, em 2002, que assessora o nosso presidente, professor Hildebrando Campestrini, e de forma estreita trabalha comigo na execução dos mais variados projetos, muitos dos quais ela mesma cria e desenvolve. Juntos, coordenamos os quatro seminários de desenvolvimento institucional, já realizados. Estamos, este ano, na 5ª edição. Juntos também coordenamos a pesquisa e o trabalho para a edição do livro sobre a história da aviação civil em nosso estado, livro a ser editado pelo Instituto cujo lançamento será realizado na semana do aviador, em outubro, dentro da programação comemorativa da Base Aérea. O livro trata da história  dos  ases dos ares, que são os pilotos dos aviões de pequeno porte em nosso estado. A Vera Tylde é uma mulher, inteligente, culta, com porte aristocrático a quem eu chamo de “Condessa do Rio Apa”.
Convivo com nossos associados, professor Arnaldo Menecozzi e a professora Ângela Antonieta Laurino, geógrafos, que sob a coordenação do nosso presidente estão desenvolvendo os trabalhos de edição da  Enciclopédia das Águas, realização ambiciosa e de grande porte, com que o  Instituto vai brindar o nosso estado, em parceria com o governo estadual.
Convivo com o Gilson Yamaki, filho do dr. Koei Yamaki – figura emblemática em nossa cidade –, gerente administrativo de que carecia o nosso Instituto. Ele lida com todas as questões e pendências burocráticas; com ele não tem tempo ruim. Resolve qualquer parada.  
Convivo com a beleza das nossas secretárias, Kyria Carolina e Gabrielle Moraes.
E convivo, sobretudo,  com o nosso presidente, professor Hildebrando Campestrini, líder maior, idealizador e executor da política de atuação do Instituto, a quem creditamos o sucesso das nossas realizações, que se dedica diuturnamente ao trabalho de forma competente, zelosa, constante.
Devo ressaltar ainda que o trabalho de todos, com exceção dos funcionários, é voluntário.

