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Heitor Freire

Da Pedagogia da Encarnação

A evolução está se processando de forma muito acelerada. A velocidade das descobertas causa perplexidade, tal a imensa gama de informações que circulam a cada momento.
No início do século XX, o QI era a medida definitiva da inteligência humana. Só em meados da década de 90 a descoberta da inteligência emocional mostrou que não bastava o sujeito ser um gênio se não soubesse lidar com as emoções. O psicólogo americano Daniel Goleman é o criador do conceito “Quociente Emocional-QE”, a habilidade natural do ser humano para exprimir emoções.
Agora a  ciência começa este novo milênio com descobertas que apontam para um terceiro quociente, o da inteligência espiritual. Ela nos ajudaria a lidar com questões essenciais e pode ser a chave para uma nova era no mundo dos negócios e da vida.
Este tema sempre mereceu da minha parte uma grande atenção. Agora há pouco li um texto de autoria do dr. Fernando Paiva, médico carioca, mestre maçom, meu amigo e meu irmão,  que divulgou as informações que transcrevo a seguir:
“No livro QS – Inteligência Espiritual, lançado no ano passado, a física e filósofa americana Dana Zohar aborda esse tema que é tão novo quanto polêmico: a existência de um terceiro tipo de inteligência que aumenta os horizontes das pessoas,  as torna mais criativas e se manifesta em sua necessidade de encontrar um significado para a vida.
Ela baseia seu trabalho sobre Quociente Espiritual (QS) em pesquisas só há pouco divulgadas, provenientes de cientistas de várias partes do mundo que descobriram o que está sendo chamado ‘Ponto de Deus’ no cérebro, uma área nos lobos temporais que nos faz buscar um significado e valores para nossas vidas, uma área que seria responsável pelas experiências espirituais das pessoas.
Tudo que influencia a inteligência passa pelo cérebro e por seus prolongamentos neurais. Um tipo de organização neural permite ao homem realizar um pensamento racional, lógico. Dá a ele seu QI, ou inteligência intelectual.
O assunto é tão atual que foi abordado em recentes reportagens de capa pelas revistas americanas Newsweek e Fortune.  Afirma Dana: ‘A inteligência espiritual coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos numa cultura espiritualmente estúpida, mas podemos agir para elevar nosso quociente espiritual’.
Ela é autora de oito livros, entre eles, O Ser Quântico e A Sociedade Quântica, já traduzidos para o português. QS – Inteligência Espiritual já foi editado em 27 idiomas, e lançado no Brasil, pela Record.
Segundo Dana, em entrevista à revista Exame, a inteligência espiritual é uma terceira forma de inteligência, que coloca nossos atos e experiências num contexto mais amplo de sentido e valor, tornando-os mais efetivos. Ter alto quociente espiritual (QS) implica ser capaz de usar a nossa capacidade espiritual para se ter uma vida mais rica e mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direção pessoal.
O QS aumenta nossos horizontes e nos torna mais criativos. É uma inteligência que nos impulsiona. É com ela que abordamos e solucionamos problemas de sentido e valor. O QS está ligado à necessidade humana de ter propósito na vida. É ele que usamos para desenvolver valores éticos e crenças que vão nortear nossas ações.
Este terceiro tipo de inteligência permite o pensamento criativo, capaz de ‘insights’, formulador e revogador de regras. É o pensamento com que se formam e se transformam as outras modalidades anteriores de pensamento. Esse tipo nos dá o QS, ou inteligência espiritual.
Segundo e autora, ‘a diferença entre QE e QS é o poder transformador. A inteligência emocional me permite julgar em que situação eu me encontro e me comportar apropriadamente dentro dos limites da situação. A inteligência espiritual me permite perguntar se quero estar nessa situação particular. Implica trabalhar com os limites da situação’.
Dana prossegue dizendo que ‘a inteligência espiritual fala da alma. O quociente espiritual tem a ver com o que algo significa para mim, e não apenas como as coisas afetam minha emoção e como eu reajo a isso. A espiritualidade sempre esteve presente na história da humanidade’”.
O tema está no ar: agora mesmo, Gilclér Regina, renomado palestrante motivacional brasileiro, em seu Boletim nº 288,  anuncia que temos quatro tipos de cérebros: o cérebro das entranhas – localizado no aparelho digestivo; o cérebro da cabeça – sede da identidade racional –, o cérebro do coração – que estimula e ajuda a responder à vida, e finalmente o cérebro do espírito, que na concepção dele se confunde com a inteligência emocional. Termina afirmando que cada um de nós já vive em equipe dentro de si mesmo.
Tudo isso serve para concluir – e  agora sou eu que confirmo segundo o meu entendimento – que a nossa encarnação é múltipla, ela não é una. Há alguns dias, em artigo escrito com o título “Da Velhice”, abordei diversas situações que mostram claramente essa constatação, por meio de práticas das tribos australianas, dos magos havaianos, dos incas, dos índios americanos Lakota,  abordando também a inteligência dos intestinos.
Ou seja, nossa encarnação tem uma pedagogia própria, por meio da qual vai nos ensinando o que realmente somos, proporcionando aos que têm olhos para ver, ouvidos para ouvir e mente para discernir a oportunidade de construirmos a nossa evolução.

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Heitor Freire

O Grande Filantropo

Filantropia vem do grego e significa, literalmente, amor à humanidade.
Um filantropo com sua benemerência corrige as más ou insuficientes políticas públicas, com o objetivo  específico de ajudar as pessoas e contribuir, assim, para melhorar suas vidas.
Ao longo da história, muitos homens de visão e de ação empresarial de sucesso,  após alcançar independência financeira, dedicaram-se a devolver para a sociedade parte do que amealharam com suas atividades profissionais.
Nessa área se destacam, em nível mundial, John D. Rockefeller, Andrew Carnegie e Bill Gates, que criaram impérios financeiros e, para contribuir com a humanidade, criaram fundações com seus nomes que têm atuação destacada em todo o mundo. Destaca-se também Warren Buffet, que doou em vida o valor astronômico de 37 bilhões de dólares, para a Fundação Bill e Melinda Gates, por confiar na aplicação desse dinheiro por intermédio da fundação que leva o nome do casal Gates.
Campo Grande foi criada por mineiros que aqui aportaram buscando novas oportunidades  com espírito criativo, inovador, independente. Eles participaram da fundação e do desenvolvimento da cidade, deixando aos seus pósteros um exemplo de dedicação e competência, de amor à terra que escolheram para viver.
Por isso, esse espírito de mineiridade já é conhecido e reconhecido entre nós.
Aqui aportou em 1947 um outro mineiro, que se dedicou ao comércio. Em 1950 mudou-se para Dourados onde trabalhou também na política e na pecuária. Foi prefeito daquela progressista cidade, contribuindo muito para o seu desenvolvimento. Foi também deputado estadual. Mas logo percebeu que o campo da política não preencheria o seu ideal de vida.
Refiro-me ao sr. Antônio Morais dos Santos.
O seu Morais, é um homem empreendedor, aplicado ao trabalho. Procurou sempre agir de forma independente. Destacou-se em todas as suas atividades: foi sapateiro, (enquanto seus colegas fabricavam cinco botinas por dia, ele fabricava dez), foi mergulhador num garimpo de sua propriedade – mergulhava com escafandro –, foi ainda motorista de caminhão, comerciante, pecuarista, piloto (-tirou o seu brevê em 1949, tendo como instrutor o comandante Arany Moraes), voou com avião próprio como piloto, durante 51 anos (chegou a ter de uma só vez quatro aviões), sempre com espírito inovador.
Frequentou a escola durante apenas um ano. É um verdadeiro autodidata.
Quando morava em Dourados, na década de 60 o seu Morais construiu, com recursos próprios uma ponte de madeira sobre o rio Ivinhema, que lá está até hoje. Com essa iniciativa altruísta, proporcionou a toda aquela região desenvolvimento acentuado e  integração que não existiam.
Em 1972, mudou-se definitivamente para Campo Grande. E aqui permanece até hoje.
Tendo amealhado uma grande fortuna, seu Morais, decidiu naquela época distribuir os seus bens entre os  herdeiros, deixando para si uma pequena parcela. Passados vinte anos, já era possuidor de outra grande fortuna que, novamente, distribuiu para seus filhos e herdeiros.
Ele tem uma característica interessante: não bebe pela mão de ninguém. Pela complexidade dos seus grandes negócios, tem uma assessoria jurídica atuante e competente, mas mesmo contando com excelentes advogados acompanha periodicamente todas as suas questões, orientando-se sobre o andamento dos processos, buscando informações e, sobretudo, opinando.
Seu Morais sempre teve espírito altruísta. Fazia e faz doações para entidades que considera sérias e úteis para a comunidade. Não dá dinheiro somente por dar.
Ou seja, não deixa acontecer simplesmente: participa de tudo. Com grande competência.
É também grande contribuinte da Associação dos Amigos das Crianças com Câncer (AACC), do Asilo dos Velhos (onde acaba de financiar a construção de uma nova ala masculina), de creches, enfim, de entidades que realmente prestam serviços à comunidade.  
No episódio da  doação feita por seu Morais ao Hospital do Câncer, fica bem clara essa sua disposição: inicialmente faria uma doação de R$ 5 milhões. Quando percebeu que o total seria insuficiente para a construção do anexo ao hospital, triplicou a doação para R$ 15 milhões. Agora acaba de elevar ainda mais o valor doado para R$ 23 milhões, pois pretende que a obra seja concluída corretamente. Mas impõe condições, vai acompanhar a construção pari-passu.
Porém esse dinheiro todo vai somente para as obras de construção. Falta equipar o hospital e aqui naturalmente se espera que o poder público dê  a  sua parte. Afinal de contas, o nosso governador é médico como também é o nosso prefeito.
E os nossos senadores e deputados federais? Nada?
O propósito com este artigo é louvar de forma pública a iniciativa do seu Morais, pois eu tive há pouco tempo uma parente atendida de forma exemplar e dedicada naquele hospital, sou testemunha da excelência dos serviços que prestam.
E que o seu exemplo frutifique Antônio Morais dos Santos. Com as bênçãos do nosso Pai Altíssimo.

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Heitor Freire

Um árabe construtor

Hoje vamos conhecer  um cidadão libanês/brasileiro, que muito contribuiu e ainda contribui com  nossa cidade, que ele adotou como  sua.
Já escrevi aqui que antigamente – hoje não é mais assim –  se falava que Campo Grande era uma ilha de japoneses, cercada de turcos –  termo genérico e corriqueiro usado para árabes, sírios, libaneses –  por todos os lados. Ou vice-versa. Pois bem, este árabe é daquele tempo. É de ressaltar também sua cordialidade com o nosso povo; nos chamavam de primos, aliás de “brimos”.
Quando ele aqui aportou com 18 anos de idade, foi trabalhar na casa de armarinhos de seus tios, a Loja Popular, na rua 14 de Julho, bem no centro da cidade, sem saber falar nada de português. Refiro-me a Abdallah Georges Sleiman.
Naquela época, 1954, eu, com 14 anos, trabalhava nessa loja. Eu já cursava a 3ª série ginasial no período noturno e ficava muito constrangido quando, logo cedo, minhas colegas de ginásio passavam na frente da loja e eu, agachado, estava lá,  passando um pano para limpar o chão. O “seu” José não permitia que se usasse o rodo. Queria tudo bem limpo.
Naquele tempo também trabalhava nessa loja o Silvio Félix de Oliveira, depois funcionário graduado do Banco do Brasil, em Brasília. Hoje ele está aposentado.
Logo que o Abdallah chegou, houve uma identificação  imediata entre nós três. Empatia de cara. Não lembro como era a nossa comunicação porque ele, de início, não falava nada de português. Mas só sei que nos comunicávamos bem.
O Abdallah pegava a sua mala cheia de armarinhos, meias, quinquilharias e se embrenhava pelos bairros da cidade sem saber falar a nossa língua, mas sabendo muito bem fazer contas, com um papel onde estava escrito o fundamental para iniciar uma conversa e assim se comunicava.
Como o Abdallah sempre foi muito ativo e trabalhador,  foi fazendo o seu pé-de-meia, e acabou comprando as duas lojas dos seus tios na rua 14 de Julho, quando estes voltaram para o Líbano. A primeira era em frente às Casas Pernambucanas e a outra ao lado da Casa Glória, na baixada. Morava no fundo dessa loja.
Tendo uma visão muito abrangente e sendo também muito audacioso, ele adquiriu uma chácara nos altos da região sul da cidade,  onde lançou o loteamento  Jardim Monte Líbano, em 1969. Foi o primeiro loteamento de Campo Grande a dispor de toda infraestrutura, com  rede elétrica a mercúrio já  instalada.
A sua visão empresarial levou-o a investir maciçamente no mercado imobiliário, adquirindo áreas em locais diferentes e transformando-se num verdadeiro latifundiário urbano.
Entre os diversos empreendimentos que lançou, destaco: Conjunto Oriente, Condomínio Rui Barbosa, Residencial Damasco, Trípoli, Liberdade, Treze de Maio, Residencial do Lago, Dona Mariam, Joaquim Murtinho, além de outros empreendimentos que deixo de mencionar, já que estes são bem representativos da sua capacidade empreendedora.
Abdallah é um homem sério e responsável. Sempre honrou seus compromissos. Como exemplo dos mais representativos dessa sua forma de agir, cito um empreendimento com o qual inovou em termos de marketing: o Shopping Marrakech, lançado em 1989, quando Campo Grande, já com status de capital, com a criação do nosso tão sonhado e esperado Estado de Mato Grosso do Sul.
Esse lançamento proporcionou à nossa cidade e ao mercado imobiliário, uma nova oportunidade em termos de investimento e de comercialização. O Marrakech é um projeto do renomado arquiteto Lauro Veloso Malaquias, que mais uma vez comprovou com criatividade a sua imensa capacidade de enfrentar desafios e vencê-los. E,  assim, contratado pelo Abdallah, Lauro uniu sua inventividade à ousadia empresarial do “turco”.
Esse empreendimento [o Shopping Marrakech] veio a sofrer de forma impiedosa os efeitos nocivos do Plano Sarney, que tantos malefícios causou ao nosso país e à nossa economia: inflação de 85% ao mês, deflação, tablita, que resultaram num efeito danoso, fazendo com que os compradores desse empreendimento – que foi um sucesso de lançamento – se vissem impelidos a suspender os pagamentos por falta de condições, e em consequência, Abdallah se viu na obrigação de devolver o dinheiro dos adquirentes de lojas do shopping, com correção e demais encargos. O que ele cumpriu de forma exemplar, mas a um custo muito elevado. Mas cumpriu.
O seu penúltimo empreendimento é o Residencial Beirute, um loteamento fechado ao lado do Parque dos Poderes. Penúltimo porque existem outros em elaboração.
Com este artigo, homenageio este empreendedor – hoje também cidadão campo-grandense – dando a ele o reconhecimento público da sua capacidade, da sua integridade, da sua dedicação e do seu amor à nossa Campo Grande e ao Brasil.