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Heitor Freire

Do Instituto I

O Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul foi fundado em 3 de março de 1978, fruto do idealismo de Paulo Coelho Machado que, sentindo a necessidade  de uma instituição dessa natureza entre nós, antecipou-se à data da   instalação do novo estado, e convidou o  prof. J. Barbosa Rodrigues, Elpídio dos Reis, José Couto Vieira Pontes, Otávio Gonçalves Gomes, entre outros, para associar-se a ele na criação da entidade.
O início foi de um certo romantismo, porque embora imbuídos de um ideal, os fundadores não conseguiam dar-lhe uma finalidade específica. E assim foi por 22 anos, em que se alternaram na presidência, inicialmente, Paulo Machado, depois J. Barbosa Rodrigues, Acyr Vaz Guimarães, Paulo Machado novamente, até que em 2000, depois de um longo período de hibernação, assumiu a presidência o prof. Hildebrando Campestrini, que começou uma política de ampliação  do quadro associativo do Instituto.
A partir de 2002, deu-se o grande salto, com a aprovação de um novo estatuto e a criação uma estrutura diretiva e funcional, acrescentando às finalidades do Instituto o desenvolvimento institucional, que lhe deu um novo status.
Por uma questão de justiça, de gratidão e de reconhecimento, destacamos a participação da prefeitura de Campo Grande. André Puccinelli foi quem proporcionou ao Instituto a sua  atual sede e, em seguida durante a administração de Nelson Trad Filho, tivemos a inauguração do auditório Acyr Vaz Guimarães.
O quadro associativo é composto por 40 cadeiras, cada uma com seu respectivo patrono, das quais 38 estão preenchidas. Os nomes dos associados estão elencados na página virtual do Instituto: www.ihgms.org.br. Por disposição estatutária, o governador do estado é o presidente de honra do IHG.
Em seus 32 anos de existência, o Instituto tem apenas 3 sócios honorários: André Puccinelli, Nelson Trad Filho e Ueze Elias Zahran.
Na parte administrativa foram criados os seguintes departamentos: conselho editorial, departamento técnico de geografia, diretoria executiva, diretoria financeira ativa.
No campo da literatura, surgiram algumas iniciativas, como, por exemplo, a edição da série Eu Sou História, diretamente voltada para a valorização da memória  de pessoas do povo, “permitindo conhecer melhor os atores, usos e costumes da nossa terra, observados nesta outra ótica – o olhar esperançoso dos simples”, por meio do registro escrito de suas histórias. A série conta hoje com 14 livros editados, que  proporcionaram ao Instituto grande apelo popular, pois trouxeram o cidadão comum para dentro da instituição.
Outra iniciativa é a série “Banco de Memórias”, com livros sobre a vida de personalidades da política e da história de nosso estado, como por exemplo,  Pedro Pedrossian, Ruben Figueiró de Oliveira, Gilka Martins e Wilson Barbosa Martins. Já foi relançada  a obra de Paulo Coelho Machado – os seus cinco livros em um só volume – e  reeditado o livro do Visconde de Taunay, Inocência, em edição de luxo, comentada e enriquecida com 226 notas do prof. Campestrini. Publicada a obra completa de Hélio Serejo, em 9 volumes, abrangendo os seus 50 livros, e também a  6ª edição da História de Mato Grosso do Sul, de autoria do prof. Campestrini. Lançados os dois livros de autoria de José Corrêa Barbosa: A saga dos Rodrigues e Rochedo: a capital do diamante, além de nova edição de  Camalotes e Guavirais de Ulysses Serra e a História dos Guaicurus, de  Francisco Rodrigues do Prado, entre muitos outros títulos que fazem parte do Catálogo de Publicações do IHGMS.
Está em fase de elaboração final a “Enciclopédia das Águas”, que abrange o maior levantamento de toda a bacia hidrográfica do nosso estado, obra majestosa com um mapeamento jamais sonhado. Até  o momento consta o registro de 5.803 verbetes relacionados a esse tema. Para esta iniciativa, sob a  liderança do Prof. Campestrini, trabalham em cooperação os associados do Instituto, professores e geógrafos, Arnaldo Menecozzi e Ângela Laurino – profissionais de renome em suas especialidades com dedicação total a essa iniciativa. A construção da Enciclopédia é uma parceria com o governo do estado.
A atual diretoria do Instituto está assim constituída: presidente Hildebrando Campestrini; vice-presidente Heitor Rodrigues Freire; diretora executiva Vera Tylde de Castro Pinto; diretora executiva adjunta Vera Maria Machado Pereira; diretora financeira Ledir Pedrosa e diretor financeiro adjunto Marcelo de Moura Bluma.
O Conselho Editorial é presidido pelo professor Valmir Batista Corrêa e conta no seu quadro com Eurípides Barsanulfo Pereira, Francisco Leal de Queiróz, José Couto Vieira Pontes,  Maura Catharina Gabínio e Souza e Paulo Eduardo Cabral.
Fazem parte do Conselho Fiscal: João Pereira da Rosa, Renato Alves Ribeiro e Wilson Barbosa Martins.
Desde  2006, anualmente,  realiza-se o Seminário de Desenvolvimento Institucional,  com temário de assuntos diretamente ligados à nossa história, Neste ano,  a 5ª edição, de 17 a 19 de agosto,  acontecerá no auditório Acyr Vaz Guimarães, anexo ao IHG.
O grande trunfo do Instituto é a dedicação  e competência de seus associados e se baseia na utilização da matéria-prima mais procurada no mundo moderno: o conhecimento. A partir de agora, serão criados cursos dos mais variados temas, que abordarão diversas formas de conhecimento para compartilhar com a população desse tesouro inexaurível.