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Heitor Freire

Um Japonês Sorridente

Campo Grande tem uma colônia japonesa bastante populosa e atuante em nossa coletividade,   podemos testemunhar a imensa contribuição que ela deu e dá para o nosso desenvolvimento.
Alguns japoneses têm uma característica: estão sempre sorrindo, afirmando com a  cabeça e dizendo “sim sinhô”, como que agradecendo e ao mesmo tempo agradando aos circunstantes, e de certa forma desculpando-se por qualquer ato que tenha desagradado. Outra característica verbal dos antigos era “garantido no?”
Entrosaram-se em nossa sociedade de uma forma muito interessante. No começo eram arredios trabalhando como lavradores, tintureiros, fotógrafos, cafeicultores, aplicados e concentrados em suas atividades. Havia ainda os que se dedicavam às hortaliças, verduras, frutas, comercializando os seus produtos na antiga feira da Rua 7 de Setembro, onde hoje é o mercado municipal.
A segunda geração foi a que provocou o começo da integração através das escolas. Familiarizando-se com os colegas, aos poucos, foram se introduzindo no meio social.
Embora inicialmente avessos a um relacionamento conjugal fora da colônia,  logo depois, naturalmente, começaram os casamentos com os brasileiros, criando assim um entrelaçamento que propiciou maior integração entre as duas culturas.
O nosso japonês sorridente é o José Yasuke Okama, dono do Bar do Zé. O Zé, quando sorri, aperta os olhos que se transformam numa linha reta. E está sempre sorrindo.
O Bar do Zé, cujo nome original era Bar São Jorge, foi aberto em 1953, por seu pai, Kintoro Okama, no local onde funcionava o Café Suave, dos Zahran;  quando ele faleceu sua esposa, dona Hatsu –  carinhosamente chamada por todos de dona Maria – continuou com o bar. Ela atendia com muita alegria e era tratada com uma deferência tão especial por todos, que chegava às raias da reverência. Está viva até hoje, com 89 anos bem vividos.
Campo Grande é uma cidade que tem preservado por muito tempo, os seus locais de encontro, os quais, naturalmente, com o passar dos anos vão sendo modificados.
Nos tempos de antanho, tínhamos a Farmácia São José. Logo depois,  vieram o Armazém do Troncoso – que resiste até hoje –, o Gabura’s que enquanto existiu na Rua 14, foi das mais movimentadas lojas de roupa da cidade e o Bar do Paulo, que foi desativado. Mas dentre todos esses, um dos poucos que passou por tantas transformações mas permanece invicto, no tempo e no espaço, é o Bar do Zé  – que já foi até anúncio na revista Piauí,  pelo fato de ser um dos raros estabelecimentos que ainda servem café, até hoje,  feito em coador de pano – com uma longevidade digna de nota.
Quando o Zé  assumiu a direção do bar, com o gradativo recolhimento de sua mãe devido à idade, naturalmente o lugar teve a sua denominação mudada para Bar do Zé,  que por força das circunstâncias teve de assumir esse novo e popular nome.
O local foi palco de grandes acontecimentos, como a luta para que a universidade da nossa cidade se tornasse federal, a luta pela divisão do estado, e as grandes discussões políticas que envolviam a todos com debates acalorados.
O Bar do Zé era a maior imobiliária a céu aberto do Brasil. Ali se discutiam e fechavam grandes vendas de imóveis urbanos e também de fazendas. Tinha ainda um ativo mercado de venda de gado. Estas atividades constantes movimentavam constantemente o bar. O Zé, inclusive, com muito senso de oportunidade, soube participar de alguns negócios transacionados em seu bar.
O bar foi cenário de muitos acontecimentos, e o Zé, naturalmente, protagonizou alguns deles. O dr. Jorge Antônio Siufi – meu professor de direito penal, grande e festejado cronista de Campo Grande –, brindou-nos com o seguinte episódio: “Num determinado dia, apareceu uma pessoa que pediu um pastel; depois de olhar para o dito cujo, pediu para trocá-lo por um quibe. Comeu o quibe, limpou a boca e foi saindo. Zé interpelou o cidadão: ‘Ei, não vai pagar o quibe’?  E ele respondeu: ‘O quibe eu troquei pelo pastel’; ‘Pois pague então o pastel’. Ao que o outro retrucou: ‘Ué, o pastel eu não comi’. E foi saindo, deixando o nosso Zé com o olhar perdido no espaço”.
O bar foi também local de grandes e memoráveis peixadas, promovidas pelo saudoso Urbano Pereira. Juvenal de Brito, polêmico como poucos, utilizava o bar para os seus acalorados discursos, contando com uma platéia animada e participativa.
Zé quando assumiu o bar, abdicou do sonho de uma graduação superior – terminou o segundo grau, com o curso técnico de contabilidade –, dedicando-se ao trabalho e conseguindo proporcionar aos seus irmãos menores o tão sonhado canudo: assim,  dos seus nove irmãos, conseguiu formar sete:  quatro médicos e médicas, dois engenheiros e uma cirurgiã-dentista.
O Zé constitui-se, naturalmente, numa instituição em nossa cidade e uma referência de trabalho e dedicação. Como sempre, atrás de um grande homem, há uma grande mulher, e a Amélia – que poderia ter sido a legítima musa da famosa canção – é verdadeiramente uma mulher de verdade, e foi sempre o braço direito do marido, trabalhando diuturnamente ao lado dele com muita alegria. Atualmente o bar é dirigido pelo filho deles, Márcio, chegando assim, à terceira geração.

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Heitor Freire

Das Mulheres Bíblicas III

Ainda Betsabé, mãe de Salomão: ela foi fundamental para que Salomão ascendesse ao trono do povo hebreu. Davi havia lhe prometido isso. Adonias, filho também de Davi, ao perceber a preferência de seu pai por Salomão, começou a organizar  um exército para destroná-lo.
Betsabé então rogou a Davi que determinasse ao sacerdote Sadoc para ungir Salomão como rei, o que foi feito, juntamente com o profeta Natã. Assim, Salomão ascendeu ao trono, sucedendo a seu pai que continuou vivo ainda por um tempo, tendo como companheira na sua velhice, Abisag de Sunam, uma jovem solteira e virgem que cuidou dele até a sua morte.
O rei Salomão foi considerado o mais sábio de todos os homens. Teve setecentas esposas e trezentas concubinas. Talvez por isso também ele tenha sido considerado tão sábio.
A mulher que se destaca nessa época é a rainha de Sabá, Belkiss, cujo reino localizado na região da Etiópia, tinha tradição matrilinear – o poder era passado aos descendentes pela via feminina – e que ao ouvir falar de Salomão quis conhecê-lo e se dirigiu ao seu reino. Foi recebida com toda pompa e circunstância e manteve com ele um relacionamento íntimo e celebrou vários tratados para o seu país.
Na continuidade da história destacamos Judite, hebréia, mulher de rara beleza e de grande coragem, viúva, que se viu na contingência de submeter-se a um grande desafio com risco de sua própria vida para salvar o seu povo da opressão do rei Nabucodonosor, que enviara o seu melhor comandante o príncipe Holofernes, com um exército de 150 mil homens  para submeter o povo hebreu ao seu poder tirânico.
Judite morava na cidade de Betúlia, que foi cercada por Holofernes, cortando-lhe todas as vias de acesso, de suprimento e de água. Ele mandou um ultimato aos habitantes de Betúlia, determinando que a cidade se entregasse, sob pena de submetê-la à mais completa e total destruição, dizimando toda a sua população. Deu um prazo de cinco dias para  a cidade decidir.
O povo entrou em pânico. Os judeus têm o costume de, em situações extremas, vestirem-se de saco, jogando cinzas em suas cabeças, lamentando-se continuamente. Foi então o que fizeram.
Judite, em vez de se lamentar como o povo estava fazendo,  decidiu agir. Orando, obteve orientação espiritual. Convocou os anciãos da cidade, pedindo ao povo que orassem por ela e lhes comunicou que iria ao encontro de Holofernes, para tentar convencê-lo a deixar a cidade livre. Todos consideraram um suicídio, o que ela se propunha a fazer. Mas, como não encontravam outra solução, aceitaram a sua sugestão.
Judite vestiu-se com sua melhor roupa e, acompanhada de sua serva, pediu que abrissem o portão da cidade. E saiu, majestosa, com um porte divino de verdadeira rainha.
Quando os guardas assírios perceberam a sua presença, comunicaram o fato ao comandante, que determinou que ela fosse levada à sua tenda. Quando ela chegou, Holofernes ficou profundamente impressionado com o seu porte, a sua beleza, e a serenidade que  irradiava do seu ser.
Ao ver o príncipe Holofernes, Judite levantou os olhos para o seu rosto, inclinando-se profundamente diante dele até o solo. Perguntou-lhe Holofernes: “Por que deixaste o teu povo e vieste para o nosso meio?”. Respondeu Judite, em longa fala, historiando o comportamento do povo que se afastara de Deus, deixando de cumprir os seus preceitos “E como Deus está irritado com o povo, fui enviada para te anunciar isto”.
Judite foi então introduzida na tenda que lhe foi designada ao lado da de Holofernes. Ela pediu que lhe fosse permitido sair à noite e antes do amanhecer para fazer suas devoções e para adorar seu Deus. O que lhe foi prontamente concedido pelo príncipe assírio, ordenando aos guardas que permitissem a Judite  movimentar-se livremente.
Holofernes apaixonou-se por ela. Ofereceu um banquete aos seus oficiais, convidando Judite por intermédio de seu eunuco Vagao, e  ela aceitou.
Ao vê-la chegar, trajada com todo requinte, Holofernes sentiu o seu coração agitar-se. Beberam todos, embriagando-se, mas Judite se manteve totalmente lúcida. Logo depois os oficiais retiraram-se, deixando-o a sós com ela, Holofernes bêbado a cair, repousou em seu leito.
Nesse momento, Judite orou a Deus, pedindo força e coragem. Tomou a espada de Holofernes e decepou-lhe a cabeça. Com a ajuda de sua serva, colocou-a num saco.
Depois saíram ambas, como de costume, como se fossem para a oração. Atravessaram o acampamento, contornaram o vale e chegaram às portas da cidade.
À sua chegada, o povo todo se reuniu quando ela comunicou-lhes o acontecido e os orientou, que atacassem os assírios, logo ao amanhecer, com bastante alarido. Quando estes, surpresos, buscaram acordar Holofernes, o encontraram degolado, o que causou  confusão e se viram assim sem comando, dispersando-se de forma descontrolada, o que permitiu aos hebreus uma vitória sem precedentes, dadas as condições anteriores.
Assim, Judite se consagrou como uma das grandes mulheres da história de Israel.

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Heitor Freire

Do Pecado Original

Uma das grandes causas de traumas da humanidade ocidental cristã é a imposição do  “pecado original”. Esse pecado de origem seria congênito e hereditário, isto é, inato e passaria de uma geração para outra. Todos nós de formação cristã já nasceríamos com a mancha de um pecado para o qual não contribuímos e que nos é imposto por hereditariedade. Nasceu já é pecador. Pecado contraído dessa forma hereditária e não cometido, mas penalizado.
Esse pecado decorre da desobediência de Adão e Eva, que comeram o fruto da árvore do conhecimento, e com isso infringiram a única regra imposta em todo o Paraíso.. O deus bíblico parecia querer que Adão e Eva vivessem para sempre em estado de contemplação. E como ficaria a evolução?
A imposição desse pecado que foi disseminada pela Igreja ganhou força por uma interpretação de  Santo Agostinho, no ano 400 da era cristã, em decorrência de sua imensa influência, e o estendeu a todo o gênero humano, como uma consequência da expulsão de Adão e Eva do paraíso.
Assim, o pecado seria herdado por toda a humanidade, cuja salvação dependeria unicamente do sacrifício de Jesus, que teria vindo ao mundo  para isso.
Santo Agostinho defendia a pré-destinação, ou seja, a idéia de que a vida de todas as pessoas é traçada anteriormente por Deus. A prevalecer esse entendimento, ao nascimento de cada ser deveria corresponder  um manual do proprietário, indicando todo esse traçado.
Mas há nesse pensamento uma grande contradição, porque ele mesmo, Agostinho,  em outra interpretação, afirmava que algumas pessoas alcançariam a salvação pelo uso do livre-arbítrio. Então o indivíduo teria a faculdade de determinar a sua conduta de acordo com  sua própria consciência, sendo assim o  agente da sua salvação, de acordo com os seus próprios atos.  Quais seriam essas pessoas privilegiadas e qual o critério para escolhê-las?
Quando da realização do Concílio de Trento (1545-1563), o pecado original foi sacramentado definitivamente na Igreja Católica, consagrando a interpretação de Agostinho, que ganhou, assim, o respaldo oficial da Igreja nesse Concílio, o mais longo de toda a história do catolicismo.
Essa imposição contraria a justiça infinita de Deus: Ele é justo e não nos impõe algo que supere nossas forças e não dá a alguém um auxílio maior do que a outrem. Perante Deus, somos todos iguais, titulares de direitos e de deveres igualitários. A diferença vai decorrer do comportamento de cada um.
E foi exatamente essa a tese do monge bretão Pelágio (360-435), que corajosamente se contrapôs ao todo-poderoso bispo Agostinho, cuja palavra era lei nos lugares de influência da Igreja Católica. Segundo Pelágio, o pecado de Adão, afeta apenas a Adão, não seria congênito. Ao homem foi dada absoluta liberdade: a vontade do homem é perfeitamente livre, dependente apenas de si, para evitar o pecado. A essa doutrina foi dado o nome de pelagianismo, em homenagem ao seu autor.
O importante é entender que as respostas, todas, estão dentro de nós. O que implica a consciência da responsabilidade de cada um.  Nada é certo, nada é errado. O que existem são consequências.
Quando começamos a despertar para o verdadeiro significado da nossa encarnação, percebemos que somos seres em evolução; nenhum de nós foi creado (assim mesmo, com e) pronto e acabado. Tudo vai depender dos nossos atos e essa situação nos põe como verdadeiros construtores do nosso ser – e como tal –,  parceiros de Deus. E isso se constitui no grande encanto da nossa existência.
A única certeza do que possuiremos em toda a nossa encarnação é o nosso corpo. Que deixaremos quando desencarnarmos.
Assim, libertando-nos da pecha do pecado original pela consciência do que somos verdadeiramente, cabe-nos fazer a nossa parte, porque da nossa vida, só nós decidimos.
Somos creados originalmente livres, maravilhosamente livres e responsáveis pelo nosso destino, responsáveis por tudo aquilo que fizermos, pois na medida exata do que dermos, receberemos. Entender isso é o começo da libertação. Não existe nenhuma mágica. É dar e receber, como magistralmente ensinou Jesus.