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Heitor Freire

Do Deus Bíblico

Ao estudar a Bíblia, desde o começo,  constata-se que o deus bíblico – assim mesmo, com letra minúscula – é um deus dominador, colérico, irado, vingativo, arrogante, invejoso, condenador, cobrador, julgador, enfim, é dotado de todos os atributos próprios das pessoas e sem nenhuma semelhança com o Pai Altíssimo.
Começando com a proibição de se comer o fruto da árvore do bem  e do mal, impedindo ainda que  se comesse do fruto da árvore da vida, acabou promovendo a expulsão de Adão e Eva.
Essa situação interpretada de uma forma muito restritiva pela Igreja Católica, acabou se constituindo num fator de culpa eterna: somos todos condenados. Já nascemos julgados e condenados.
A história prossegue com a preferência manifestada pelo deus bíblico, pelos frutos oferecidos por  Abel – um pastor de ovelhas e de vida contemplativa – em contraste com a oferta de Caim, lavrador dedicado que teve suas oferendas, frutos do seu trabalho árduo, recusadas o que gerou a sua revolta assassinando o seu irmão e daí a sua condenação eterna, inapelável, com um sinal na testa.
E o que dizer desse deus que submeteu Abrahão à prova, exigindo o sacrifício de seu único filho com Sara, cuja concepção foi anunciada como um milagre?
A história bíblica é plena de  traições, de trapaças, como se vê por meio da ação, por exemplo, de Jacó, que, por um ardil, tomou a primogenitura de Esaú, confirmada depois, com ajuda da sua mãe, Rebeca, para obter a bênção de seu pai,  Isaac. Que se fez de desentendido, concordando implicitamente com esse verdadeiro complô.
O próprio deus bíblico manifesta claramente a sua preferência por Jacó, rebatizado por deus como Israel, que deu origem às doze tribos de Israel, decorrentes dos nomes de seus doze filhos. Nem se registra a descendência de Esaú, primogênito verdadeiro, e   este dito deus não podia ignorar que ele nasceu primeiro.
Interessante: no episódio de Moisés com o Faraó, em alguns trechos lemos –  após algumas das pragas –  Javé ( o deus bíblico), ele mesmo, endurecia o coração do Faraó, ou seja, ao mesmo tempo em que ele, Javé, enviava pragas ao povo do Egito, e o Faraó se sentia compelido a liberar o povo judeu,  também endurecia o seu coração, para que este não deixasse o povo hebreu partir – no mínimo  uma contradição, e não se pode dizer, seja uma ação  própria de DEUS.
Prosseguindo, puniu Moisés que comandou e liderou o povo hebreu por quarenta anos – atente bem leitor: quarenta anos – através do deserto, enfrentando as mais variadas intempéries, dificuldades de toda ordem, liderando um povo constituído de mais de seiscentas mil pessoas, porque teve um ato de dúvida na fonte de Meriba. Só lhe deixou contemplar a terra prometida, sem permitir que Moisés adentrasse nela.
Moisés, quando foi chamado para a libertação do povo, tinha oitenta anos, os quais, somados aos quarenta da travessia, chegam a cento e vinte, e em nenhum momento, apesar da idade avançada, esmoreceu diante da gigantesca tarefa que lhe foi reservada.
E quando o povo hebreu chegou finalmente à terra prometida – que segundo a Bíblia foi prometida por juramento do deus bíblico ( pode se conceber um verdadeiro Deus jurando?) já sob a liderança de Josué, desalojou os povos que lá viviam há centenas de anos –  os amorreus, ferezeus, cananeus, heteus, filisteus, gergeseus, heveus e jebuseus –  sem nenhuma complacência, demonstrando uma parcialidade contrária à ação de um Deus Universal, para quem todos os homens são seus filhos.
Interessante que a denominação de todos os povos, inclusive os judeus, terminava em “eus”.
Quando Josué morreu, o deus bíblico escolheu entre o povo alguns juízes, que se tornavam os dirigentes por um breve tempo. Quando o povo desobedecia, “acendia-se a ira de Javé” contra o povo, e assim era mais uma vez punido.
Atendendo ao clamor dos judeus, Javé suscitou-lhes um rei, Saul, ungido por Samuel como o  primeiro rei de Israel, em cujo reinado foi desafiado pelos filisteus para enfrentar o gigante Golias. Que foi vencido por Davi. E que por isso se tornou um herói do seu povo, gerando ciúme doentio em Saul, o qual buscava matá-lo de qualquer maneira. Por duas vezes, Davi teve Saul completamente entregue nas suas mãos, e não o atacou.
Quando Saul morreu, Davi foi ungido rei de Israel, iniciando um reinado que consolidou o território recebido. Em seu reinado, cometeu um ato criminoso ao determinar que Urias, um dos generais de seu exército, fosse enviado ao local mais perigoso de uma batalha e lá deixado sozinho para que fosse morto. E assim Davi pôde se casar com sua viúva Betsabé, de quem já estava enamorado. Ela foi a mãe de Salomão.
Salomão ascendeu ao trono sucedendo a Davi. Foi considerado o homem mais sábio do seu tempo. Consta que Javé lhe apareceu em sonho e lhe disse para pedir o que quisesse. Ele pediu a sabedoria, então Javé respondeu que “como não havia pedido vida longa, nem riquezas, nem a morte de seus inimigos, darei a você mente sábia e inteligente como ninguém teve antes  e ninguém terá depois”.
Salomão reinou durante quarenta anos. Construiu o Templo de Javé e o palácio real. Teve setecentas esposas e trezentas concubinas. Como será que ele fazia para dar conta de tantas mulheres e ainda governar o seu povo?
A partir de Salomão houve uma sucessão de reis que se caracterizaram muito mais pelas traições do que pela dedicação ao povo, merecendo muito justamente a “ ira de Javé”. Parece que essa tradição se mantém até hoje entre os líderes contemporâneos.