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Heitor Freire

Do Celibato Clerical

Nos primórdios da difusão do cristianismo havia uma pureza de sentimento e de ação que elevava a um grau de alta espiritualidade o trabalho desenvolvido pelos primeiros cristãos. Essa pureza foi o fator da disseminação muito rápida da doutrina cristã, e representava a semente que Jesus deixou plantada.

Com o passar dos tempos, os poderosos de então – reis, imperadores – tiveram suas atenções voltadas para essa nova forma de ser e de agir preconizada pelo cristianismo nascente, ganhando muitos adeptos para essa nova doutrina e que passou a ser um meio de conscientização das pessoas proporcionando-lhes uma liberdade no agir e no pensar, e uma independência dos governos reinantes.
Constantino I, imperador de Roma no século IV, inicialmente procurou combater o cristianismo de todas as formas, mas logo percebeu que a força que inspirava o movimento era tão profunda e verdadeira que, orientado pelo espírito que mais tarde inspiraria O Princípe, de Maquiavel, decidiu se unir aos seus antigos opositores – subvertendo e corrompendo a pureza destes – para obter o domínio também sobre o movimento cristão.
Tanto é assim, que, no ano de 325, Constantino I convocou – ele mesmo – um concílio, o Concílio de Nicéia. Foram oferecidas aos bispos as comodidades da mordomia imperial – livre transporte e alojamento – para encorajar a maior audiência possível. Compareceram 310 bispos. A partir daí, gradativamente a Igreja começou a ser submetida ao império da vontade de Constantino.
No tempo e na história, se observa que a Igreja se afastou da pureza de sentimento que inicialmente, inspirou e guiou os cristãos e seus dirigentes máximos.
Um fato marcante dessa distorção aconteceu com os cátaros, um povo pacífico que vivia no sul da França e norte da Espanha, que seguiam religiosamente os ensinamentos de Jesus: não tinham hierarquia religiosa, acreditavam na reencarnação, não havia entre eles propriedade privada, tudo era de todos, trabalhavam em cooperação total. Com o tempo e a influência que passaram a exercer, no século XII, a partir de 1140, os cátaros tiveram a sua extinção decretada pela Igreja imperial, que não admitia que ninguém ousasse se contrapor aos seus desígnios, mandando uma força-tarefa de trinta mil homens fortemente armados, contra um povo  ordeiro, que foi totalmente dizimado, num verdadeiro genocídio.
Sou de formação católica. Fui crismado aos 28 anos e aos 33 participei de um cursilho da cristandade. A história da Igreja sempre mereceu de mim um estudo acurado, portanto posso dizer que conheço relativamente bem a Igreja e por isso me atrevo a escrever este artigo. Embora tenha essa formação inicial, aos poucos, ao constatar a grande hipocrisia que norteia a ação da Igreja Católica, fui me afastando dela. Hoje não tenho mais nenhum resquício daquilo que recebi inicialmente.
Pretendendo modernizar os seus ritos, a Igreja cometeu outro grande erro: quebrou a sua egrégora quando mudou o sistema de celebração da santa missa: colocando o sacerdote de frente para o público. O ritual obedecia a um ordenamento próprio – cabia e cabe aos assistentes, acompanhar a celebração, assistindo-a – porque a missa não é um espetáculo teatral, é uma celebração religiosa.
A Igreja só vai começar a atingir a plenitude da sua missão, no meu entendimento, quando aceitar a reencarnação e eliminar o celibato clerical e os dogmas. A reencarnação foi excluída dos ensinamentos da Igreja durante a realização do II Concílio de Constantinopla quando Teodora, mulher do imperador Justiniano, pretendendo purgar os seus pecados e isentar-se de uma futura reencarnação probatória, agiu como o avestruz, determinando e conseguindo que a reencarnação fosse expurgada.
Assim, constatamos: a Igreja Católica continua causando uma influência negativa na vida das pessoas por sua forma impositiva e obrigatória de determinar o  comportamento de todos. Veja-se, por exemplo, a questão do celibato clerical, que é uma determinação anti natural, que contraria totalmente a natureza do homem e também a da mulher, no caso das ordens clericais femininas. E contradiz ainda o mandamento bíblico: “crescei e multiplicai-vos”.
A única denominação religiosa do mundo que exige o celibato de seus ministros é a Igreja Católica.
O celibato foi instituído aos poucos; foi defendido em força pelo Quarto Concílio de Latrão (1215) e pelo Concílio de Trento (1545/1563) foi tornado obrigatório.
Segundo a revista católica La Civilta Católica, desde o Concílio Vaticano II (1962/1965), perto de sessenta mil padres deixaram a Igreja.
Os casos profundamente dramáticos do crescente tema da pedofilia têm como causa principal o celibato. A pedofilia na Igreja transformou-se em um problema sistêmico. O sacerdote católico  se vê premido pela exigência da sua condição sexual e não tendo como lhe dar vazão, acaba praticando atitudes tanto heterossexuais quanto homossexuais e os padres se vêem na contingência de um dilema existencial: obedecer ao que sua natureza exige e impõe ou submeter-se a uma disciplina rigorosa, castradora, anuladora?
E pelo andar da carruagem, a situação continuará sendo regida pela incompreensão e pela rigidez de um sistema ultrapassado e opressor.
Heitor Freire – Mestre Maçom

Nos primórdios da difusão do cristianismo havia uma pureza de sentimento e de ação que elevava a um grau de alta espiritualidade o trabalho desenvolvido pelos primeiros cristãos. Essa pureza foi o fator da disseminação muito rápida da doutrina cristã, e representava a semente que Jesus deixou plantada.

   Com o passar dos tempos, os poderosos de então – reis, imperadores – tiveram suas atenções voltadas para essa nova forma de ser e de agir preconizada pelo cristianismo nascente, ganhando muitos adeptos para essa nova doutrina e que passou a ser um meio de conscientização das pessoas proporcionando-lhes uma liberdade no agir e no pensar, e uma independência dos governos reinantes.

   Constantino I, imperador de Roma no século IV, inicialmente procurou combater o cristianismo de todas as formas, mas logo percebeu que a força que inspirava o movimento era tão profunda e verdadeira que, orientado pelo espírito que mais tarde inspiraria O Princípe, de Maquiavel, decidiu se unir aos seus antigos opositores – subvertendo e corrompendo a pureza destes – para obter o domínio também sobre o movimento cristão. Tanto é assim, que, no ano de 325, Constantino I convocou – ele mesmo – um concílio, o Concílio de Nicéia. Foram oferecidas aos bispos as comodidades da mordomia imperial – livre transporte e alojamento – para encorajar a maior audiência possível. Compareceram 310 bispos.

   A partir daí, gradativamente a Igreja começou a ser submetida ao império da vontade de Constantino.No tempo e na história, se observa que a Igreja se afastou da pureza de sentimento que inicialmente, inspirou e guiou os cristãos e seus dirigentes máximos.Um fato marcante dessa distorção aconteceu com os cátaros, um povo pacífico que vivia no sul da França e norte da Espanha, que seguiam religiosamente os ensinamentos de Jesus: não tinham hierarquia religiosa, acreditavam na reencarnação, não havia entre eles propriedade privada, tudo era de todos, trabalhavam em cooperação total. Com o tempo e a influência que passaram a exercer, no século XII, a partir de 1140, os cátaros tiveram a sua extinção decretada pela Igreja imperial, que não admitia que ninguém ousasse se contrapor aos seus desígnios, mandando uma força-tarefa de trinta mil homens fortemente armados, contra um povo  ordeiro, que foi totalmente dizimado, num verdadeiro genocídio.

  Sou de formação católica. Fui crismado aos 28 anos e aos 33 participei de um cursilho da cristandade. A história da Igreja sempre mereceu de mim um estudo acurado, portanto posso dizer que conheço relativamente bem a Igreja e por isso me atrevo a escrever este artigo. Embora tenha essa formação inicial, aos poucos, ao constatar a grande hipocrisia que norteia a ação da Igreja Católica, fui me afastando dela. Hoje não tenho mais nenhum resquício daquilo que recebi inicialmente.

   Pretendendo modernizar os seus ritos, a Igreja cometeu outro grande erro: quebrou a sua egrégora quando mudou o sistema de celebração da santa missa: colocando o sacerdote de frente para o público. O ritual obedecia a um ordenamento próprio – cabia e cabe aos assistentes, acompanhar a celebração, assistindo-a – porque a missa não é um espetáculo teatral, é uma celebração religiosa.

  A Igreja só vai começar a atingir a plenitude da sua missão, no meu entendimento, quando aceitar a reencarnação e eliminar o celibato clerical e os dogmas. A reencarnação foi excluída dos ensinamentos da Igreja durante a realização do II Concílio de Constantinopla quando Teodora, mulher do imperador Justiniano, pretendendo purgar os seus pecados e isentar-se de uma futura reencarnação probatória, agiu como o avestruz, determinando e conseguindo que a reencarnação fosse expurgada.Assim, constatamos: a Igreja Católica continua causando uma influência negativa na vida das pessoas por sua forma impositiva e obrigatória de determinar o  comportamento de todos.

   Veja-se, por exemplo, a questão do celibato clerical, que é uma determinação anti natural, que contraria totalmente a natureza do homem e também a da mulher, no caso das ordens clericais femininas. E contradiz ainda o mandamento bíblico: “crescei e multiplicai-vos”.A única denominação religiosa do mundo que exige o celibato de seus ministros é a Igreja Católica.

   O celibato foi instituído aos poucos; foi defendido em força pelo Quarto Concílio de Latrão (1215) e pelo Concílio de Trento (1545/1563) foi tornado obrigatório.Segundo a revista católica La Civilta Católica, desde o Concílio Vaticano II (1962/1965), perto de sessenta mil padres deixaram a Igreja.Os casos profundamente dramáticos do crescente tema da pedofilia têm como causa principal o celibato. A pedofilia na Igreja transformou-se em um problema sistêmico. O sacerdote católico  se vê premido pela exigência da sua condição sexual e não tendo como lhe dar vazão, acaba praticando atitudes tanto heterossexuais quanto homossexuais e os padres se vêem na contingência de um dilema existencial: obedecer ao que sua natureza exige e impõe ou submeter-se a uma disciplina rigorosa, castradora, anuladora?

   E pelo andar da carruagem, a situação continuará sendo regida pela incompreensão e pela rigidez de um sistema ultrapassado e opressor.

 