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Heitor Freire

Do Dicionário

Quando  se começa a escrever regularmente, percebe-se, de imediato, a necessidade de se ter uma fonte de consulta confiável, à qual se possa recorrer sempre que houver dúvidas ou para procurar a palavra mais adequada que expresse um pensamento ou o sentimento da ocasião. Enfim, que retrate de forma mais fiel o que se quer transmitir.
E, naturalmente aí aparece o grande amigo, auxiliar, sócio, parceiro de todas as horas, sempre à disposição ao alcance das mãos: o bendito, abençoado dicionário. Sem ele fica muito difícil exercer esse mister de escrever. Eu tenho um Aurélio, edição antiga,  cuja capa já se encontrava deteriorada – acho até que é falha da editora Nova Fronteira que não caprichou na forma, embora tenha caprichado no conteúdo – e que consegui, por sugestão do amigo e confrade, professor Valmir Corrêa, recuperá-la totalmente, o que deu ao meu exemplar sobrevida e boa aparência ao mesmo tempo.        
Tenho também o Dicionário Jurídico da doutora Maria Helena Diniz, em quatro volumes que, apesar de se destinar principalmente aos profissionais do direito, em muitas oportunidades me supriu de um embasamento mais adequado. Consulto também o Dicionário de Símbolos de autoria de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, fonte de informações esotéricas e ocultas. Lendo o artigo do Chico Buarque, na edição de junho da revista Piauí,  já decidi comprar o Dicionário Analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. No texto Chico confessa ser usuário e colecionador obstinado desse livro.
Tive o privilégio de conviver também com dicionários ambulantes – e,  mais do que isso, verdadeiras enciclopédias. Um deles, infelizmente já falecido, foi o professor Arassuay Gomes de Castro, meu compadre – padrinho da minha filha Flávia – a quem sempre  recorri por seus vastos domínios nas questões vernáculas  sempre me atendeu a tempo e hora, informando de bate-pronto, e embasando a informação transmitida com variado conhecimento. O outro,  também professor, é o meu amigo Hildebrando Campestrini.
Quando na presidência do sindicato dos corretores de imóveis, por volta de 1983, surgiu a oportunidade de realizarmos um exame para habilitar os futuros colegas ao exercício da profissão. A nossa atividade, naquela época, tinha uma conotação pejorativa, daí o nosso cuidado de proceder a esses exames, de forma a não deixar nenhuma dúvida quanto à sua seriedade e credibilidade. E fomos encontrar essa excelência na pessoa do professor Campestrini, que já naquela época desfrutava de extraordinária reputação no meio acadêmico. Assim, ele elaborou as questões e as corrigiu, dando  uma contribuição especial ao nosso sindicato.
Quando da campanha para se mudar o nome de Mato Grosso do Sul para o estado do Pantanal, de imediato eu me associei a essa campanha, que era coordenada por Humberto Espindola e  Francisco Lagos, entre outros. Surgindo a oportunidade de um debate na TV Cultura, fui indicado para representar o nosso movimento e debater o assunto com o professor Campestrini, que defendia a permanência do nome. Ao encontrá-lo na sala de espera – ele, assim como eu, tem o costume de chegar antes do horário –, começamos a conversar. Ele me disse então que estava à frente do Instituto Histórico e Geográfico do nosso estado. Eu perguntei-lhe  qual era a finalidade do Instituto, e ele encontrou uma certa dificuldade para defini-la, pois  naquela época, por questões relativas a organização pouco funcional do próprio IHG –  que nasceu do idealismo de Paulo Coelho Machado, professor J. Barbosa Rodrigues e mais alguns abnegados – e que acabou caindo no seu colo, o professor Campestrini não tinha  encontrado ainda o seu verdadeiro propósito.
Tempos depois, recebi um convite do professor para me associar ao Instituto. Pedi um tempo para analisar o pedido e aceitei a proposta. Integrei-me, de imediato, à equipe por ele liderada, em  2002. Logo a seguir foi procedida a eleição da diretoria, em que fui eleito vice-presidente, cargo que exerço até hoje. O Instituto tem como seus objetivos atuar  nas áreas de história, geografia, cultura, meio ambiente, turismo e no desenvolvimento institucional.
Tenho, assim, o raro privilégio de conviver com o nosso presidente, já há oito anos. E posso testemunhar a verdadeira enciclopédia de conhecimento que ele é. O homem sabe tudo de questões vernáculas, de história e de geografia principalmente. Responde também de bate-pronto. Não titubeia, não enrola, informa sempre com riqueza de detalhes. É um verdadeiro operário da cultura em nosso estado. Dedicação total: 24 horas por dia. Não conheço alguém que trabalhe tanto e bem  como ele. Atende incansavelmente a todos que o procuram, todas as tardes na sede do nosso Instituto: são pessoas em busca de informações, estudantes tirando dúvidas, mestrandos e doutorandos solicitando orientação para suas teses. Ele orienta escritores de livros, além de assessorar institucionalmente os governos municipal e estadual, assim como outras entidades representativas da nossa sociedade.
Neste artigo em que comecei falando de dicionários, aproveitei a oportunidade para  homenagear essas pessoas, que contribuem para a difusão do conhecimento e da cultura. Sem eles eu teria repetido palavras indistintamente neste artigo ou tropeçado em clichês da nossa língua. Se até Chico Buarque recorre ao dicionário para compor suas canções – eu, que não tenho olhos azuis e preciso me garantir de outro jeito – ,  me obrigarei a consultá-lo ainda mais, amador que sou das palavras.