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Heitor Freire

Das Mulheres Bíblicas II

Na continuidade da saga das mulheres bíblicas, destacamos Mirian, irmã de Moisés – eles viveram em torno do século XV a.C., no Egito. Na época do nascimento de Moisés havia um decreto do Faraó determinando que os filhos varões dos judeus deveriam ser sacrificados.
Quando Moisés nasceu, sua mãe – temerosa do cumprimento do decreto real –  o colocou numa cesta e o fez descer pelo rio onde se banhava a irmã do rei, que era solteira. Esta acolheu o recém-nascido como uma dádiva dos deuses.
Mirian, a irmã do bebê, que escondida acompanhava o episódio, ofereceu  sua mãe como babá do bebê – e, assim, a verdadeira mãe passou a amamentar o próprio filho. Moisés teve uma educação real, como filho da irmã do Faraó.
Moisés, já com quarenta anos, ao assistir a um soldado egípcio  agredir um judeu, matou o soldado e fugiu,  refugiando-se na região de Madiã.
Ao chegar a essa região procurou um poço para matar sua sede, e  foi servido de água por Séfora – a quem havia salvado junto com as suas irmãs, de alguns agressores. Ela era filha de Jetro, um sacerdote de Deus, que ofereceu a  filha como esposa a Moisés.
De acordo com o historiador Flávio Josefo, a conquista de Sabá ( na região da Etiópia), teria trazido grande fama a um príncipe egípcio, Moisés.
Ele viveu quarenta anos com Séfora, em Madiã,  seguindo a orientação religiosa de Jetro. Após receber o Senhor que lhe apareceu na sarça ardente, Moisés voltou para o Egito para o cumprimento da missão religiosa que recebera de Deus.
Séfora foi  mulher de Moisés até a morte, sendo  um fator de amparo e de fidelidade que deu ao grande líder hebreu a força e a serenidade para enfrentar e vencer todos os desafios. É por isso que se diz: “atrás de um grande homem há, sempre, uma grande mulher”.
Mirian acompanhou seus irmãos Aarão e Moisés na jornada por todo o deserto.
Há uma controvérsia, quanto a uma possível segunda mulher de Moisés, pelo episódio da mulher cuchita – tudo leva a crer que era Séfora mesmo –,  em que Mirian rebelou-se juntamente com Aarão porque Moisés casara-se com uma mulher que não era hebréia, e foi punida por Javé com  a lepra, da qual só se livrou pela intercessão do próprio Moisés.  
Logo depois que os hebreus entraram na Terra Prometida, tiveram como dirigentes juízes que eram suscitados dentre o povo para dirigi-los.
Dentre os juízes, quem tem ligação histórica com as mulheres é Sansão – possuidor de uma força descomunal, citada no Antigo Testamento como um dom divino.
Primeiro Sansão casou-se com uma mulher filistéia, cujo nome não foi registrado pela história, com a qual não se entendia e acabou deixando-a. Quando quis voltar para reatar a relação, os pais dela não deixaram e ele para se vingar, capturou  trezentas raposas, preparou tochas e, amarrando cauda com cauda de cada duas raposas, prendeu nelas as tochas. Então acendeu as tochas e soltou as raposas nas searas dos filisteus, acabando com tudo o que estava plantado e até as vinhas e oliveiras.
Após esse episódio, Sansão apaixonou-se por Dalila, uma mulher do vale de Sorec.
Sansão parecia ter tendência a ser traído: por três vezes, questionado por Dalila, escondeu a verdadeira  origem de sua força, até que não agüentando mais a pressão, acabou dizendo a verdade – sua força extraordinária estava nos cabelos.
Dalila o havia embriagado para conseguir essa confissão e enquanto ele dormia, ela cortou-lhe os cabelos. Em conseqüência, Sansão perdendo a força, foi acorrentado, preso e teve os olhos vazados.
Depois de um tempo encarcerado, com os cabelos novamente crescidos, Sansão foi colocado como um troféu em exposição entre as colunas do templo, derrubando-o com sua força, o que levou à  morte todos os que lá estavam, inclusive  ele mesmo.
Davi é outro personagem de grande importância, que teve envolvimento com mulheres que marcaram a história contada na Bíblia.
Antes de seu reinado, Davi teve muitas disputas com os vizinhos de seu povo, e por isso  vivia em lutas constantes. Numa dessas ocasiões, tentou obter comida para os seus soldados com Nabal, rico proprietário de terras, a quem protegera anteriormente.
Este se negou a atendê-lo e, assim, Davi partiu com sua tropa para eliminá-lo. Abigail, mulher de Nabal, era muito linda, astuta  e inteligente. Ao saber da intenção de Davi, ela adiantou-se e ofereceu-lhe os mantimentos de que necessitava –  o que muito agradou a Davi que, por isso, deixou de perseguir  Nabal.
Quando Nabal voltou para  casa, ofereceu uma grande festa e embriagou-se. Ele era muito violento,  assim Abigail deixou para contar-lhe o sucedido no dia seguinte após a carraspana. Ao acordar e ser informado do acontecido teve uma síncope, da qual veio a morrer.
Ao saber disso, Davi, foi visitar a viúva e pediu-a em casamento. Ela aceitou, tornando-se, assim, sua primeira mulher.
Outra mulher de destaque na vida de Davi, já rei de Israel, foi Betsabé, mulher de Urias – general de seu exército –,  por quem ele se apaixonou e a engravidou.
Ao saber da gravidez de sua amada Betsabé, e para escondê-la, Davi mandou trazer Urias do campo de batalha onde se encontrava, e deu-lhe uma folga para que dormisse com  sua esposa, mas Urias, muito disciplinado, recusou a oferta, dizendo que não poderia coabitar com sua mulher enquanto seus soldados estavam em guerra. E assim, dormiu junto com os guardas do palácio.
Não satisfeito, Davi ofereceu-lhe um banquete e o embriagou, para ver se conseguia que  ele fosse deitar com Betsabé. Nem assim, Urias foi. Preferiu dormir outra vez com os guardas.
Vendo que não conseguia o seu intento, Davi mandou uma carta – pelo próprio Urias – a Joab, seu comandante em chefe, ordenando que colocasse Urias no ponto mais perigoso da batalha e aí o abandonasse, para que fosse morto. E foi exatamente o que aconteceu. Assim Betsabé ficou viúva. Depois se casou com Davi e foi mãe de Salomão, que viria a ser o famoso rei Salomão.

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Heitor Freire

Da Lógica Formal e Simbólica

Hoje, vou adentrar um terreno em que pontifica com muita competência a educadora Ângela Maria Costa. O ensino em nosso país claudica, em minha opinião,  porque não se preocupa em transmitir um conhecimento que permita aos alunos informações precisas a respeito da constituição do ser humano: corpo, mente e espírito –  limitando-se ao ensino das matérias da grade escolar e  de forma, posso dizer automática, pois não há inovação no conteúdo. É preciso sacudir essa mesmice.
A Grande Loja Maçônica do Estado de Mato Grosso do Sul, através de seu Grão-Mestre,  Izaías Gomes Ferro (1979/1982), ampliou socialmente a ação da Maçonaria com uma visão humanista na área da educação. Criou-se então por sua iniciativa a Funlec-Fundação Lowtons de Educação e Cultura, entidade que se propunha a administrar o setor educacional, incorporando uma escola  já criada, Raúl Sans de Matos. Hoje  existem mais cinco escolas da Funlec em várias regiões do nosso estado. Em Campo Grande, há também o ensino superior.
A esta iniciativa, eu, embora iniciante na vida maçônica, logo me associei, por ser um  entusiasta da educação.
De 1991  a 1994 e de 1997 a 2000 fui  chanceler da Funlec; de 1994 a 1997, vice-presidente. Ou seja, num período de nove anos, exerci um cargo de direção que me permitia propor e acompanhar de perto a vida dessa instituição modelar no ensino em nosso estado.
Tendo sempre um entendimento de que a educação, necessariamente, deveria ter uma abrangência maior, que não se limitasse unicamente ao ensino formal, desenvolvi um estudo através do qual foi criada uma disciplina que foi denominada CIÊNCIA DA VIDA. A proposta  era proporcionar algo mais, um plus, que distinguiria a instituição das demais.
A CIÊNCIA DA VIDA tinha uma proposta ousada, pretendia proporcionar aos alunos um conhecimento extra-curricular, voltada para despertá-los para a natureza intrínseca do ser humano, com uma característica que a diferenciava das matérias específicas, que são disciplinas com temas particulares e predeterminados.
Nosso objetivo era transmitir uma ciência universal, não só na horizontalidade, mas principalmente na profundidade e na verticalidade, com um conhecimento  da totalidade do ser, a partir dos seus princípios e fundamentos, para chegar ao seu sentido íntimo vital, com um viés de evolução constante, com o objetivo de chegar à sua verdade ontológica, ou seja, proporcionando aos alunos o auto-conhecimento.
Em outras palavras, a idéia era proporcionar o conhecimento a respeito do funcionamento da mente, da sua utilização como ferramenta para realização pessoal, do uso do pensamento como energia criadora e da imaginação como fonte geradora de meios de conscientização e de libertação.
A finalidade  era algo muito novo para os professores e  corpo pedagógico da Funlec de então e por isso teve inicialmente uma resistência muito grande. Pacientemente dediquei-me a procurar motivar os professores e fazê-los  entender o que se propunha.
Como era uma demanda do Chanceler houve uma aceitação forçada, mas com uma resistência subterrânea, oculta, mas persistente, demolidora. O que se constata hoje  na educação é a prevalência dos chamados “especialistas”, dando toda ênfase à administração escolar em detrimento da educação, que foi relegada a um terceiro ou quarto plano.
Como é difícil fazer com que as pessoas aceitem um caminho novo, com que saiam daquilo que está determinado, que trilhem novos caminhos. Enfim, não deu certo da forma como foi proposta, embora a Instituição continue galhardamente a sua trajetória. Foi criada em seu lugar a matéria Princípios Filosóficos que, a seu modo, também representa uma diferenciação.
Hoje o presidente da Funlec, dr. Mafuci Kadri,  está imprimindo uma grande evolução pedagógica e administrativa. O Chanceler atual é  o dr. Jordão Abreu da Silva Júnior.
Numa conversa recente com o dr. Moysés do Amaral, diretor regional do IHGMS, em Corumbá, falávamos sobre a  situação  da educação em nosso país. Nessa ocasião, ele  falou a respeito do ensino no país vizinho, a Bolívia. Informando-nos que lá se ensina nos colégios secundários Lógica Formal  e Simbólica, apresentando-nos um livro sobre esse tema de autoria do professor de Filosofia Juvenal Canedo Chavez,  que em 1988 já estava em sua vigésima edição.
A abordagem do livro começa com uma introdução ao estudo da filosofia, passando pelo pensar (conteúdo e forma dos pensamentos), teoria do juízo, princípios lógicos, teoria da razão, silogismo, concluindo com a dialética, tendo assim um conteúdo bastante amplo e diversificado.
Meus leitores, senti uma “santa” inveja ao constatar que na Bolívia há uma visão educacional abrangente e de certa forma semelhante à que tentei implantar na Funlec e que não consegui. Talvez eu tenha falhado na formulação da proposta, não sei, o fato é que  não deu certo. Não sob a forma da proposta original.  E ao mesmo tempo, que alegria de ver que no país vizinho – apesar de todas as dificuldades que enfrenta – o conhecimento prolifera.

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Heitor Freire

Das Mulheres Bíblicas I

Na Bíblia Sagrada, as mulheres têm papel destacado. Como, aliás, em toda a história da humanidade. Mulher é sempre fundamental.
Desde o princípio, a mulher exerceu um papel que transcende à sua própria existência. Por exemplo, Eva, a primeira de todas, segundo a Bíblia. Sem entrar no mérito das suas ações, é indiscutível  sua importância que marcou a história do mundo. Adão a chamou de Eva, por ser a mãe de todos os viventes.
Eva deu a Adão a maçã da “árvore proibida” que ao ser comida, abriu-lhes os olhos. O fruto era da árvore do conhecimento, e ao se verem nus, usaram folhas de parreira com que cobriram suas nudezes. Mas em que e por que a nudez do ser humano é causa de constrangimento e de pecado? Não há aí uma contradição e uma base para que a Igreja encontrasse uma maneira de criar um dogma para penalizar a todos? Tanto que a Bíblia, quando se refere à genitália feminina trata-a como “suas vergonhas”. Bom, essa é uma pergunta que deixamos no ar, pois o nosso assunto hoje é a mulher bíblica.
A segunda mulher a ter uma influência destacada é Sara, mulher de Abrahão. Esta, já de idade avançada e sem ter procriado, oferece sua escrava Agar, para que o seu marido pudesse ter uma descendência. Dessa relação nasce Ismael, pai da raça árabe e também dos doze filhos que deram nome às doze tribos árabes. Assim, da descendência do mesmo  Abrahão nasceram os árabes e mais tarde, os hebreus –  adversários históricos desde aqueles tempos até hoje.
Quando Agar se sentiu dona da situação, passou a menosprezar Sara, que cobrou uma definição de Abrahão. Ele afastou a escrava e apoiou a esposa.
Quando Agar se viu abandonada, orou a Javé, o qual mandou um Anjo para ampará-la e dizer-lhe que da sua descendência nasceria uma raça, a árabe. Daí a sua importância na História.
Quanto a Sara, foi mãe de Isaac –  fruto de uma gravidez milagrosa, pois Abrahão já contava com cem anos e ela com noventa –, que veio a ser o embrião dos hebreus.
Na sequência da cronologia bíblica, surge Rebeca, mulher de Isaac e mãe dos gêmeos Esaú e Jacó. A importância de Rebeca vem desde a procura de Isaac por uma esposa até encontrá-la e também da sua participação em episódios de fundamental relevância: a ajuda a Jacó para enganar Isaac já de idade avançada a conceder-lhe a bênção da primogenitura – ato irrevogável –. Esaú ao descobrir a trama, revoltou-se e mais uma vez Rebeca ajudou seu filho preferido a escapar da ira do irmão mais velho.
Na fuga, Jacó dirige-se ao país onde vive Labão, irmão de sua mãe. Lá chegando buscou trabalho que lhe foi ofertado por Labão. Este tinha duas filhas: Lia e Raquel.
Jacó enamorou-se de Raquel e pediu a Labão a mão dessa filha em casamento. Labão concordou, desde que o pretendente trabalhasse para ele por sete anos. Jacó concordou.
Passados os sete anos, Jacó exigiu o cumprimento do tratado. Preparou-se a festa do casamento. As noivas naquela época usavam um véu que cobria todo o rosto. Após a comemoração, quando Jacó se preparava para as núpcias conjugais, ao levantar o véu se viu frente a frente com Lia, que era a irmã mais velha de Raquel.
Ante esta situação Jacó se revoltou e foi tomar satisfações com Labão, que, tranquilamente lhe disse que havia uma tradição que determinava: “a filha menor só poderia se casar quando a mais velha já estivesse casada. Termine esta semana de núpcias e eu lhe darei também a outra em troca do serviço que você me fará durante outros sete anos”. E assim foi. Jacó aceitou, casou-se com a sua amada e cumpriu mais sete anos de trabalho. Este episódio está também imortalizado num belo poema de Camões.
Lia tinha como serva Zelfa,  e a de Raquel se chamava Bala. A vida das filhas de Labão sempre foi de confronto e ciúmes. Lia procriava e Raquel não. Como passou a se sentir desprezada, Raquel ofereceu sua serva Bala a Jacó :“una-se a ela para que ela dê à luz sobre os meus joelhos. Assim terei filhos por meio dela”. Jacó, então, teve dois filhos com a serva de Raquel. Estava inaugurada a barriga de aluguel.
Quando Lia deixou de procriar, para não perder a primazia também ofereceu a Jacó  sua serva Zelfa – que também lhe deu dois filhos – e  Jacó deve ter-se sentido  envaidecido por dispor das criadas com  anuência e beneplácito de suas esposas.    
Raquel mais tarde daria à luz  José e  Benjamin.
As mulheres bíblicas cuja saga continuaremos a relatar aos nossos leitores são maravilhosas, lindas, conscientes, dedicadas, capazes, submetendo-se ao sacrifício, se fosse necessário, corajosas sem medo de morrer pelo seu povo, como vamos verificar com a participação de cada uma na história do povo hebreu. Aqui cabe um esclarecimento: hebreu é o descendente de Abraham; israelita é quem nasceu em Israel e judeu é quem professa a religião judaica.